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Rússia

Jornal russo 'Novaïa Gazeta' anuncia a suspensão da sua publicação

O jornal russo 'Novaïa Gazeta', considerado como sendo um dos últimos órgãos de imprensa independentes ainda activos na Rússia, anunciou esta segunda-feira a suspensão das suas publicações impressas e online até ao fim da intervenção russa na Ucrânia, num contexto em que tem aumentado a pressão de Moscovo sobre as vozes dissonantes, designadamente com a detenção dos manifestantes que protestam contra a guerra ou o encerramento puro e simples das organizações consideradas hostis.

Dmitri Muratov, chefe de redação do jornal 'Novaïa Gazeta'
Dmitri Muratov, chefe de redação do jornal 'Novaïa Gazeta' REUTERS - MAXIM SHEMETOV
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Numa mensagem dirigida aos leitores, o chefe de redação deste jornal de investigação, Dmitri Muratov, que foi um dos galardoados com o Prémio Nobel da Paz no ano passado, disse “não ter tido outra escolha” depois de o jornal ter recebido hoje um segundo aviso por parte da entidade reguladora da comunicação do país.

De acordo com este órgão, apesar de ter recebido um primeiro aviso no passado dia 22 de Março, o 'Novaïa Gazeta' não identificou claramente nas suas colunas uma organização considerada como sendo "agente estrangeiro” pelas autoridades, numa altura em que as leis têm vindo a ser mais restritivas nessa matéria.

“Não existe outra solução. Para nós e, sei-o, para vocês, é uma decisão terrível e dolorosa. Mas temos que nos proteger uns aos outros”, escreveu o chefe de redação do jornal que, recordou, continuou o seu trabalho durante 34 dias "em condições de censura militar", desde o lançamento daquilo que as autoridades russas optaram por denominar de “operação especial”.

"Tentamos entender como é que o nosso povo permitiu que duas guerras fossem travadas ao mesmo tempo: uma de conquista, na Ucrânia, e outra, quase civil, no nosso território, na Rússia", acrescentou ainda Dmitri Muratov que no passado dia 22 de Março anunciou colocar à venda a medalha do seu Nobel da Paz em proveito dos refugiados ucranianos.

Considerado como sendo um dos pilares do jornalismo independente na Rússia, o 'Novaïa Gazeta' publicava diariamente 100 mil exemplares na sua versão impressa, sendo que a sua página internet, em acesso livre, era vista por 40 milhões de leitores por mês.

O jornal cuja primeira edição foi publicada em 1993, ganhou prestígio nacional e internacional pelos seus inquéritos sobre corrupção e violações dos Direitos Humanos. Este posicionamento custou aliás a vida de seis dos seus repórteres, nomeadamente da jornalista Anna Politkovskaia, conhecida por ter acompanhado a guerra na Chechénia, e que acabou por ser assassinada em 2006 diante da sua casa em Moscovo.

Reagindo à decisão do jornal 'Novaïa Gazeta' suspender a sua publicação, a ONG Repórteres Sem Fronteiras apelou as autoridades russas a pôr fim às suas “políticas de censura”.

Desde o início da ofensiva russa na Ucrânia, Moscovo tem vindo a apertar um pouco mais o cerco em torno das entidades que considera “hostis”. Pouco depois de começar o conflito, Moscovo adoptou um pacote punindo com penas podendo ir até 15 anos de prisão quem publicar informações não oficiais e que, por exemplo, coloquem em questão o discurso governamental em torno da operação militar em curso na Ucrânia.

Á luz dessa lei, foi encerrada no início deste mês a rádio ‘Eco de Moscovo’ e foram bloqueadas as páginas internet de boa parte dos órgãos de comunicação social ocidentais.

Paralelamente, têm sido também gradualmente caladas todas as outras vozes consideradas críticas, ao abrigo de uma lei adoptada já em finais de 2020 que qualifica de “agente estrangeiro” e restringe a margem de manobra dos cidadãos ou associações que se lançam em actividades políticas ou de defesa dos Direitos Humanos, no caso de receberem financiamentos do exterior.

No âmbito deste dispositivo, quem for considerado “agente estrangeiro” tem de se identificar publicamente como tal e, ao citá-los, os órgãos de comunicação social têm igualmente que mencionar que têm essa denominação.

No passado mês de Dezembro, a ONG Memorial, uma organização da sociedade civil que luta pela defesa dos Direitos Humanos e em particular pelo reconhecimento dos crimes cometidos durante a era soviética, foi proibida, esta decisão tendo sido confirmada este mês pelo Supremo Tribunal de Justiça russo.

Há dias igualmente, as autoridades russas decidiram bloquear as redes sociais Facebook e Instagram por considerar que evidenciam "sinais claros de actividade extremista" e incitação "ao ódio e inimizade" contra a Rússia.

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