Acesso ao principal conteúdo
Convidado

Angola: Laboratório solidário para travar doenças parasitárias

Publicado a:

Aniceto Gomes, franco-angolano, é técnico de análises clínicas em Paris e desde há três anos que pretende abrir um laboratório de microbiologia e parasitologia na aldeia de Calenga Njolo, na província do Huambo, em Angola. Em entrevista à RFI, Aniceto Gomes explica que o projecto pretende responder às necessidades da população local que ainda se vê privada de um diagnóstico preciso no caso de doenças provocadas por parasitas.

Aniceto Gomes, técnico de análises clinicas em Paris, nos estúdios da RFI, 9 de Janeiro, 2023.
Aniceto Gomes, técnico de análises clinicas em Paris, nos estúdios da RFI, 9 de Janeiro, 2023. © rfi
Publicidade

RFI: Como é que surgiu a ideia de criar um laboratório de microbiologia e parasitologia na aldeia de Calenga Njolo, na província do Huambo, em Angola?

Aniceto Gomes: Em Angola já tinha trabalhado como técnico de análises clínicas, nessa altura trabalhei com uma organização internacional, que estava no país, experiência que acabou por facilitar na minha vinda para França.

Em França [enquanto técnico de análises] pude constatar que existe uma grande diferença entre os diagnósticos realizados em Angola e aqueles que são feitos nos laboratórios franceses. Esta situação levou-me a avançar com o projecto de criar um laboratório em Angola e a ajudar o país a desenvolver-se nesta área da saúde.

Quais serão as principais valências deste laboratório?

Estamos a fazer este laboratório na aldeia do Calenga Njolo, a 60 km da província do Huambo. Nesta aldeia a população é precária e quando os pacientes procuram alguns cuidados de saúde não têm um diagnóstico preciso. Com a abertura de um laboratório de microbiologia vamos melhorar muito o diagnóstico dos pacientes. A ideia é colaborar igualmente com o centro de saúde de Longonjo, mesmo com a província do Huambo, para podermos responder com mais eficiência nos resultados das análises clínicas feitas no laboratório.

De acordo com os últimos dados disponíveis da Organização Mundial de Saúde, em 2020 morreram 16 mil pessoas, em Angola, devido à malária. Em 2021, Angola integrava a lista dos 30 países com mais casos de tuberculose. Esta realidade revela que o país tem um problema ao nível das doenças provocadas por parasitas?

É verdade. Em Angola ainda se encontra muita dificuldade no diagnóstico e tratamento do paludismo, de doenças bacterianas, incluindo a tuberculose.  

Existe ainda a resistência das bactérias aos antibióticos…

A maior parte das províncias angolanas não tem laboratórios de microbiologia. Numa situação normal, o paciente consulta o médico e os laboratórios de bacteriologia fazem os antibiogramas, os chamados testes de sensibilidades aos antibióticos. Como não se fazem essas análises os pacientes tomam os antibióticos de forma empírica, aumentando a resistência das bactérias aos antibióticos e agravando as situações de doença.

Que serviços serão disponibilizados aos utentes?

Os pacientes chegam ao laboratório com a receita das análises. Em seguida é realizada a colheita e depois a análise será enviada para o médico. O objectivo é que o paciente seja tratado com mais eficiência. Prevemos realizar análises de bacteriologia, desde a colheita até às análises de sensibilidades dos antibióticos. Queremos também contratar um médico para trabalhar no laboratório, mas está a ser difícil encontrar a pessoa certa. Angola não tem muitos médicos especializados nesta área.

Muitos angolanos, por questões financeiras, renunciam aos tratamentos. Qual será a vossa solução para este tipo de comportamento?

Nós estamos a conceber um laboratório solidário. É preciso não esquecer que as pessoas desta aldeia não têm condições económicas para pagar este tipo de análises. Vivem de forma precária. Por essa razão, as pessoas que não têm meios financeiros serão tratadas gratuitamente, alguns pagarão consoante as suas condições e outros, com mais possibilidades, vão participar mais para perenizar o laboratório.

Angola tem técnicos suficientes para trabalhar nesta área, ou terão de recorrer a técnicos angolanos no estrangeiro?

O nosso projecto é formar os técnicos de análises, uma vez que a grande parte não tem conhecimento nesta área. Pretendo ainda estabelecer uma colaboração com a Escola de Técnicos do Huambo para formar técnicos e mais tarde, se for possível,  ampliar este projecto para o Hospital Regional do Huambo, A ideia é capacitação as unidades de saúde para que estas possam responder a este problema.

Quais é que têm sido as principais dificuldades na concepção deste projecto?

A ideia de avançar com este projecto surgiu em 2019, mas com a pandemia do Covid-19 não consegui viajar para Angola. Em 2021, com a ajuda da população, conseguimos construir o laboratório. Agora precisamos de “forrar” um poço, uma vez que na aldeia não existe água potável. Também não existe energia, vamos ter de instalar paineis solares para a energia eléctrica.

Contudo, a grande dificuldade é a falta de fundos. Ainda não temos fundos suficientes para pormos o laboratório a funcionar. Estamos à procura de ajuda, sobretudo aqui em França, para podermos instalar o laboratório.

Tem recebido algum apoio das autoridades angolanas ou francesas?

Até ao momento, ainda não recebi qualquer ajudar nem das autoridades angolanas, nem francesas. Tenho estado a lançar contactos, mas ainda não deram frutos. Todavia, a Associação Biologistas Sem Fronteiras está a ajudar com arrecadação de material e também contamos com o apoio da Ong ABCD.

Para abertura deste centro são precisos cerca de 120 mil euros. O Aniceto lançou um apelo a donativos. Como é que está a correr esta angariação de fundos?

Está a ser um pouco difícil. No período invernal é complicado estar a distribuir panfletos para dar a conhecer o projecto. O facto de não ser um projecto associativo levanta muitas vezes dúvidas sobre a credibilidade do projecto. Por isso, aproveito esta ocasião para lançar um apelo, às pessoas que nos escutam, para nos ajudarem.

Para as pessoas que queiram participar, como é que podem fazer?

Temos uma página na internet https://www.cotizup.com/labo-semgo-huambo-angola onde está toda a informação sobre o projecto e sobre a recolha de fundos. As pessoas que querem contribuir também nos podem enviar um e-mail labomicrobio2022@gmail.com.

 

Assista aqui à entrevista!

Aniceto Gomes, técnico de saúde franco-angolano nos estúdios da RFI, 9 de Janeiro de 2023
Aniceto Gomes, técnico de saúde franco-angolano nos estúdios da RFI, 9 de Janeiro de 2023 © Neidy Ribeiro

NewsletterReceba a newsletter diária RFI: noticiários, reportagens, entrevistas, análises, perfis, emissões, programas.

Acompanhe toda a actualidade internacional fazendo download da aplicação RFI

Ver os demais episódios
Página não encontrada

O conteúdo ao qual pretende aceder não existe ou já não está disponível.