No passado dia 9 de Março, em Portugal, foi reeditado o periódico "O Negro", jornal estudantil lançado exactamente no dia 9 de Março de 1911 por jovens activistas africanos que lutavam contra o racismo e a opressão. Estávamos numa época de contradições, com a primeira República e os seus ideais democráticos a varrer o antigo regime ao mesmo tempo que se reforçava a política colonial de Portugal.
"Não queremos continuar a ser enganados, porque estamos fartos de pagar, estamos fartos de tutores, de salvadores e senhores e tudo o que aspiramos é aprender a orientar as nossas ideias e a libertar-nos de todas as formas de tirania e exploração com que nos têm escravizado", foi deste modo que no primeiro número do jornal "O Negro", os estudantes, entre os quais se encontrava por exemplo o jovem Ayres de Menezes que viria a ser mais tarde o médico que dá nome ao hospital de referência do seu país, se propunham reflectir sobre as incoerências da época.
O jornal teve apenas três edições mas marcou duradoiramente as gerações seguintes. Anos mais tarde, na Casa dos Estudantes do Império fundada durante a segunda guerra mundial em Lisboa, outros estudantes com a mesma chama viriam a lançar os movimentos nacionalistas africanos.
110 anos depois da primeira publicação do jornal "O Negro", um grupo de estudiosos, José Augusto Pereira, Pedro Varela e Cristina Roldão decidiram reeditar este periódico para abanar as consciências com questionamentos que continuam de actualidade.
Em entrevista à RFI, uma das iniciadoras desta reedição, Cristina Roldão, socióloga ligada ao Instituto Universitário de Lisboa que trabalha nomeadamente sobre os processos de exclusão e racismo institucional que tocam os afrodescendentes na sociedade portuguesa, evoca a história do jornal "O Negro", publicação disponível em algumas livrarias de Lisboa ou igualmente em versão PDF online.
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