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Artes

Pongo: “Foi uma luta para chegar aqui”

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O público subiu ao palco para dançar “Wegue Wegue” e Pongo desceu até ao público para cantar “Uwa”. A cantora luso-angolana voltou a Paris, a cidade que relançou a sua carreira, depois de dez anos afastada dos palcos. Pongo esteve na sala La Cigale, a 18 de Novembro, para mostrar o seu novo trabalho, Sakidila, que significa obrigada. Uma gratidão quase mística pela força que a música lhe deu para realizar o seu sonho, enfrentar dificuldades e transmitir um exemplo de luta, sobretudo às mulheres.

Pongo nos bastidores da sala La Cigale, em Paris, a 18 de Novembro de 2022.
Pongo nos bastidores da sala La Cigale, em Paris, a 18 de Novembro de 2022. © Carina Branco/RFI
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“Sakidila significa obrigada, gratidão, em kimbundo” começa por contar Pongo, horas antes de subir, mais uma vez, ao palco La Cigale, em Paris, que teve sala esgotada, a 18 de Novembro. “É sakidila, gratidão, por essa força, por conseguir chegar aqui e realizar um dos meus sonhos”, descreve.

“Tenho gratidão pela luta e todo o caminho que eu fiz até aqui para conseguir lançar o meu primeiro álbum a solo, apesar de já ter tido dois EP’s, mas um álbum é aquela responsabilidade maior de qualquer artista”, diz a cantora e compositora.

O caminho não foi nada fácil. A sua vida tem sido uma luta, desde a saída em criança de uma Angola em guerra, às dificuldades que passou em Portugal, até à conquista do seu espaço a solo no mundo da música. Aos 15 anos, Pongo foi a voz de uma canção que correu mundo e que ainda hoje deixa o público ofegante. Compôs e cantou Kalemba (Wegue Wegue) quando estava nos Buraka Som Sistema, mas depois desapareceu dos palcos durante mais de dez anos. Em 2018, Pongo regressa com um EP, Baia. Dois anos depois, lança o segundo EP, UWA, mas aparece a pandemia para atrasar o primeiro álbum que acaba por surgir em Abril de 2022 e se chama Sakidila. Numa das músicas, Começa, Pongo canta “Mesmo na elite avacalho, sou genuína não falho, dez anos depois eu comando”.

Durante dez anos estive em várias lutas diferentes, principalmente por ter este lugar que o Wegue Wegue me proporcionou desde o início da minha carreira, quando comecei com os Buraka. Mas ali não tive o reconhecimento e tive de lutar também pelos meus direitos de autor sobre a música. Isso levou dez anos e dez anos não é pouca coisa. Ainda assim, fui buscar forças onde nem imaginava que podia ter e por isso é que eu digo, de alguma forma, que acreditei em mim, não desisti daquilo em que eu acredito, principalmente a verdade, e vim até aqui. E claramente eu comando dez anos depois! [Risos] Isso é dizer que somos maiores que qualquer dificuldade e qualquer obstáculo que a gente tenha no nosso caminho. É não desistir e continuar a acreditar”, conta.

E a culpa é da música: “A música é uma arte que sempre teve uma importância na minha vida de uma forma geral.” Por isso, Pongo reitera que “foi uma luta para chegar aqui”, algo que ecoa em Hey Linda, outro tema de Sakidila, quando canta “Hey Linda, tu sabes que és a diva, não deixes ninguém duvidar, és a primeira a acreditar”.

“Hey Linda é mais uma oração. Todas as mulheres do mundo devem olhar ao espelho e reconhecerem-se, como todas as mulheres, fortes e as mais lindas. Não deixem que ninguém cause a dúvida sobre isso”, aconselha.

O publico francês tem-na recebido calorosamente, tanto em salas de concerto, quanto em festivais e até no Palácio do Eliseu onde chegou a cantar, em 2019, a convite de Emmanuel e Brigitte Macron. A relação que tem com França é, por isso, “muito forte”, e o seu regresso aos palcos tem sido acompanhado por produtores franceses. “É uma relação de uma conexão muito profunda. Para já, foi um grande desafio para mim, a nível pessoal e profissional, ter recomeçado tudo a partir deste mercado francês e ter sido recebida com esse calor - que eu sinto como se fosse uma família – foi uma ponte importante de França para o mundo. De novo. Ou seja, é um recomeço, começo de França a rever todo o meu contacto com o mundo”, conta. No fundo, foi "um regresso aos palcos e um retomar da carreira a partir de França e de França encontrar toda a outra família do mundo inteiro”.

Os EP’s Baia e UWA tinham mostrado que o kuduro - ou neo-kuduro como já classificou a imprensa francesa - continua a ser a sua grande referência. Sakidila segue o mesmo caminho, mas há muito mais, desde amapiano, baile funk, afrobeat, electro, reguetón e pop mais melódica. Ritmos de diferentes países que dão uma certa universalidade à sua música. Talvez para “cantar para Angola e para o mundo inteiro”, como diz em Wegue Wegue? A resposta é imediata: “Exacto, canto para Angola e para o mundo inteiro! A fusão de ritmos e culturas de todo o mundo é combustível, é o que mais me move.”

Desde o lançamento de Sakidila, Pongo não tem parado, com concertos em Portugal, França, Alemanha, Noruega, Dinamarca, Reino Unido, Espanha, Holanda, Bélgica, Suíça, Canadá... Em Dezembro, vai a Angola. “Vou voltar à minha terra. Desde o 'recomeço’ será a primeira vez que vou a Angola. Vou tocar no Top Music Angola, é a gala do Music Awards angolano. Estou super, super feliz e mal posso esperar. Sakidila! Sakidila mundo! Sakidila todos que fazem parte desse reencontro e todos os que têm chegado! Só tenho a agradecer. Sakidila mundo!”

Oiça a entrevista neste programa ARTES. 

17:32

Sakidila Pongo ARTES

 

 

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