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50 anos do 25 de Abril

Joaquim Chissano: "25 de Abril foi uma vitória dos portugueses, mas também das colónias em luta"

Portugal assinala esta quinta-feira os 50 anos da Revolução dos Cravos. Com o golpe militar do 25 de Abril de 1974, abriu-se uma nova era para Portugal, mas também para as suas antigas colónias em África com as quais o regime salazarista estava em guerra havia mais de 10 anos. Apesar de Portugal ter acumulado naquela época uma série de derrotas no teatro de guerra e apesar da mudança de regime, a luta activa não tinha terminado para as então colónias. 

Antigo Presidente de Moçambique, Joaquim Chissano, Maputo, Junho 2023.
Antigo Presidente de Moçambique, Joaquim Chissano, Maputo, Junho 2023. © RFI/Lígia Anjos
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Joaquim Chissano, antigo Presidente de Moçambique, era na altura um combatente da Frelimo, partido que lutava pela independência do país. Quando soube da notícia do 25 de Abril pela rádio, ele estava num campo de treino na Tanzânia. Ele recorda esse dia histórico.

"Conhecíamos o estado de espírito das tropas portuguesas nesse ano, mas fomos surpreendidos pela rapidez com que a coisa se fez. Em 1974 ouvimos na rádio o anúncio do golpe de Estado em Portugal e nós ligamos isso talvez às manobras daqueles que queriam um outro tipo de descolonização. Portanto, não estava muito claro. Foi aquela reacção que nós tivemos de dizer 'bom pode haver um golpe de Estado em Portugal, mas isso não resolve o problema colonial.' Portanto, o que é preciso é resolver o problema colonial. A independência de Moçambique é que era o objectivo. Isso foi no próprio dia que alguns colegas camaradas que estavam perto comentaram e comentamos todos. Depois começámos todos os contactos e vimos que havia uma oportunidade boa para se chegar a um resultado bom. Portanto, estivemos sempre disponíveis para o diálogo com o novo governo. E assim foi. Portanto, quando isso aconteceu, ficamos com alegria, mas não tivemos a correspondência necessária na delegação portuguesa de então. E foi preciso então andar por uma série de contactos que nos levaram a uma segunda ronda e à última ronda, que foi a assinatura do Acordo de Lusaca. Isto encheu-nos de alegria. Mas foi de curta dura, porque no mesmo dia em que assinámos, houve sublevações aqui em Maputo, Lourenço Marques de então, e foi um momento dramático. Mas pronto, conseguimos acalmar os ânimos. Então proclamamos a independência em 75" lembra o antigo Presidente.

Na óptica de Joaquim Chissano, a guerra de libertação então vigente havia mais de uma década minou o ânimo das forças armadas portuguesas e contribuiu para a ideia de uma mudança de regime ganhar força. "O 25 de Abril, penso que foi uma vitória dos portugueses, mas também foi uma vitória das colónias portuguesas que estavam em luta. O estado de espírito -de que eu falei- do exército português deriva dessa luta que havia connosco, mas também teve um resultado positivo no sentido de que foram os que estavam com armas na mão dos dois lados que se sentaram à mesa. Na segunda ronda, quem veio nos encontros intermediários fomos nós da Frelimo, porque éramos político militares, e foram os das Forças Armadas de Portugal, que depois tiveram este resultado. O que foi bom porque criou uma atmosfera para esse bom relacionamento entre Portugal e Moçambique" comenta o antigo chefe de Estado moçambicano.

Olhando retrospectivamente para todos estes acontecimentos, Joaquim Chissano mostra-se satisfeito com o desfecho do processo que conduziu o seu país rumo à independência. "Eu penso que o que se passa é aquilo que nós desejamos. Logo no princípio que tivéssemos relações de países iguais e soberanos, que se respeitam e que criam amizade. E nós temos essa amizade, não só através da CPLP, mas também nas relações bilaterais e já há bastante tempo conseguimos realizar esse sonho. Portanto, eu penso que as relações estão boas e vão continuar a estar boas. A visita do nosso presidente a Portugal nessa altura é uma indicação da vontade do povo moçambicano de continuar com boas relações com o povo português, que é uma nação igual e independente", conclui Joaquim Chissano.

Após 10 anos de guerra, a 25 de Junho de 1975 foi proclamada a independência de Moçambique, colocando o ponto final a mais de 400 anos de ocupação portuguesa. Uma independência alcançada através dos Acordos de Lusaca rubricados a 7 de Setembro de 1974 pelas autoridades portuguesas resultantes do 25 de Abril e a Frelimo. No quadro destes acordos, o Estado Português reconheceu formalmente o direito do povo moçambicano à independência e consagrou o princípio da transferência de poderes, um processo que se concluiu quando Moçambique se tornou um Estado soberano em Junho de 1975.

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