França: 150 detidos após nova noite de confrontos em várias cidades
França – Em França, pelo menos 150 pessoas foram detidas na segunda noite consecutiva de protestos após a polícia ter matado um jovem de 17 anos, numa operação de trânsito, na passada terça-feira. O balanço actualizado é avançado pelo Ministério do Interior.
Publicado a:
Escolas, esquadras da polícia, câmaras municipais incendiadas e muita destruição. França viveu esta quarta-feira a segunda noite consecutiva de manifestações violentas.
A causa da revolta é a morte de Nahel, um jovem de 17 anos, que foi atingido à queima-roupa pela polícia, na passada terça-feira, durante uma operação de trânsito.
Numa primeira instância, a polícia alegou que o jovem não tinha documentos e que os teria tentado atropelar, mas um vídeo que circula nas redes sociais dá conta de outra realidade. Nas imagens divulgadas na internet, é possível ver os dois polícias na janela do condutor a interpelar o jovem e a pedir que pare, mas a dada altura, o rapaz decide arrancar e a polícia dispara. O carro acabou por se despistar mais à frente.
Na noite passada, a violência subiu de tom em Paris e em várias outras cidades francesas, com os jovens a atirar fogo-de-artifício contra a polícia e também cocktails molotof, que são geralmente uma arma de guerra. Vários edifícios, carros e até mesmo autocarros foram incendiados e os focos de incêndios eram visíveis, em vários pontos do país.
Reacções multiplicam-se
Gérald Darmanin, ministro do Interior, reagiu ao início da manhã no Twitter e disse ter-se tratado de "uma noite insuportável de violência contra os símbolos da República, nomeadamente câmaras municipais, escolas e esquadras da polícia, que foram incendiadas ou atacadas".
Para além disso, deixou uma palavra de apoio aos polícias e bombeiros que fizeram face a esta situação "com coragem".
Une nuit de violences insupportables contre des symboles de la République : mairies, écoles et commissariats incendiés ou attaqués. 150 interpellations. Soutien aux policiers, gendarmes et sapeurs-pompiers qui font face avec courage. Honte à ceux qui n’ont pas appelé au calme.
— Gérald DARMANIN (@GDarmanin) June 29, 2023
Para além disso, já foi anunciado hoje que os ministros vão adiar todas as deslocações não prioritárias.
Emmanuel Macron convocou, esta manhã, uma célula de crise, para avaliar a acção do governo durante os próximos dias. O chefe de Estado está reunido com vários ministros e também com a chefe do executivo, Élisabeth Borne.
Antes do início da reunião, Macron disse que os actos de violência de ontem são "inqualificáveis" e que "as próximas horas devem ser de recolha e respeito" e que a marcha de homenagem, que começa hoje às 14 horas, deve decorrer tendo em conta essa máxima. Esta posição foi depois reiterada também num post no Twitter, feito a meio da manhã.
Les violences contre des commissariats, des écoles, des mairies, contre la République, sont injustifiables.
Merci aux policiers, aux gendarmes, aux sapeurs-pompiers et aux élus mobilisés.
Le recueillement, la Justice et le calme doivent guider les prochaines heures.
— Emmanuel Macron (@EmmanuelMacron) June 29, 2023
Num comunicado de imprensa publicado na manhã de hoje, o Presidente do partido os Repúblicanos, Eric Ciotti, fala em "tumultos insuportáveis" e pede "o início imeadiato do estado de emergência, onde quer que ocorram incidentes".
Jean-Luc Mélenchon, da extrema-esquerda, apela a que a polícia seja "totalmente reformulada". Já Marine Le Pen, da extrema-direita, criticou as palavras de Emmanuel Macron, deixando várias perguntas no ar: "O ato é indesculpável? É inexplicável? Cabe à justiça responder".
La peine de mort n'existe plus en France. Aucun policier n'a le droit de tuer sauf légitime défense. S'il s'agissait d'un refus d'obtempérer de pollueurs ou d'émigrés fiscaux on ne se poserait pas la question. Nous avons multiplié les alertes. Cette police incontrôlée par le…
— Jean-Luc Mélenchon (@JLMelenchon) June 27, 2023
As autoridades temem que no final da marcha de hoje e, principalmente, ao cair da noite que as manifestações e confrontos violentos possam voltar a acontecer.
Polícia vai ficar em prisão preventiva
O Procurador da República de Nanterre pronunciou-se hoje em conferência de imprensa. O responsável avançou que, neste caso, "não estão reunidas as condições legais para o uso da arma".
O Procurador disse ainda que foi pedida a prisão preventiva do polícia, que esteve até à manhã de hoje detido, em custódia policial, que em França dura 48 horas.
O representante do Ministério Público disse ainda que a autópsia mostra que a causa da morte foi um tiro. Para além disso, acrescentou que uma busca no veículo "não revelou objectos perigosos ou droga".
NewsletterReceba a newsletter diária RFI: noticiários, reportagens, entrevistas, análises, perfis, emissões, programas.
Me registro