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Artes

“Sinais Particulares” da bailarina moçambicana Mai-Júli Machado

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A bailarina moçambicana Mai-Júli Machado apresentou, na semana passada, na livraria 7L, em Paris, o seu primeiro solo “Sinais Particulares”.  Uma performance sobre mutilação genital feminina e casamentos forçados. A luta do que é ser mulher em África que partiu de uma memória de infância.

A bailarina moçambicana Mai-Júli Machado apresentou na livraria 7L, em Paris, o seu primeiro solo “Sinais Particulares”.
A bailarina moçambicana Mai-Júli Machado apresentou na livraria 7L, em Paris, o seu primeiro solo “Sinais Particulares”. © Cristiana Soares
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A bailarina moçambicana Mai-Júli Machado apresentou, na semana passada, na livraria 7L, em Paris, o seu primeiro solo “Sinais Particulares”.  Uma performance sobre mutilação genital feminina e casamentos forçados. A luta do que é ser mulher em África que partiu de uma memória de infância.

“Sinais Particulares” de Mai-Júli Machado sobre novamente ao palco na próxima terça-feira, 14 de Maio, pelas 18h00, no Théâtre Public de Montreuil. 

Que peça é esta?

Esta peça chama-se “Sinais Particulares” e fala sobre a mutilação genital feminina e a exploração sexual da mulher em África. 

É o seu primeiro solo?

Sim, é o meu primeiro solo, o meu primeiro desafio, a primeira vez que eu desafiei-me a fazer uma peça e está a ter bons resultados. 

Porquê esta temática? 

Tem uma pequena história que eu conto no início, que é da minha família, que é uma história muito pessoal minha. Não é uma história que eu levei de alguém, mas é a minha história que eu tento não defender, tento só colocar na mesa e procurar respostas para o que eu não tive quando era criança. 

Que história é essa?

Quando eu era mais nova, tinha o sexo um bocadinho… a minha família dizia que era diferente, eu não sei se é verdade. Então, fizeram-me muitas questões, queriam saber o que era e fui buscando isso. Esta memória é associada à mutilação genital feminina e à exploração da mulher, da criança em casamentos precoces. E falo mais das temáticas que existem com a mulher em África. 

É uma imagem antiga, é uma memória. Porquê ir buscar esta memória? Há uma necessidade também de ter respostas para si, de encontrar uma paz ou de pôr a questão em cima da mesa?

Eu acho que é para encontrar uma paz, porque foi o meu primeiro desafio. Foi em Moçambique. Disseram-me que queriam que as jovens mulheres criassem algo e eu não tinha ideia. Tinha muito receio, tinha muito medo porque nunca tinha criado nada. Então surgiu esta ideia de ir buscar esta memória e poder falar, colocar na mesa e sem julgamentos, sem defesas. Mas para encontrar uma paz e respostas. 

É uma temática que traz muito a peito? 

Sim, muito. Estando aqui na França, agora, vejo muita coisa que acontece em Moçambique que passa despercebido, mas que também é violência. Então é um tema que não termina por aqui. Eu ainda estou a investigar, porque a cada dia vou aprendendo e vou descobrindo mais coisas. 

Além da questão da mutilação genital feminina, também fala dos casamentos forçados e dos casamentos infantis. 

Sim, em Moçambique a mutilação até que não é tão presente. Talvez lá no norte. Eu sou do sul e nunca fui ao norte. Tanto que até tive um bocadinho de dificuldades no início de encontrar material para defender esta mutilação. Mas baseei-me na internet. 

Mas a questão dos casamentos ainda acontece. Nas zonas mais recônditas ainda acontecem estes casamentos forçados. A mulher, que é a criança, que é forçada a casar em troca de bens, os pais praticamente vendem as filhas. Isto ainda acontece. 

Ainda continua a ser difícil ser-se mulher, de uma forma geral no mundo, em África, muito mais?

Com certeza, em África muito mais. Há muita pressão, muita pressão. Eu, por exemplo, sou bailarina, viajo muito e sempre que vou a Moçambique vejo as minhas amigas ou têm um filho ou casaram. Não é só por isso, mas é uma pressão também por ser mulher. 

As exigências… aqui na Europa é um bocadinho diferente. Ajuda-me porque tenho a oportunidade de abrir a minha mente e conhecer outra realidade que não só a da África. Mas ainda é um desafio e ser uma mulher bailarina que viaja é sempre um desafio, mas estamos aqui e vamos continuar a lutar. 

Sobre esta performance específica aqui, numa biblioteca, rodeada de livros, e ao mesmo tempo com o público mesmo muito próximo de si, como é que se sente? 

Na verdade, eu sempre fui um bocadinho relaxada, Nunca tive muito nervosismo, mas fiquei nervosa. Primeiro, o espaço é incrível, tem muitos livros, é diferente. Eu esperava mais um palco, mas aqui foi um espaço readaptado e as pessoas estavam muito próximas. E a peça é muito intimista, muito mesmo. Eu via as pessoas a não olharem, a virarem a cara e não sabia se não estavam a gostar ou  se era dor. 

Então, em algum momento criou-me perguntas dentro da performance, mas tinha que continuar. Claro que eu soube ultrapassar, mas foi estranho ver que as pessoas não queriam olhar, então criou-me questões. Também acho que é um bom feedback.

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