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#Paris

Fado Bicha em destaque no festival Chantiers d’Europe

Em Paris, o festival Chantiers d'Europe apresenta, este sábado, o duo português Fado Bicha. O projecto musical e militante, de Lila Tiago e João Caçador, leva a identidade "queer" para o mundo tradicional do fado e é um dos destaques do festival organizado pelo Théâtre de la Ville.

João Caçador e Lila Tiago, Fado Bicha. RFI, Paris, 27 de Maio de 2022.
João Caçador e Lila Tiago, Fado Bicha. RFI, Paris, 27 de Maio de 2022. © Carina Branco/RFI
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Emmanuel Demarcy-Mota, director do Théâtre de la Ville, em Paris, resumiu o projecto Fado Bicha como o cabeça-de-cartaz da parte lusófona do festival Chantiers d’Europe, que decorre neste mês de Maio.

Este ano, houve vários projectos portugueses, mas há um projecto que é muito interessante e novo aqui em Paris que é Fado Bicha. É um grupo diferente que os franceses não conhecem. Muitos franceses e lusodescendentes têm uma ideia sobre o fado que conhecemos bem. Agora, é outra geração, outra maneira de pensar, de provocar outros sentimentos. Acho muito interessante que o Théâtre de la Ville e os franceses olhem para as grandes questões, com os portugueses, dentro deste espaço europeu, dentro do Chantiers d’Europe, sobre o que é a tradição e o que é a modernidade, sobre como passamos da tradição à contemporaneidade e como podemos inventar, com uma forma nova de ironia, um novo olhar sobre a nossa tradição”, descreveu à RFI.

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Emmanuel Demarcy-Mota sobre Fado Bicha

Há um ano, o duo Fado Bicha esteve no Grande Estúdio da RFI, na véspera da sua participação na "Nuit 104 des Fados", em Paris, no âmbito da Temporada Cruzada Portugal-França, presidida também por Emmanuel Demarcy-Mota. Reveja e oiça aqui a entrevista e interpretação de músicas ao vivo.

João Caçador e Lila Tiago, Fado Bicha. Paris, 27 de Maio de 2022.
João Caçador e Lila Tiago, Fado Bicha. Paris, 27 de Maio de 2022. © Carina Branco/RFI

Fado Bicha é um projecto subversivo que tirou do armário um género considerado, por muitos, como sagrado : o fado. O disco de estreia saiu nas plataformas digitais a 3 de Junho do ano passado e chama-se “Ocupação” porque Fado Bicha ocupou um lugar que não existia com um repertório de intervenção que dá voz a causas e corpos invisibilizados.

É obviamente um disco político e que procura também politizar quem o ouvir, despertar desconforto e despertar reflexão”, contou João Caçador, há um ano. É também um álbum que “tem muito de dor e de luto”, acrescentou Lila Tiago, com lutas que ganham nova voz depois de tantos anos no silêncio.

O disco conjuga o lado dramático do fado tradicional com novos ambientes sonoros e líricos. Há piano, guitarra eléctrica, baterias electrónicas, instrumentos de sopro, mas nenhum tema tem guitarra portuguesa até porque “era muito difícil - e continua a ser - encontrar alguém que queira tocar guitarra portuguesa” com Fado Bicha. Porquê? Porque “a guitarra portuguesa simboliza muito esse lado conservador do fado”. E Fado Bicha rompeu com as normas e devolveu ao fado a materialidade de uma “arte viva”. “Quisemos tornar esse património imaterial em património vivo e orgânico”, explicam.

Uma releitura do fado em que criticam a masculinidade tóxica, cantam as dores das identidades “queer” num mundo de rejeição, denunciam o racismo e o patriarcado e criam hinos de empoderamento e liberdade. Um disco que dizem ser pensado como “um manual de sobrevivência LGBTI em Portugal, em forma de música e discurso".

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