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Líbano

Líbano mergulhado numa crise sem fim depois da desistência de Hariri

Nove meses depois de ter sido designado para formar um governo e tirar o Líbano do pior marasmo político, económico e social da sua história, o Primeiro-ministro Saad Hariri anunciou ontem a sua desistência em formar governo.

Saad Hariri enquanto anunciava ontem, dia 15 de Julho de 2021, a sua renúncia em formar governo.
Saad Hariri enquanto anunciava ontem, dia 15 de Julho de 2021, a sua renúncia em formar governo. REUTERS - DALATI NOHRA
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Já duas vezes chefe do executivo libanês, de 2009 a 2011 e em seguida de 2016 a Janeiro de 2020, ele tinha sido designado uma terceira vez para este cargo em Outubro do ano passado, com o objectivo de lançar as reformas indispensáveis para desbloquear a ajuda internacional necessária para levantar o país.

Contudo, o sunita Saad Hariri e o Presidente cristão Michel Aoun não conseguiram chegar a nenhum acordo sobre a equipa governativa.

Ontem, após vinte minutos de reunião com o chefe de Estado, o primeiro-ministro anunciou a sua desistência e responsabilizou o seu interlocutor pelo sucedido.

Ele indicou nomeadamente que o chefe de Estado tinha insistido para dispor de uma minoria de bloqueio no seio do governo e que isto tinha sido um ponto importante de fricção. «Não podem pedir-me para fazer todo o possível enquanto um outro não está disposto a fazer nenhum sacrifício», declarou Hariri ontem numa televisão local.

Por sua vez, em comunicado, a presidência libanesa afirmou que Michel Aoun tinha proposto a Saad Hariri que reflectisse mais um dia mas que este último tinha recusado. A presidência anunciou por outro lado que iria organizar consultas parlamentares no sentido de encontrar um novo primeiro-ministro.

A notícia da desistência de Saad Hariri não deixou de suscitar reacções. Para já, na rua. Ontem à noite, manifestantes bloquearam as ruas dos bairros sunitas da capital, incendiaram caixotes do lixo e pneus, acabando por ser dispersos por militares que atiraram para o ar.

A nível internacional, a decisão de Saad Hariri também foi acolhida com decepção. Um porta-voz da ONU fez um apelo para que «os dirigentes políticos do país se entendam rapidamente sobre a formação de um novo governo». No mesmo sentido, a União Europeia disse «lamentar profundamente o impasse político que persiste no país, bem como a falta de progresso na implementação de reformas urgentes». No início da semana, a UE anunciou que até finais deste mês vai adoptar um quadro jurídico para aplicar sanções contra os dirigentes libaneses.

Nos Estados Unidos prevalece igualmente a frustração. Esta desistência «é uma nova decepção para o povo libanês» considerou o Secretário de Estado americano Antony Blinken para quem «a classe política libanesa desperdiçou os últimos 9 meses».

Mesma tonalidade aqui em França. «Este último desenvolvimento confirma o bloqueio político no qual os dirigentes libaneses mantêm deliberadamente o país há meses, apesar de o Líbano estar a mergulhar numa crise económica e social sem precedentes» lamentou hoje o ministério francês dos Negócios Estrangeiros, para o qual a desistência de Hariri é «mais um episódio dramático».

Perante esta situação, a França anunciou hoje que vai organizar no próximo dia 4 de Agosto uma conferência internacional sobre o Líbano. Esta conferência internacional a ser organizada com o apoio das Nações Unidas, vai realizar-se precisamente um ano depois da explosão ocorrida no porto de Beirute, a capital, que provocou mais de 200 mortos e 6.500 feridos.

Esta explosão sobre a qual a investigação em curso não conseguiu até agora apurar responsabilidades, adensou um pouco mais o mal-estar social no Líbano, a classe dirigente do país tendo sido responsabilizada pelo sucedido.

Actualmente, para além de estar sem governo há meses, o Líbano tem sido duramente afectado pela crise económica agravada pela pandemia que causou quase 8 mil mortos e contaminou mais de 500 mil pessoas no seu território.

De acordo com dados oficiais, mais de metade dos cerca de 7 milhões de habitantes do país estão a viver abaixo do limiar da pobreza, o Líbano enfrentando todo o tipo de penúrias, desde medicamentos, passando pela falta de electricidade e a falta de combustível.

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