Acesso ao principal conteúdo
Convidado

"Gorbatchev permitiu que África se abrisse para um multipartidarismo"

Publicado a:

Mikhail Gorbatchev faleceu nesta terça-feira com 91 anos. O último dirigente da URSS (União das Repèublicas Socialistas Soviéticas) tem estado a ser saudado de um ponto de vista internacional, conhecido como uma figura incontornável em relação à abertura do regime e a subsequente queda do Muro de Berlim. 

Mikhaïl Gorbatchev em Moscovo no dia 7 de Novembro de 1989.
Mikhaïl Gorbatchev em Moscovo no dia 7 de Novembro de 1989. AP - Boris Yurchenko
Publicidade

A Perestroika e a Glasnost de Gorbatchev, conceitos defendendo a liberdade de expressão e a transparência, mudaram a face do mundo, e em larga escala as relações internacionais.

Os países africanos de língua oficial portuguesa mantinham com Moscovo laços muito estreitos, ligados à respectiva luta de libertação. Como é que a notícia do desaparecimento de Mikhail Gorbatchev é aí acolhida

Eis alguns elementos de resposta com Jamisse Caemo, presidente do Instituto de Governação, Paz e Liderança de Moçambique, que começa por se referir ao apoio soviético em relação aos movimentos de libertação dos países lusófonos em África.

Os interesses de Estado são movidos para além de simplesmente de interesses individuais. As relações que nós mantivemos, de Moçambique, dos PALOP, eram relações que tinham em primeiro lugar o apoio ao processo de libertação. A URSS como Estado hegemónico naquela altura da Guerra Fria também era questão de como estar dentro de uma sociedade bipolar como aquela que se colocava naquela altura.

As relações existentes entre os dois países, Moçambique e URSS, eram relações de facto na busca de construção de uma sociedade justa, olhando aquilo que eram as opções políticas e ideológicas então. Logo depois da independência de Moçambique, o partido no poder FRELIMO, declarou-se marxista-leninista. Olhando naquela época, a União Soviética era um praticamente um país marxista, leninista, ou que foi dirigido por Lenine.”

Mikhail Gorbatchev passou os últimos anos de sua vida em isolamento, ao lado da sua família e amigos próximos. Figura emblemática para o mundo, o líder é, porém, visto por muitos russos como um traidor por ter sido a pedra angular do desmembramento da União Soviética em 15 repúblicas. 

Questionado sobre o legado de Gorbatchev para os países africanos, Jamisse Caemo salientou o papel fundamental do último líder da União Soviética na abertura dos novos regimes africanos com tendências autoritárias para uma nova era de multipartidarismo.

"Gorbatchev, hoje, pode não ter algum significado para determinados sectores da Rússia, mas há um significado que ele merece no curso da história. Ele permitiu que os países africanos, que eram presos a uma ideologia de partido único pudessem se abrir para um multipartidarismo, para uma democracia multipartidária. Eu acho que este é um contributo que deve ser lembrado de Gorbatchev, como algo que é benéfico e permitiu ampliar a participação da popular na vida do seu destino."

Ouça aqui a entrevista na íntegra.

08:23

Jamisse Caemo sobre o falecimento de Mikhail Gorbatchev, 31/08/2022

Gorbatchev & Ronald Reagan
Gorbatchev & Ronald Reagan AP - Doug Mills

NewsletterReceba a newsletter diária RFI: noticiários, reportagens, entrevistas, análises, perfis, emissões, programas.

Acompanhe toda a actualidade internacional fazendo download da aplicação RFI

Ver os demais episódios
Página não encontrada

O conteúdo ao qual pretende aceder não existe ou já não está disponível.