São Tomé e Príncipe: "Uma pessoa não vai para um golpe de Estado de calção e chinelo"
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Isaac era dançarino, participou em publicidades da CST, a Companhia Santomense de Telecomunicações, e participou também nos acontecimentos de 25 de Novembro. Isaac integra a lista de vítimas mortais do ataque ao quartel do Morro. Ao microfone da RFI, a família falou de um filho "preocupado e excelente” e apelou a que se faça justiça.
Isaac era dançarino, participou em publicidades da CST, a Companhia Santomense de Telecomunicações, e participou também nos acontecimentos de 25 de Novembro. Isaac integra a lista de vítimas mortais do ataque ao quartel do Morro. Mas não são as imagens de Isaac que continuam a passar na televisão nacional que agora preenchem os dias da família.
Eleutéria, a actual mulher e a mãe do filho mais novo de Isaac, garante que o marido “não ia fazer uma coisa dessas”. Não acredita que se tratou de uma tentativa de golpe de estado e pede justiça “nós queremos justiça, saber o que na realidade aconteceu com todos eles. O que que aconteceu?”.
Quem também não acredita na versão das autoridades é Eulália, a mãe de Isaac. Sublinha as dificuldades para procurar justiça e, ao microfone da RFI, lembrou o filho "preocupado e excelente” que diariamente, ao meio-dia, passava no trabalho da mãe.
"Como é possível terem entrado no quartel? Têm de ter ‘cabeceiro’ lá dentro. Não levaram armas… uma pessoa não vai para um golpe de estado de calção e chinelo. (...) O meu filho era excelente. Eu trabalho no comando da polícia e ele todos os dias, às 12h00 passava lá. Perguntava: ‘mamãe já comeu, já almoçou, já tomou o pequeno-almoço? Era muito preocupado. Ainda estou aqui sem trabalhar porque quando voltar a trabalhar, às 12H00 ele não vai aparecer.“
Osvaldo Afonso é um pai de olhar triste que soube pelas redes sociais da morte violenta do filho, sem forças e de coração carregado de dor, diz que entrega a justiça nas mãos de Deus.
“Um advogado é um pouco difícil, porque os advogados, hoje em dia, exigem um salário, uma coisa que nós temos como pagar. Não temos condições. Para mim, a minha justiça é entregar na mão de Deus. Só Deus pode fazer justiça."
A 25 de Novembro, de acordo com as autoridades, quatro civis tentaram atacar o quartel militar de São Tomé. Quatro pessoas foram torturadas e mortas, com vídeos dos actos a circularem na internet.
Há dois processos de instrução preparatória em curso, um que investiga o assalto ao quartel, e conta com 17 arguidos, e outro para investigar a tortura e mortes ocorridas nas instalações militares. Até ao momento, a Procuradoria-Geral da Republica não detalhou o número de detenções, interrogatórios ou prisões no processo por homicídio e tortura.
No início da Semana, o representante regional do Alto-Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos na África Central, Nouhoum Sangaré, em entrevista à RFI tinha sublinhado a “incompreensão total por não terem sido interrogadas nem detidas as pessoas que torturaram até a morte, cujos rostos são perfeitamente visíveis nas fotografias e vídeos, não tenham sido interrogadas nem detidas. A maioria ainda continua no posto a exercer as suas funções.”
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