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Pandemia também aumentou trabalho infantil em Moçambique

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No Dia Mundial contra o Trabalho Infantil, a UNICEF e a Organização Internacional do Trabalho alertam que milhões de crianças correm o risco de serem empurradas para o trabalho infantil devido à pandemia de covid-19. É urgente proteger as crianças, avisa Carla Mussa, especialista em protecção da criança na UNICEF em Moçambique, enquanto a dirigente associativa Dalila Macuacua sublinha que a pandemia apenas reforçou uma realidade já existente.

Menino a trabalhar na aldeia de Jumpha, no Malawi. 7 de Junho de 2019. A pandemia de Covid-19 pode fazer disparar o trabalho infantil.
Menino a trabalhar na aldeia de Jumpha, no Malawi. 7 de Junho de 2019. A pandemia de Covid-19 pode fazer disparar o trabalho infantil. AFP - AMOS GUMULIRA
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Em tempos de crise, milhões de crianças em todo o mundo são empurradas para o trabalho infantil. A pandemia de Covid-19 veio piorar a realidade e o encerramento temporário de escolas está a afectar mais de mil milhões de alunos e alunas em mais de 130 países, de acordo com o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) e a Organização Internacional do Trabalho (OIT).

Os dois organismos publicaram um relatório intitulado "A covid-19 e trabalho infantil: num tempo de crise, é tempo de agir" que indica que a crise provocada pela pandemia pode conduzir a um aumento da pobreza e a um aumento do trabalho infantil porque as famílias usam todos os meios para sobreviver. O documento explica que as crianças que já eram obrigadas a trabalhar correm o risco de trabalhar ainda mais horas ou em piores condições e que muitas delas podem ser forçadas às piores formas de trabalho infantil.

Carla Mussa, especialista em protecção da criança na UNICEF em Moçambique, reitera que é urgente proteger as crianças a nível global: “Este ano, o lema escolhido pela Organização Internacional do Trabalho – 'Proteger as crianças do trabalho infantil agora mais do que nunca’ – manda-nos para a urgência da nossa acção para deixar estas crianças longe do risco em que estão de serem atiradas para o mercado do trabalho."

A responsável acrescenta que “infelizmente algumas crianças já estão a trabalhar e outras correm sérios riscos de engrossarem o mercado da mão-de-obra e possivelmente não voltarem às escolas”. Em causa, o facto de “os agregados familiares terem a renda reduzida e os meios de subsistência começarem a ser escassos”, pelo que as crianças são “obrigadas a trabalhar para ajudar à subsistência familiar e aquelas que estavam a estudar têm trabalhos domésticos, impossibilitando-as algumas vezes de realizar os trabalhos escolares”.

Sobre Moçambique, Carla Mussa indica que o país tinha em média mais de um milhão de crianças em trabalho infantil mas acredita que “este número possa vir a subir de forma muito acentuada e rápida”, tratrando-se de crianças dos 5 aos 17 anos. Além de trabalho doméstico e pequenos negócios informais, foram “identificadas áreas críticas” de trabalho infantil: agricultura familiar e mecanizada, silvicultura, pequenas indústrias, produção de materiais de construção, transporte e armazenamento, e mineração artesanal.

A responsável lembra que a UNICEF lançou um movimento que visa transformar a pandemia numa "janela de oportunidade” para se reinventar “um mundo melhor” focado em investimentos na educação, na protecção da criança, na saúde, na nutrição e na água e saneamento.

A pandemia de Covid-19 apenas veio reforçar uma realidade que já existia em Moçambique, alerta Dalila Macuacua, coordenadora-geral da Associação Sócio Cultural Horizonte Azul: “Esta realidade não é de hoje, apenas a covid-19 a veio reforçar. Em Moçambique, a maior parte das comunidades que vivem nas áreas periurbanas e nas áreas rurais dependem de uma economia informal diária (…) As crianças, se já se faziam à rua para vender pequenos produtos para reforçar a renda em casa, esta pandemia apenas veio reforçar uma realidade que já existia."

A dirigente associativa sublinha que as crianças, antes do fecho das escolas, dividiam o tempo entre o estudo e o trabalho e “hoje já não dividem esse tempo”. Por outro lado, a suspensão das aulas aumenta as desigualdades de género, com as meninas a verem reforçada a carga horária nas tarefas domésticas e a verem eliminado o tempo para estudarem. Quanto ao ensino à distância em Moçambique, apesar das plataformas existentes, “ainda é uma utopia” porque a maioria das crianças não têm acesso às plataformas online.

Oiça as entrevistas completas no programa CONVIDADAS desta sexta-feira.

13:46

Dia Mundial Contra o Trabalho Infantil

 

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