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França/AF447

Memórias das caixas-pretas ainda podem ser localizadas, diz diretor do BEA

Um dia depois da localização do chassi de uma das caixas-pretas do voo AF447, que caiu no dia 31 de maio de 2009 no oceano Atlântico, na rota Rio-Paris, Jean Paul Troadec, diretor do BEA, a agência civil francesa que investiga as causas do acidente, concedeu uma entrevista exclusiva ao serviço brasileiro da RFI. De acordo com ele, ainda existe a possibilidade do módulo de memória, que contém os parâmetros do voo, e o VCR (Cockpit Voice Recorder), a outra caixa-preta que registra os diálogos do piloto na cabine, serem localizados. Ainda segundo Troadec, os legistas da justiça francesa deverão, em breve, fazer a tentativa de resgate dos corpos a bordo do navio Ile de Sein, que chegou nesta terça-feira à área do acidente, a 300 quilômetros da costa brasileira.

O chefe do Escritório de Investigação e Análise (BEA), Jean-Paul Troadec durante coletiva a imprensa em 4 de abril de 2011
O chefe do Escritório de Investigação e Análise (BEA), Jean-Paul Troadec durante coletiva a imprensa em 4 de abril de 2011 Reuters
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Lembrando que o módulo é ligado ao chassi por quatro parafusos, como explicar, tecnicamente, que o módulo de memória possa ter se separado do chassis da caixa-preta, concebida para resistir a altas temperaturas e ao impacto?

O FDR (gravador que contém os parâmetros do voo) é pesado, e fica em cima desse chassi que foi encontrado. No momento do choque com o mar, do impacto, o peso do módulo, que é um recipiente protegido, acabou quebrando esses parafusos, por isso as duas partes se separaram. Em vários acidentes investigados pelo BEA, vimos todo tipo de situação: o módulo ligado ao chassi, o chassi e o módulo que se separaram ao mesmo tempo, e ficaram um ao lado do outro, existem várias possibilidades. Mas é bastante frequente que o módulo se separe do chassi.

O chassi já foi resgatado e está dentro do navio ou apenas foi localizado ?

De acordo com as últimas notícias, ele ainda não foi retirado do fundo do mar, mas isso vai ocorrer. As peças serão estocadas em um container e, quando o navio voltar ao porto, elas serão repatriadas. A fragata de emergência será utilizada somente para trazer as caixas-pretas. O chassi, como não tem nenhuma informação, será estocado. Mas ele será observado, claro, para podermos ver como aconteceu a ruptura entre o chassi e o módulo de memória.

Podemos dizer atualmente que há uma grande possibilidade de encontrar o módulo de memória da caixa-preta que foi localizada ?

É o que esperamos. Em todo caso, como já se sabe, encontramos a parte do chassi, sobre a qual está o módulo, que é uma recipiente protegido. Esperamos que ele não esteja longe da caixa-preta. Até agora, nada foi encontrado. Continuamos as buscas em torno dos destroços do avião.

E em relação ao Cockpit Voice Recorder ? Há esperanças de que seja encontrado ou é mais complicado do que o Flight Data Recorder ?

Na aeronave, os dois recipientes são situados um ao lado do outro. As chances de encontrar qualquer um dos dois é a mesma. Nós poderíamos ter encontrado o CVR antes.

O que é mais importante : encontrar o módulo com os parâmetros de voo ou a caixa-preta com os diálogos dos pilotos ?

Não podemos dizer antecipadamente. Isso depende do estado em que eles se encontram. Em todo caso, os dois são muito importantes.

Depois da descoberta da localização da fuselagem, as buscas na quinta fase estão mais simples do que nas fases anteriores ?

Sim e Não. Neste momento, estamos realizando uma exploração sistemática e extremamente detalhada do conjunto de destroços. Há diversos pedaços da aeronave. Talvez nós seremos obrigados a levantar alguns pedaços do avião para verificar os recipients que contêm as gravações não estão escondidos embaixo. Essa operação será demorada. Pode ser uma questão de dias, mas também de semanas. Esperamos que até o final do mês de maio haja novos elementos.

O senhor declarou recentemente que não será necessário realizar o resgate de toda a carcaça do avião. Qual a razão?

Nós estimamos que, para compreender o acidente, não há utilidade no resgate de peças, que não vão trazer de novo em relação ao nosso conhecimento sobre o avião, que estava intacto no momento do acidente e depois se partiu em diversos pedaços. Por outro lado, há elementos que serão resgatados porque podem trazer novas informações para entender o acidente.

Em relação aos corpos das vítimas, eles serão resgatados ao mesmo tempo que os destroços, ou será efetuada uma operação específica?

Não podemos estar certos do que pode acontecer, mas o resgate dos corpos é de responsabilidade dos legistas da justiça francesa que estão a bordo do navio. Eles é que vão verificar se será possível realizar essa operação em condições corretas e dignas. Nada está garantido, ainda não sabemos. Essa tentativa será feita em breve e os legistas decidirão se devem ou não resgatar os corpos. Mas isso só será feito depois de localizar as caixas-pretas. A prioridade dessa operação é a investigação sobre a segurança, quer dizer, encontrar as gravações e as peças necessárias para entender o que pode ter acontecido e para evitar que um outro acidente como esse volte a ocorrer.

E se houver restos mortais que estejam colados às caixas-pretas ou a uma peça do avião que seja fundamental para a investigação, o que será feito ?

Não posso entrar nesses detalhes. É um assunto extremamente delicado, não gostaria de chocar ninguém. Saiba, em todo o caso, que a equipe do BEA e os legistas trabalham juntos para fazer o melhor possível.

O robô Remora 6000, utilizado no resgate das peças, também pode ser utilizado no resgate dos corpos?

O Remora é uma ferramenta de observação, equipado com câmeras, que possibilita, com diferentes sistemas e equipamentos, retirar do fundo do mar elementos relativamente leves, com uma espécie de cesta acoplada à parte de baixo. Mas em caso de elementos pesados, essa cesta é fixada a um guindaste, que pode fazer o resgate.

 

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