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Moçambique/Beirute

Navio com nitrato de amónio que explodiu em Beirute ia para Moçambique

O navio russo Rhosus, com 2.750 tononeladas de nitrato de amónio a bordo, carregados numa fábrica de fertilizantes na Geórgia e que atracou em Beirute em 2013, tinha como destino uma fábrica de exposivos em Moçambique, afirmou à agência de notícias Reuters, o cidadão russo Boris Prokochev, seu ex-capitão.

O ex-capitão do navio Rhosus, que atracou no porto de Beirute em 2013 com 2.750 toneladas de nitrato de amónio a bordo, que exploridam a 4 de Agosto, tinha como escala final Moçambique,afirmou o cidadão russo Boris Prokopchev à agência Reuters.
O ex-capitão do navio Rhosus, que atracou no porto de Beirute em 2013 com 2.750 toneladas de nitrato de amónio a bordo, que exploridam a 4 de Agosto, tinha como escala final Moçambique,afirmou o cidadão russo Boris Prokopchev à agência Reuters. © DR
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As 2.750 toneladas de nitrato de amónio que explodiram a 4 de Agosto em Beirute, chegaram ao porto da cidade a 20 de Novembro de 2013, a bordo de um cargueiro russo com bandeira da Moldávia, que, na época, se encontrava em péssimo estado de conservação.

O ex-capitão do Rhosus, o cidadão russo Boris Prokochev, disse em entrevista à agência Reuters que o proprietário do cargueiro "só pensava em lucros".

De acordo com o relato do ex-capitão, a escala em Beirute não estava prevista no roteiro inicial da viagem.

O cargueiro tinha partido da Geórgia com destino a Moçambique, mas ele recebeu ordens do empresário russo Igor Gretchouchkin, que alugou o navio, para fazer uma escala imprevista no Líbano, no intuito de embarcar novas mercadorias para obter beneficios financeiros suplementares.

No porto de Beirute, a tripulação deveria carregar equipamentos de terraplenagem e levá-los para Aqaba, na Jordânia, antes de seguir viagem para Moçambique, onde o nitrato de amónio deveria ser entregue a um fabricante de explosivos.

Mas o cargueiro nunca saiu de Beirute devido à incapacidade de garantir um carregamento seguro e a divergências com as autoridades libanesas sobre o pagamento de taxas portuárias.

Prokochev, hoje com 70 anos de idade, diz que era "impossível" transportar a carga adicional, pois "isso poderia ter destruído a embarcação e eu disse que o não faria", afirmou o ex-capitão por telefone de sua casa em Sóchi, no mar Negro.

Diante do impasse, Prokochev e advogados de alguns credores acusaram o proprietário do Rhosus de ter abandonado a embarcação em Beirute e obtiveram a imobilização do navio.

Vários meses depois, por razões de segurança, as 2.750 toneladas de nitrato de amónio foram retiradas do navio e transferidas para um armazém no porto de Beirute, onde explodiram a 4 de Agosto, causando a morte de pelo menos 154 pessoas e ferindo cerca de 5.000.

Para o contramestre do Rhosus, Boris Moussintchak, o barco poderia ter deixado Beirute se as máquinas de terraplenagem que a tripulação deveria embarcar tivessem sido correctamente protegidas, içadas e acomodadas no compartimento de carga, mas a operação acabou danificando as escotilhas do porão. Uma das tampas sofreu uma avaria. "Nós decidimos não correr riscos", afirmou Moussintchak por telefone.

Depois do incidente, o capitão e três tripulantes tiveram de passar 11 meses a bordo do cargueiro, enquanto aguardavam uma decisão de Justiça sobre o caso.

Nesse período, eles não receberam os seus salários, enfrentaram dificuldades de abastecimento e o nitrato de amónio só foi retirado do navio em 2015 depois de a tripulação o ter abadonado.

A polícia de Chipre, a pedido do Líbano, interrogou o cidadão russo Igor Gretchouchkine que alugou o navio Rhosus e, segundo o New York Times, este confirma que não tinha dinheiro suficiente para atravessar o Canal de Suez e ordenou ao capitão que fizesse escala em Beirute para um novo carregamento.

O nitrato de amónio tinha sido vendido pelo fabricante de fertilizantes georgiano Rustavi Azot, de acordo com o ex-capitão russo, e deveria ser entregue ao grupo moçambicano Fábrica de Explosivos.

Levan Bourdiladze, actual director da Rustavi Azot, disse que está à frente da fábrica na Geórgia há apenas três anos e, por isso, não pode confirmar se o nitrato de amónio saiu de lá.

As autoridades libanesas ordenaram a detenção domiciliar dos directores e gerentes encarregados da segurança no porto de Beirute desde 2014, enquanto são realizadas as investigações preliminares sobre a catástrofe.  

Para Prokochev, o Rhosus estava em condições de navegar em Setembro de 2013, apesar da presença de várias perfurações, mas segundo ele, as autoridades libanesas não prestaram atenção ao nitrato de amónio armazenado nos porões.

"Sinto muito pelas pessoas [mortas ou feridas nas explosões], mas são as autoridades locais libanesas que devem ser punidas, pois elas não deram a importância devido à carga”, afirma.

O cargueiro Rhosus permaneceu abandonado desde que a tripulação partiu, após a transferência das 2.750 toneladas de amónio para armazéns no terminal portuário e acabou por se afundar no porto de Beirute em Maio de 2018, segundo um e-mail enviado a Prokochev pelo seu advogado.

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