Cabo Delgado parece "mais uma guerra económica do que uma guerra política" segundo Paulina Chiziane

Segundo um novo balanço divulgado esta semana pelas Nações Unidas, o conflito no norte de Moçambique, continua a agravar-se. Nesta terça-feira, a ONU referiu que o total dos deslocados resultantes do ataque contra a localidade Palma, em Cabo Delgado, no passado mês de Março, foi aumentando até chegar às 68 mil pessoas, sendo que há relatos de que a situação permanece instável naquela vila.

Escritora Moçambicana Paulina Chiziane, em Maputo em Maio de 2021. © Liliana Henriques / RFI

Ainda segundo as Nações Unidas, a falta de alimentos, abrigo e acesso a cuidados são outras das problemáticas enfrentadas não só pelas populações afectadas directamente pelo terrorismo mas igualmente pelas comunidades que as acolhem. Ao todo, de acordo com a ONU, mais de 900 mil pessoas estão em insegurança alimentar severa.

Perante esta situação, contudo, o governo moçambicano refere que está a controlar a situação com a ajuda de parceiros internacionais como Portugal.

Numa entrevista concedida recentemente em Maputo, a escritora moçambicana Paulina Chiziane deu o seu sentimento sobre este conflito vigente há mais de 3 anos e meio.

A autora cuja obra evoca os conflitos do passado no seu país, julga que Cabo Delgado está perante "uma situação que parece ser mais uma guerra económica do que uma guerra política". Questionada sobre o envio de tropas estrangeiras, Paulina Chiziane considera que "isto requer uma reflexão cautelosa".

Ao referir-se ao tratamento jornalístico dado a este conflito em Moçambique, Paulina Chiziane que encetou em Maio um segundo mandato como membro do Conselho Superior da Comunicação Social, comenta que "existem muitos órgãos que tiram proveito da situação, fazem as coisas mais incríveis com as imagens e com a vida das pessoas". Na sua óptica, é preciso "uma maior humanização" no tratamento deste conflito na comunicação social.