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Abertura de Embaixada em Rabat pode revelar "interesses comuns com Marrocos"

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Cabo Verde acaba de inaugurar a sua Embaixada em Rabat, em Marrocos, e um consulado em Dakhla, no Saara Ocidental. Esta antiga colónia espanhola, administrada por Marrocos, continua à espera desde a década de 70 por um referendo de autodeterminação sob os auspícios das Nações Unidas.

Cabo Verde Rabat
Cabo Verde Rabat © Odair Santos
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Marrocos esteve afastado do cenário africano, após um afastamento estratégico da antiga Organização da Unidade Africana (OUA) em 1984, como forma de protesto contra a atribuição de um assento à Frente Polisário, um movimento armado fundado em 1973 para lutar contra a ocupação espanhola e posteriormente marroquina.

Com a decisão de reintegrar a [nova] organização em 2017, o país revelou ao mundo as suas novas diretrizes diplomáticas e geoestratégicas, que colocam ênfase na questão sarauí como fundamental para restabelecer a “integridade territorial” do reino.

Em que medida é que Cabo Verde deixou de apoiar a Frente Polisário e aceitou a soberania marroquina no Saara Ocidental? Esta é a pergunta à qual começa por responder o professor universitário Daniel Medina, explicando que esta mudança foi motivada pelas necessidades económicas de Cabo Verde, que é dependente do exterior.

“Cabo Verde no que diz respeito à sua política externa, tem ultimamente feito uma procura de aberturas ao mundo, particularmente no que diz respeito às crises. Na procura de sanar crises tem criado parcerias, novos acordos e cooperações diversificadas que são necessárias. Cabo Verde já vai no seu quinto ano de seca, esperemos que este ano a seca seja minorada, mas temos as crises mundiais que têm afectado Cabo Verde como um país extremamente dependente do exterior e é necessário criar parcerias e acordos de forma diversificada.

Abrir uma embaixada em Rabat pode ser uma estratégia de influência em África. Cabo Verde, em termos de democracia, é um país bem cotado como democracia, mas termos de sustentabilidade carece de muita influência e de muitas procuras e saídas, portanto isso tem os seus interesses comuns entre Marrocos e Cabo Verde.”

Por muito tempo, Saara Ocidental e Timor Leste andaram de certa forma de mãos dadas nesta luta para poder exercer o seu direito de autodeterminação. Timor Leste já conseguiu, mas resta o Saara Ocidental.

Questionado sobre a possibilidade desta decisão sepultar o apoio de Cabo Verde, o professor respondeu que esta posição representa uma inversão de atitude que não é convincente, dado ao facto de Cabo Verde ter beneficiado deste direito em 1975.

“Cabo Verde defendeu durante muitos anos, eu lembro-me que nos anos 80, mesmo 90, quando havia conflitos no Sara Ocidental, [Cabo Verde] defendeu sempre a autodeterminação dessa pequena parcela do mundo. Neste momento, com a abertura do consulado com ligação Marrocos parece que há uma inversão dessa tendência, uma inversão de atitude e a percepção que é de conivência com a nesse aspeto. A nós, tanto como observadores, como analistas, parece-nos uma perspectiva não convincente, uma perspectiva que em início deva merecer bastantes críticas, principalmente Cabo Verde que beneficiou da autodeterminação em 1975, como país que lutou pela sua independência.

Ouça aqui a entrevista na íntegra.

08:05

Daniel Medina sobre a Embaixada de Cabo Verde em Marrocos, 01/09/2022

Cabo Verde Rabat
Cabo Verde Rabat © Odair Santos

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