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França

216 mil menores vítimas de crimes sexuais desde 1950 no seio da igreja em França

Foi divulgado hoje um relatório sobre as vítimas de crimes sexuais no seio da Igreja aqui em França. Resultado de dois anos de investigação por parte da Comissão Independente sobre os Abusos Sexuais na Igreja Católica (CIASE). Este documento estima que entre 1950 e hoje, pelo menos 216 mil menores foram vítimas de agressões sexuais por parte de 2900 a 3200 homens no seio do clero, ou seja pelo menos 2,5% da população de padres e religiosos recenseados durante este período em França.

O dirigente da comissão de inquérito ,Jean-Marc Sauvé, considerou que "sem o testemunho das vítimas, a nossa sociedade estaria ainda na ignorância e na negação daquilo que aconteceu".
O dirigente da comissão de inquérito ,Jean-Marc Sauvé, considerou que "sem o testemunho das vítimas, a nossa sociedade estaria ainda na ignorância e na negação daquilo que aconteceu". AFP - PETER MUHLY
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A Comissão Independente sobre os Abusos Sexuais na Igreja Católica, entidade agregando religiosos, teólogos, especialistas da área da saúde e do direito, criada em finais de 2018 no intuito de restabelecer a confiança no clero, na sequência de uma série de escândalos, apresentou um relatório de 2.500 páginas "com elementos graves", segundo o presidente da entidade, Jean-Marc Sauvé, antigo vice-presidente do Conselho de Estado, para quem "sem o testemunho das vítimas, a nossa sociedade estaria ainda na ignorância e na negação daquilo que aconteceu".

Com base nos resultados de um vasto inquérito efectuado pelo Instituto Nacional de Saúde e Pesquisa Médica (INSERM) sobre uma amostra representativa de 28 mil pessoas, chegou-se à conclusão de que, na globalidade da população francesa, mais de 5 milhões de pessoas com mais de 18 anos foram vítimas de agressão sexual enquanto eram menores, sendo que em termos estatísticos, a comissão estima que as vítimas no seio da Igreja Católica representam 4% do total.

Ainda segundo a Comissão que estima o número de vítimas de padres e religiosos a pelo menos 216 mil menores, este número ascende a um total de 330 mil, se forem acrescentadas as vítimas dos leigos, professores e educadores actuando no seio da Igreja.

Depois de adicionar os testemunhos das vítimas mais recentes a dados de arquivo, o relatório estima que praticamente 56% das agressões ocorreram entre 1950 e 1970. Uma situação que segundo a Comissão Independente se deve ao facto de os efectivos do clero serem naquela época mais importantes -mais de 50 mil pessoas- sendo que os fiéis eram também muito mais numerosos.

Perante esta situação, ao expressar "vergonha" e "horror", o Presidente da Conferência Episcopal de França prometeu que "estas revelações não iriam ficar sem resposta".

A Comissão Independente preconiza uma responsabilização sistémica da igreja, uma indemnização das vítimas, o reforço da vigilância dos antecedentes judiciais de quem trabalha junto de menores nas estruturas da Igreja, assim como a obrigação de denunciar eventuais abusos no seio da Igreja.

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