Um pouco mais de 30 milhões de eleitores tanzanianos (sobre uma população de 58 milhões de habitantes) foram chamados hoje às urnas para escolher os seus deputados mas também o seu Presidente. Na corrida à magistratura suprema estão 15 candidatos, entre os quais o presidente cessante, John Magufuli, que briga um segundo mandato, o seu principal rival sendo Tundo Lissu que denunciou desde já irregularidades neste escrutínio.
No poder desde 2015, aos 60 anos aquele que responde à alcunha de "Bulldozer" disputa um novo mandato de 5 anos com as cores do "Chama Cha Mapinduzi" (CCM - Partido da Revolução), partido que tem estado sempre no poder desde a independência do país em 1961. Do outro lado do xadrez político, o seu mais sério adversário é o opositor Tundo Lissu, candidato do Chadema (Partido para a Democracia e o Progresso) que, após um exílio de três anos subsequente a uma tentativa de assassinato, regressou há alguns meses para fazer frente a um Chefe de Estado que tem sido acusado de deriva autoritária.
Apesar de um balanço económico saudado internacionalmente, com previsões de crescimento de 1,9% este ano, o Presidente cessante que destaca igualmente a luta contra a corrupção, a extensão da educação gratuita ou ainda o lançamento de novas infra-estruturas, não tem deixado de ser isento de críticas. Neste quadro que faz figura de excepção em plena pandemia, o poder de John Magufuli tem precisamente ocultado a situação da covid-19 no país. Ainda no passado mês de Junho, o Presidente declarou que "o vírus tinha sido totalmente eliminado por Deus graças às orações dos tanzanianos".
Os detractores do Chefe de Estado também apontam o recuo dos Direitos Humanos, as detenções de activistas e jornalistas, a eliminação física de opositores, a proibição de encontros políticos fora dos períodos eleitorais, bem como o encerramento de jornais. Neste contexto, a oposição expressou ainda hoje receios de que o processo eleitoral possa não ser totalmente justo, ao destacar nomeadamente que vários membros da Comissão Eleitoral foram directamente nomeados pelo Presidente.
Ainda ontem, em vésperas das eleições, o próprio embaixador americano no país, Donald Wright declarou na rede Twitter ter ficado "alarmado com informações provenientes de Zanzibar e outros pontos do país, sobre violências mortes e detenções". Com efeito, no caso específico de Zanzibar, ontem a oposição acusou as forças de segurança de terem abatido 10 pessoas, o que a polícia desmentiu. Neste arquipélago semi-autónomo dirigido pelo partido que também está no poder a nível central, os eleitores foram consultados hoje para eleger o seu próprio executivo e o seu parlamento, numa altura em que a oposição independentista tem vindo a ganhar protagonismo.
Ao fazer uma radiografia pouco auspiciosa da situação vivenciada nos últimos cinco anos pela Tanzânia, Silvério Ronguane, professor e Vice-Reitor da Universidade São Tomás de Moçambique, mostra-se pouco optimista quanto ao desfecho do processo eleitoral desta quarta-feira. "Quando um povo está acostumado a uma relativa democracia, ao respeito das liberdades fundamentais, quando se rompe isto em nome de um nacionalismo e em nome da economia, isto não nos augura boas coisas", considera o investigador.
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