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África: os momentos que marcaram o ano de 2020

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A pandemia no mundo com foco em África, os Luanda Leaks, as autárquicas em Cabo Verde, a dimensão internacional do conflito em Cabo Delgado, São Tomé e Príncipe e a suspensão do turismo - o balanço deste ano de 2020 no continente africano.

OIM dá assistência às populações deslocadas em Pemba, no norte de Moçambique.
OIM dá assistência às populações deslocadas em Pemba, no norte de Moçambique. AFP - SANDRA BLACK
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Em Angola, a crise sanitária associada à crise económica criou uma “tempestade perfeita” que atrasou a recuperação do país. A 27 de Março João Lourenço declara estado de emergência.

Dois meses antes da pandemia, Angola foi abalada pelo Luanda Leaks, que revelava que Isabel dos Santos, a filha do antigo-Presidente José Eduardo dos Santos, a mulher mais rica de África tinha desviado mais de 100 milhões de dólares da Sonangol.

"O coronavírus e o impacto que teve na vida das pessoas veio juntar-se à crise económica já existente em Angola. Outro aspecto importante (deste ano de 2020) foi a luta contra a corrupção. Foi um ano em que Isabel dos Santos viu o seu património ser arrestado em Angola", sublinha o jornalista angolano, Rafael Marques.

No dia do 45º aniversário da Independência de Angola, a repressão policial voltou a ser violenta, o jovem estudante Inocêncio de Matos foi morto, tornando-se um símbolo da revolta em todo o país.

"Nós queremos um país no qual as pessoas se manifestem livremente e houve um período de brutalidade policial, apesar disso é preciso reconhecer que a partir de Novembro, depois da morte de Inocêncio de Matos, as manifestações passaram a acontecer com normalidade", lembrou o jornalista.

"Em Cabo Verde a Covid-19 tem sido relativamente benigna, de um ponto de vista de saúde pública temos sofrido perdas, mas o sistema de saúde tem-se aguentado. O nosso pior problema foi económico porque o país se viu sem a sua maior fonte de rendimento; de exportações e emprego derivados do turismo e sobretudo do comércio informal que é essencial para muitas famílias", lembra a escritora e analista política cabo-verdiana, Rosário da Luz.

Há três anos que Cabo Verde atravessava uma seca severa,  em Setembro o arquipélago registou chuvas fortes que destruíram casas e infra-estruturas essenciais, sobretudo na ilha cabo-verdiana de Santiago. 

"Neste ciclo eleitoral, as autárquicas precederam as legislativas que serão para o ano. As eleições autárquicas funcionaram como um barómetro do clima político e foi um chumbo terrível para o partido que detém a maioria no Parlamento. Houve uma enorme taxa de abstenção, nenhuma candidatura preencheu as expectativas dos eleitores. Cabo Verde é um país pobre e é um país onde as pessoas votam porque têm esperança de mudança e se as pessoas não votam é porque já não acreditam nos políticos", lembrou a analista política.

Na Guiné-Bissau, 2020 era o ano da estabilidade política, depois das eleições de 2019. A primeiro de Janeiro, o PAIGC do candidato Domingos Simões Pereira não aceita os resultados eleitorais e recorre ao Supremo Tribunal de Justiça.

O braço de ferro entre o Supremo Tribunal de Justiça e a Comissão Nacional de Eleições precipitou a tomada de posse de Umaro Sissoco Embaló como chefe de Estado

"O contexto da disputa política em países extremamente frágeis acaba por projectar o Estado como uma entidade que deve ser açambarcada e quem perde, perde tudo e quem ganha, ganha tudo.. limitando a margem de manobra quer dos mecanismos de produção de oposição política, mas ao mesmo tempo também um certo exercício de poder baseado na legitimidade da força e não na coesão social", descreveu o sociólogo guineense Miguel de Barros.

Em três anos, Cabo Delgado registou 500 ataques atribuídos ao grupo terrorista auto-proclamado Estado Islâmico. Só este ano, Moçambique registou mais de 400 mil pessoas deslocadas. O conflito no norte do país ganhou uma dimensão internacional, lembra Adriano Nuvunga, do Centro para a Democracia e Desenvolvimento.

"Dos cerca de 500 ataques que foram realizados nos últimos três anos, mais de dois terços dos ataques realizaram-se este ano de 2020. O conflito em Cabo Delgado e o escalonar e a dimensão internacional deste conflito aconteceu este ano e foi um momento chave de 2020", lembrou Adriano Nuvunga. 

"Desde que Moçambique é Nação nunca tinha visto o país assustado como o vi quando se decretou o primeiro estado de emergência. Pareceu-me que havia uma oportunidade política para conduzir o país com maior coesão e com um sentido colectivo para se enfrentar o problema, mas isso não aconteceu", lamentou o analista.

A 4 de Março, São Tomé e Príncipe começa a fechar fronteiras. O arquipélago viveu 2020 praticamente sem turismo, esta é a maior fonte de rendimento do arquipélago, lembra o sociólogo são-tomense Olívio Diogo; "Para um país como São Tomé e Príncipe que tem uma marcação suprema porque o pais vive do turismo com a Covid-19, o turismo entrou em decadência e isso mexeu com a nossa economia".

O continente africano viveu um ano turbulento com o golpe de Estado no Mali contra o antigo presidente Ibrahim Boubacar Keita,os combates na região do Tigré - 50 mil habitantes do Tigré refugiaram-se no Sudão, a reeleição contestada de Faure Gnassigbé no Togo. Um ano marcado ainda pela detenção em Paris de Félicien Kabuga, "financiador do genocídio de Ruanda", Évariste Ndayishimiye vence as presidenciais no Burundi, pela morte do líder da Al-Qaida no Magreb Islâmico. A morte do primeiro-ministro da Costa do Marfim, Amadou Gon Coulibaly e a reeleição contestada de Alassane Ouattara.Presidencias sob tensão na Guiné e a reeleição de Alpha Condé.

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