Carlos G. Lopes celebra "a riqueza" da dupla cultura no álbum "Azul"
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O cantor franco-cabo-verdiano Carlos G. Lopes lançou este mês o seu novo álbum "Azul" e em entrevista à RFI falou sobre a importância de cantar pela primeira vez em francês e crioulo, a saudade e a presença cada vez maior de Cabo Verde em França.
Carlos G. Lopes descreve o seu novo álbum "Azul" como fogo-de-artifício, uma mistura de jazz e R&B com os sons tradicionais de Cabo Verde como o funáná, criando "uma nova onda", diferente do seu primeiro álbum "Kanta Pa skece". Uma grande diferença é também cantar pela primeira vez em francês, língua que é sua desde os 10 anos, altura em veio viver para França.
"Eu tinha vontade de fazer um disco onde pudesse cantar tanto em francês como em crioulo português e também criar algo novo, numa nova onda, porque o meu primeiro álbum era algo mais acústico. Este álbum foi escrito durante a pandemia, tanto em França, como em Lisboa, como em Santiago, em Cabo Verde. A coisa incrível é que a maior parte da música em francês foi escrita nos países onde não se fala francês, ou seja, Portugal e Cabo Verde", explicou em entrevista à RFI.
Cantar e escrever nas duas línguas é natural para quem tem memórias nos dois países.
"Para mim é natural escrever em francês e tenho emoções e lembranças em francês, tal como tenho também lembranças em português e em crioulo, que é a minha língua de infância. O meu primeiro álbum foi só em crioulo e agora sinto falta de misturar estas duas emoções e o próximo álbum vai ter mais língua portuguesa", indicou.
Para o cantor, esta dupla cultura é "uma riqueza".
"É uma riqueza esta dupla cultura porque tenho a possibilidade de pensar e analisar as coisas em várias línguas. Eu gosto de falar português, de falar francês, inglês ou espanhol, é algo muito bom para a abertura do espírito. Quando estou em França sinto falta de Santiago ou em Lisboa", declarou.
O primeiro avanço deste álbum é "Sodadi", um tema maioritariamente cantado em francês, com o vídeo a ter sido gravado em Cabo Verde, na aldeia de onde é originário o músico.
"Eu tinha vontade que o primeiro clip do álbum Azul fosse feito onde eu nasci, na ilha de Santiago, numa zona que se chama Pico Vermelho e era algo importante para completar a minha caminhada porque a música é mais em francês, há só um pouco em crioulo. E eu queria mostral como num postal que eu canto em francês, mas é daqui que eu venho e a importância da mistura da língua e da poesia. Algo que é totalmente natural", disse.
"Azul" é também uma ponte entre o passado, o presente e o futuro da música de Cabo Verde com participações de Zeca Di Nah Reinalda, conhecido como o Rei do Funáná, e o rapper Takinuz. Para Carlos G. Lopes o contributo dos artistas na diáspora serve também para enriquecer a histórica da música cabo-verdiana.
"O que os artistas me dizem é que os artistas da diáspora estão a transformar a música de Cabo Verde e eu acho que não é algo novo. A diáspora transforma o que é tradicional. Há mais de 40 anos que é assim, com quem estava em Lisboa ou em Roterdão. Nessa altura já havia muitos grupos e artistas cabo-verdianos que ouviam outros estilos de música como rock, jazz e tocar com músicos de outras origens", contou.
Em França, a música cabo-verdiana tem feito uma grande progressão especialmente graças ao trabalho de Cesária Évora e das suas equipas que mudaram a imagem do país em terras gaulesas.
"Não sei se os artistas cabo-verdianos têm consciência do trabalho da Cesária Évora e da sua equipa porque quando cheguei a França com 10 anos, ninguém sabia onde era Cabo Verde a Cesária fez uma trabalho fantástico que dá vontade às pessoas de descobrirem o país", declarou.
No dia 01 de Dezembro, Carlos G. Lopes vai fazer o lançamento ao vivo do seu álbum, em Paris, no Studio Ermitage, esperando actuar já em 2024 em salas em França, Portugal e Cabo Verde.
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