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Brasil/Le Monde

Brasil nunca deu prioridade à educação, diz Le Monde

Em sua edição de terça-feira, que chegou às bancas hoje, o Le Monde dedica seu editorial e uma página aos protestos no Brasil, que se transformam em crise política. O jornal também dedicou seu suplemento de economia à crise nos países emergentes, que entram em um período de desaceleração econômica.  

A mobilização no Brasil ganha um novo fôlego, acredita o Le Monde.
A mobilização no Brasil ganha um novo fôlego, acredita o Le Monde. REUTERS/Ueslei Marcelino
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"Para onde vai o Brasil ?" questiona o Le Monde. O movimento de contestação, lembra o jornal, parecia ter perdido força depois da mobilização do dia 20 de junho, mas ganhou um novo fôlego, se mostrando muito mais complexo e desencadeando uma crise política, acredita o jornal. Algo é certo: os protestos fragilizam o governo Dilma, e complicam sua situação nas eleições de 2014. Uma parte da esquerda brasileira até mesmo pede o retorno do ex-presidente Lula.

O Le Monde também lembra que o Brasil emergente é uma mistura de uma série de transformações que ocorreram nos últimos vinte anos. Elas incluem a estabilização da moeda e o fim da inflação, graças à política do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, e as mudanças sociais e o desenvolvimento do mercado interno, herdados da era Lula. A educação, entretanto, sempre foi relegada a segundo plano. Milhões de jovens de classes mais baixas, que obtiveram diploma de curso superior em instituições privadas de péssima qualidade, descobriram anos mais tarde que estavam totalmente despreparados para entrar no mercado de trabalho.

Propaganda do país ocultou dívida social

A propaganda destinada aos investidores e turistas estrangeiros, diz o jornal, também "ocultou a imensa dívida social do Brasil." Segundo o Le Monde, nenhum governo, nem mesmo o do presidente Fernando Henrique Cardoso, priorizou a educação, ou iniciou uma reforma política.

Os protestos, lembra a publicação, têm o apoio de 75% da população e ilustram uma nova tendência, que pode ser observada nas redes sociais : reinvindicar, em cada manifestação, uma mudança de cada vez. O objetivo seria justamente evitar a chuva de demandas que tira o foco de questões específicas. Um dos exemplos é a passeata ocorrida neste domingo em São Paulo, que reuniu 30 mil pessoas para protestar contra a emenda constitucional que ficou conhecida como PEC37, que retira o poder de investigação do Ministério Público. Em São Paulo, 35 mil pessoas também manifestaram na avenida Paulista no sábado para denunciar a corrupção e o custo total da Copa. Para o Le Monde, "os brasileiros estão divididos entre o amor pelo futebol e os gastos faraônicos com o campeonato."

Movimentos atingem novo grau de maturidade

Nas redes sociais, os internautas brasileiros também tentam organizar uma greve geral para o dia 1 de julho, um dia depois da final da Copa das Confederações. Um sinal, segundo o Le Monde, que os coletivos e movimentos que se manifestam no Brasil estão atingindo um outro nível de maturidade, dando uma "coerência à profusão de reinvidicações ouvidas nos últimos dias." O jornal também cita a mudança de postura do movimento Passe Livre, na origem da contestação. Depois de anunciar na sexta-feira que se retiraria dos protestos, que estariam sendo manipulados a favor de grupos conservadores, declarou, algumas horas mais tarde, o apoio a novas mobilizações.

O tema também dominou a mídia brasileira, que ainda tenta compreender o fenômeno. Na TV, rádio e jornais, especialistas tentam destrinchar os motivos que levaram os brasileiros a ir para às ruas. Para Sylvia Dantas, professora de Psicologia, "a insatisfação tomou o lugar da melancolia e da impotência." Já José Álvaro Moysés, professor de Ciências Políticas, acredita que "os partidos políticos fracassaram, mesmo aqueles de movimentos sociais como o PT."
 

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