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Jorge Bom Jesus pede “maioria absoluta” nas eleições legislativas

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O líder do MLSTP-PSD e primeiro-ministro cessante de São Tomé e Príncipe, Jorge Bom Jesus, diz acreditar “piamente” no voto de confiança dos são-tomenses para continuar o que descreve como “ciclo virtuoso para o desenvolvimento” do país. Na corrida às eleições legislativas de 25 de Setembro, Jorge Bom Jesus pede "maioria absoluta" e faz um balanço positivo do seu mandato, argumentando que o seu governo “prestou muita atenção às pessoas” em tempos de pandemia e crise.

Jorge Bom Jesus, Líder do MLSTP-PSD
Jorge Bom Jesus, Líder do MLSTP-PSD © MLSTP-PSD
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RFI: Que balanço faz do mandato cessante?

Jorge Bom Jesus, Líder do MLSTP-PDS: Primeiro, nós salvámos vidas. E naturalmente que salvámos o emprego, salvámos a dignidade das pessoas e, neste momento, estamos já na saída da pandemia, não obstante toda a problemática internacional, o contexto da crise, da guerra, da subida dos preços, entre outros. Nós conseguimos estabilizar a doença com ajuda dos parceiros internacionais naturalmente, contámos com um grande cordão de solidariedade e generosidade durante este período. Contámos também com, digamos, a entrega, a abnegação do governo, outros órgãos de soberania e, sobretudo, da nossa população da nossa diáspora. De facto, conseguimos vencer, entre aspas, a doença.

Também durante este período salvámos o emprego, pudemos subsidiar as empresas de forma a que não houvesse despedimentos em massa, nós apoiámos o sector informal, portanto, as palaiês [vendedoras ambulantes], os motoqueiros, os pequenos empresários, os artesãos, entre outros. Aumentámos o salário mínimo de 1.100 dobras para 2.500, aumentámos a pensão mínima em mais de 200 dobras, de 600 para 800 dobras. Portanto, o governo prestou muita atenção às pessoas, ao capital humano. Saúde, educação, a protecção social, houve muito investimento feito a esse nível porque acaba por ser o maior activo de São Tomé e Príncipe. Somos escassas 220 mil almas. A diferença entre o MLSTP, este governo, e os outros, é precisamente a primazia que nós damos ao sector social, a dignificação dos são-tomenses através de vários projectos às famílias. Neste momento, nós estamos a apoiar 16.000 famílias através de apoio social com cerca de mais de 50 euros por mês.

É por isso que acha que os são-tomenses vão voltar a confiar em si?

Acredito que sim. Piamente. Este governo aumentou, em plena pandemia, o salário mínimo em mais de 100%, sem esquecer os vários apoios que nós temos dado. Portanto, os são-tomenses saberão reconhecer todo o esforço que nós fizemos para dignificar e quebrarmos, digamos, os paradigmas e abrirmos um novo ciclo virtuoso para o desenvolvimento de São Tomé e Príncipe.

Como perspectiva os próximos desafios, nomeadamente na saúde, na energia, no emprego?

Criámos as condições para, sobretudo, dar início aos projectos estruturantes: o porto de águas profundas, a nossa ilha precisa de um porto acostável, de um porto de águas profundas para poder alavancar o seu desenvolvimento. Em termos de energia, nós já inaugurámos a transição energética a partir de um projecto-piloto do PNUD, mas temos vários outros projectos em termos de energias limpas com o sector privado, nalguns casos, associação público-privada.

Inaugurou, em Agosto, a primeira central fotovoltaica do país. Ao mesmo tempo, este é o ano do primeiro furo petrolífero na zona económica exclusiva. Isto não é andar para trás?

Não, creio que não. Nós estamos a tomar todas as precauções e naturalmente este petróleo acaba por ser uma bênção também para podermos aplicar noutras áreas de desenvolvimento. Sabe, estas ilhas são ilhas verdes de esperança e queremos ser os verdadeiros amigos do ambiente. Tudo o que nós fazemos é salvaguardando o nosso ambiente, mas vamos precisar desta dádiva da natureza para podermos alavancar outros aspectos e tirando sempre ilação dos erros que os outros cometeram. Nós estamos numa sub-região, Golfo da Guiné, há muitos países que já exploram o petróleo e vamos naturalmente acautelar com os erros cometidos.

Um grande problema em São Tomé e Príncipe é o acesso aos cuidados médicos. Quais os projectos?

Nós depois de termos ultrapassado este período da pandemia, em primeiro lugar, com o apoio do Fundo Global, vamos ter que investir ao nível do HIV-Sida, a malária e a tuberculose nos próximos quatro anos. Mas também há um projecto de reabilitação, modernização do Hospital Ayres Menezes, é um projecto antigo, com alguma polémica à mistura mas, neste momento, nós já conseguimos resgatar o projecto, já há um desenho feito, a associação de uma empresa internacional e empresas locais. Neste momento, está lançado o concurso público e esperamos poder investir nesse hospital cerca de 17 milhões de dólares para modernizá-lo.

O senhor primeiro-ministro chegou a admitir que a "nova maioria" composta pelo MLSTP/PSD, PCD-MDFM-UDD, sofreu um “ligeiro abalo” com a derrota do seu candidato na segunda volta das presidenciais, Guilherme Posser da Costa. Está disposto a fazer novamente alianças?

O futuro a Deus pertence. O MLSTP há 22 anos que não governa sozinho, portanto, em maioria absoluta. Desta vez, estamos a pedir justamente a maioria absoluta. Estamos a pedir a maioria absoluta de forma a que o MLSTP possa estar mais confortável. Mas São Tomé e Príncipe é de todos nós. Estou aberto para, enfim, poder também negociar, em diálogo, seja em maioria, terei que conversar com os outros partidos porque temos de encontrar viabilidades para São Tomé e Príncipe.

Algumas figuras eminentes do MLSTP-PSD que concorreram às presidenciais de 2021, ficaram de fora destas eleições, como a ex-primeira-ministra Maria das Neves, a ex-ministra dos Negócios Estrangeiros Elsa Pinto. Havia uma divisão no partido? Houve uma limpeza?

Não, de forma nenhuma, de forma nenhuma. O MLSTP é um partido grande, é um partido de gerações que está a comemorar os seus 50 anos este ano e tem espaço para toda a gente e tem sido uma escola de democracia. Temos estado a trabalhar ao nível da congregação, da unidade, da coesão interna e o que acaba de dizer não corresponde à realidade. Ainda no último fim-de-semana eu estava no congresso da JMLSTP [Juventude do MLSTP] de Água Grande de mãos dadas com a camarada Elsa Pinto e que está neste momento no terreno a trabalhar. Esse é o espírito do MLSTP. Naturalmente nós continuaremos a conversar e a ir buscar outros camaradas também porque o objectivo é, de facto, encontrarmos uma solução para o país e todos somos poucos, não é, todos não somos demais para a ingente tarefa que nos espera.

Neste mandato houve vários diferendos com o Presidente da República, por exemplo, na aprovação do código das actividades francas e offshore, no recenseamento eleitoral, na exoneração do governador do banco central. Como é que perspectiva a nova coabitação?

Em São Tomé e Príncipe somos todos parentes, somos todos primos e eu acho que estamos condenados a trabalhar em conjunto. Ao nível dos órgãos de soberania, é verdade que há separação dos poderes, mas há uma interdependência. Todos os órgãos, respeitando as balizas constitucionais, vamos ter que trabalhar. Portanto, é nessa perspectiva que vai-se melhorando aquilo que estiver menos bem feito. E acredito que sim, eu sou um homem de diálogo, se assim não fosse teria muita dificuldade em terminar a legislatura em coabitação, por um lado, e, depois, com uma coligação de quatro partidos.

Em Dezembro, o Movimento de Cidadãos Independentes instou o Presidente da República a demitir o senhor primeiro-ministro face às denúncias do ex-presidente Fradique Menezes de que os partidos da "nova maioria" criaram uma firma para comercialização do arroz oferecido pelo Japão. Estas suspeitas mancharam, de algum modo, o seu trabalho?

No calor de um congresso, creio eu, de forma leviana, foi lançada esta calúnia contra o governo, mas isto não teve pernas para andar. Não corresponde à verdade o que disse o Presidente na altura. Inclusivamente houve desculpas que foram dadas depois e tudo isso. Esse caso está ultrapassado.

 

 

Eleições legislativas, autárquicas e regional a 25 de Setembro

As eleições legislativas, autárquicas e regional são a 25 de Setembro. Dez partidos e uma coligação vão concorrer às eleições legislativas: Movimento de Libertação de São Tomé e Príncipe / Partido Social Democrata (MLSTP/PSD), Acção Democrática Independente (ADI), Movimento Basta, Movimento Democrático Força da Mudança/União Liberal (MDFM/UL), União para a Democracia e Desenvolvimento (UDD), Cidadãos Independentes para o Desenvolvimento de São Tomé e Príncipe (CID-STP), Movimento Unido para o Desenvolvimento Amplo de São Tomé e Príncipe (Muda-STP), Partido Novo, Movimento Social Democrata/Partido Verde de São Tomé e Príncipe (MSD-PVSTP), Partido de Todos os Santomenses (PTOS) e a coligação Movimento de Cidadãos Independentes/Partido Socialista/Partido da Unidade Nacional (MCI/PS-PUN). Nestas legislativas, os são-tomenses vão eleger 55 deputados à Assembleia Nacional, incluindo dois que pela primeira vez serão eleitos pelos círculos eleitorais da Europa e da África.

Na sequência das legislativas de 2018, o MLSTP/PSD e a coligação PCD-UDD-MDFM formaram a chamada “nova maioria” e constituíram governo, liderado por Jorge Bom Jesus. Nessas eleições, o ADI foi o partido mais votado, com 25 deputados, seguido pelo MLSTP/PSD, que conseguiu 23 assentos. A coligação então formada pelo PCD, pela UDD e o MDFM foi a terceira formação mais votada, obtendo cinco mandatos. O MCI/PS ocupou dois lugares no Parlamento.

A RFI falou com os líderes das 11 forças políticas que concorrem às legislativas e vai publicar uma entrevista por dia. Acompanhe aqui.

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