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Médio Oriente

Blinken enceta visita no Médio Oriente em pleno recrudescimento da violência

O Secretário de Estado Americano Antony Blinken encetou este domingo no Cairo a primeira etapa de uma deslocação relâmpago pelo Médio Oriente que deve conduzi-lo na segunda e terça-feira em Jerusalém e Ramallah para se avistar com as autoridades israelitas e palestinianas. Esta visita programada de longa data coincide com a recente chegada ao poder do governo mais à direita jamais formado em Israel, o recrudescimento da violência na região e o receio de uma terceira Intifada.

O secretário de Estado Antony Blinken na universidade americana do Cairo, neste domingo 29 de Janeiro de 2023.
O secretário de Estado Antony Blinken na universidade americana do Cairo, neste domingo 29 de Janeiro de 2023. AP - Mohamed Abd El Ghany
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O Chefe da diplomacia dos Estados Unidos, país que é o principal aliado de Israel, chega ao Médio Oriente num momento conturbado. Com efeito, na quinta-feira, Israel abateu 10 palestinianos na Cisjordânia, no âmbito de uma operação cujo objectivo invocado era evitar um ataque que alegadamente estaria em preparação do lado palestiniano. Logo depois, na sexta-feira, 7 pessoas morreram num ataque contra uma sinagoga em Jerusalém e, neste sábado, 2 outras pessoas foram feridas noutro ataque na mesma cidade.

Em resposta aos ataques ocorridos em Jerusalém, as autoridades israelitas anunciaram num primeiro tempo o reforço da sua presença militar na Cisjordânia, os militares do Estado hebreu tendo morto hoje um palestiniano nessa zona, argumentando que o indivíduo estava armado.

Por outro lado, ontem à noite, as autoridades israelitas anunciaram igualmente medidas visando privar "as famílias dos terroristas" de alguns direitos, tais como o direito à segurança social. O executivo israelita informou ainda que pondera discutir um projecto de lei para privar esta categoria de pessoas do seu bilhete de identidade israelita. "Uma violação grave dos Direitos Humanos" do ponto de vista de Maria João Tomás, especialista do Médio Oriente, para quem a política levada a cabo pelo governo israelita pode provocar uma terceira 'intifada', ou seja, uma nova sublevação da população palestiniana.

Ao recordar que o governo instalado há algumas semanas por Benjamin Netanyahu é composto por partidos ultra-religiosos e de extrema-direita, a investigadora ligada ao Instituto Universitário de Lisboa refere que "toda a gente sabe que o plano dos partidos que fazem coligação com Netanyahu é tornar Israel só para os judeus" e que o intuito "é expulsar os árabes muçulmanos".

Neste sentido, a especialista do Médio Oriente refere que isto acontece num contexto já por si volátil, com Netanyahu a tentar conduzir uma reforma do sistema judicial, visando fazer com que uma lei chumbada pelo Supremo Tribunal possa ser, ainda assim, validada pela Knesset ao ser novamente submetida aos parlamentares. "Se a reforma judicial for para a frente, Netanyahu tem carta-branca para fazer o que quer e vai-se acabar com a democracia em Israel", considera a investigadora.

Uma das batalhas desta autêntica guerra de trincheiras entre o executivo e a justiça deu-se ainda recentemente com a exoneração este mês de Arié Dery, ministro Israelita do Interior e da Saúde pertencente ao partido ultra-ortodoxo Shas, depois de o Supremo invalidar a sua nomeação por este último ter sido condenado na justiça por corrupção. "Netanyahu conseguiu substitui-lo por outro membro do Shas", refere Maria João Tomás que todavia sublinha que "está em cima da mesa também a possibilidade de o Supremo dizer que Netanyahu não tem condições para governar por causa dos processos contra ele em tribunal".

Nesta conjuntura delicada, Antony Blinken terá uma margem de manobra ínfima para fazer baixar a tensão na região, segundo a investigadora. "Espero que seja quem poderá travar isto (a política do governo israelita)", declara Maria João Tomás antes de sublinhar que o rumo do país mudou desde que Netanyahu voltou ao poder e formou o seu governo. "É outro Israel desde Dezembro", considera a especialista do Médio Oriente.

Recorde-se que o líder do Likud, Benjamin Netanyahu voltou recentemente a assumir o cargo de primeiro-ministro, uma responsabilidade que já ocupou em mandatos anteriores. No passado mês de Novembro, o seu partido venceu as quintas eleições legislativas antecipadas no espaço de pouco mais de 3 anos, Netanyahu tendo formado um executivo de coligação abrangendo formações ultra-religiosas e partidos ainda mais à direita que o Likud.

 

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