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"Sanções visam dificultar venda de petróleo russo"

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Entrou esta segunda-feira, 5 de Dezembro, em vigor a decisão dos países da União Europeia, juntamente com o G7 e a Austrália, de impor um preço máximo de 60 dólares por barril, para a importação de petróleo vindo da Rússia, por via marítima. Sandra Dias Fernandes, especialista da Rússia ligada à Universidade do Minho, considera que a medida vai dificultar a venda de petróleo russo a outros mercados para além do europeu.

Entrou esta segunda-feira, 5 de Dezembro, em vigor a decisão dos países da União Europeia, juntamente com o G7 e a Austrália, de impor um preço máximo de 60 dólares por barril, para a importação de petróleo por via marítima, a partir da Rússia.
Entrou esta segunda-feira, 5 de Dezembro, em vigor a decisão dos países da União Europeia, juntamente com o G7 e a Austrália, de impor um preço máximo de 60 dólares por barril, para a importação de petróleo por via marítima, a partir da Rússia. REUTERS - TATIANA MEEL
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RFI: Que impacto terá a decisão de impor um preço máximo de 60 dólares por barril, para a importação de petróleo por via marítima, a partir da Rússia?

Sandra Dias Fernandes: O embargo e a decisão de impor um preço máximo vai fazer com que a Rússia tenha mais dificuldades em vender o seu petróleo para outros mercados que não o europeu. O transporte do petróleo implica navios com seguros, por exemplo, o acesso às facilidades portuárias e estima-se que 90% das seguradoras são de países do G7. Se o petróleo for vendido acima desse “tecto”, não será possível prestar esse serviço de seguro, obrigando a Rússia a vender menos petróleo e a um preço abaixo daquilo que é, neste momento, o preço de mercado do petróleo russo.

De acordo com jornal Financial Times, Moscovo terá já preparado uma frota de petroleiros comprados à Venezuela e ao Irão para vender os seus produtos fora dos países que aplicam estas sanções. A Rússia vai conseguir contornar estas sanções?

A Rússia já contorna várias sanções [que lhe foram impostas]. Esta decisão dos 27 Estados membros da União Europeia, que já é aplicada pelos Estados Unidos, Canadá, Austrália e Reino Unido, vai daqui a dois meses atingir não só o crude, mas também o petróleo refinado. Se observarmos, neste momento, as curvas de venda do petróleo russo verificamos, por um lado, uma diminuição abrupta no que se refere o abastecimento ao mercado europeu e, por outro lado, constatamos um crescimento no fornecimento do petróleo à China e à Índia.

A grande questão é saber se existe capacidade para um redireccionamento tão consequente, uma vez que a Rússia- o segundo maior exportador mundial de crude- mantinha uma grande relação com o mercado europeu. Importa também lembrar que há países, nomeadamente os países Bálticos, que já cortaram completamente a relação energética com a Rússia.

A prazo, ao nível das decisões políticas, percebemos qual é o caminho. Quanto às consequências, a ideia é continuar a comprar petróleo à Rússia, mas tentar diminuir ao máximo a capacidade de Moscovo conduzir a guerra na Ucrânia. É neste equilíbrio que nós nos encontramos. Até que ponto é que a Rússia vai contornar as sanções? Isso é algo que ainda não conseguimos medir hoje. Não sabemos como é que os países da Organização dos Países Exportadores de Petróleo-OPEP- vão reagir. Há um encontro agendado para o final desta semana.

Tudo isto são variáveis que ainda estão por definir e que nos vão mostrar até que ponto a Rússia será atingida ou não. Recordo que aquilo que a Rússia encaixou, desde o início da guerra, com a venda de petróleo à União Europeia, é pouco mais do que o orçamento russo militar. Ou seja, a renda da venda de petróleo aos europeus equivale ao orçamento russo de defesa anual.

A medida de fixar um preço máximo de 60 dólares por barril não agradou à Ucrânia, que queria que o preço fosse limitado a 30 dólares, nem à Rússia, que ameaçou cortar completamente os fornecimentos. Esta é a medida foi a medida possível e expõe, mais uma vez, a dependência energética da Europa?

A dependência energética da Europa é uma realidade. Houve erros políticos na gestão desta dependência, erros assumidos pela Alemanha. No entanto, temos estado a assistir a novas políticas rumo à transição energética.

O kremlin já veio dizer que esta decisão não vai ter qualquer impacto na ofensiva de Moscovo na Ucrânia, alertando contra uma desestabilização do mercado mundial de energia...

Este é um cenário possível, embora a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, tenha vindo dizer que, pelo contrário, se prevê uma estabilização dos mercados energéticos. Agora quanto às declarações do Kremlin, as autoridades russas também afirmam que se trata de uma guerra justa, que foi atacada pela Ucrânia desde 2014 no Donbasd e que está a ganhar esta guerra. Temos sempre que relativizar as palavras que vêm do Kremlin. Porém, há aqui uma possibilidade da Rússia contornar outros mercados. O país anunciou outro tipo de seguros, permitindo que os navios naveguem com as cargas de petróleo russo.

As próximas semanas serão decisivas para se perceber até que ponto o mercado energético mundial fica estabilizado ou destabilizado. Até que ponto a venda de petróleo russo será afectada, sendo que o impacto para a Europa é claro. Dois terços do petróleo russo vão deixar de chegar ao continente europeu através do mercado russo.

Nos últimos tempos, a população russa tem vindo a defender a retoma das negociações de paz com a Ucrânia. Considera que Vladimir Putin, enfraquecido pelas sanções económicas, possa ceder à pressão da população?

Desde que a guerra começou [24 de Fevereiro], Vladimir Putin tem vindo a demonstrar que não tem preocupações económicas. Se é certo que o mês de Setembro trouxe uma alteração profunda da posição da população, com a aprovação do decreto de mobilização da população para a frente da guerra, não devemos esquecer que estamos a falar de um regime autoritário. Penso que o efeito que vem da rua não se fará sentir sobre a liderança de Vladimir Putin.

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