Cancelamento do Carnaval em Cabo Verde gera frustração no sector empresarial
Pelo segundo ano consecutivo, Cabo Verde não vai realizar qualquer evento de Carnaval devido à pandemia de Covid-19. A decisão foi anunciada pelo governo que o justifica com o “aumento exponencial” dos casos de covid-19 nas últimas semanas. Os operadores turísticos na ilha de São Vicente dizem que o cancelamento do carnaval terá um impacto negativo na vida económica.
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O Carnaval é o maior evento cultural e económico de São Vicente, ilha onde a festa do rei momo tem a sua maior expressão em Cabo Verde. Para o operador turístico, Alexandre Novais, o governo precipitou-se ao cancelar o carnaval deste ano.
“Eu penso que fomos um pouco precipitados a cancelar o Carnaval. Em São Vicente vive-se um carnaval diferente das outras ilhas. E acontece em dois momentos. O carnaval em São Vicente é muito mais do que os desfiles e os grupos. Penso sim que não há condições de se fazer o desfile, no sentido que não há condições para ensaiar e porque já deviam estar a fazê-lo, isto deve ser uma decisão concertada entre o governo e a Liga Independente dos Grupos Oficiais do Carnaval de São Vicente (LIGOC-SV), e diz-se que não fazemos isso. O Carnaval depois é o desfile dos professores, dos alunos do ensino básico e das crianças dos jardins. Penso que, como foi feito para o Ame (Atlantic Music Expo) e o Kriol Jazz, dizer que vamos suspender os ensaios porque não há condições, mas a festa do Rei Momo e a cultura popular à volta do Carnaval deixar e esperar pela evolução. Porque dois meses, sabemos que é muito. Como podemos voltar a zero casos, como podemos estar numa situação calamitosa” explicou o operador turístico, Alexandre Novais.
Também, o empresário Yanick Gomes afirma que o cancelamento do carnaval vai ter impacto negativo e é trágico para economia de São Vicente. “O Carnaval é o que mais movimenta o setor económico nesta ilha, porque não é só o dia dos desfiles, há toda a preparação à volta do Carnaval com os trabalhos nos estaleiros, os projetistas dos carros alegóricos, das fantasias e dos adereços. Há muita gente por traz do evento que é Carnaval. Esse corte é trágico porque seria o momento alto para a economia” disse Yanick Gomes
A empresária Giselle Silva disse que “não ter os eventos que marcam o Carnaval vai afetar drasticamente a economia e a covid já está a afectar, mas estávamos todos esperançosos que este fosse o período que pudéssemos respirar um pouco, agora vamos ter que ser criativos para ver outras opções de trabalho”
O ministro da Cultura e Indústrias Criativas, Abraão Vicente garante que o cancelamento do carnaval foi concertado com a Liga Independente dos Grupos Oficiais do Carnaval de São Vicente.
“Fiz uma audição prévia em Mindelo, onde o Carnaval desempenha um papel económico e social bastante relevante, tive encontros telefónicos com o presidente da Liga Independente dos Grupos Oficiais do Carnaval de São Vicente (LIGOC-SV), que também manifestou a sua abertura para colaborar com o Governo, dado que o ambiente não é propício para se realizar Carnaval. O que nós falamos é manter a verba que está inscrita no Orçamento de Estado para o financiamento do Carnaval, para ao longo do ano, financiarmos um conjunto de actividades de empoderamento dos grupos, nomeadamente compras de kits de Carnaval, batucadas, formações e viagens internacionais para formação, ou seja, vamos continuar a apoiar o Carnaval, mas claramente o contexto não é favorável para a organização de desfile de rua”, disse Abraão Vicente ao especificar que vai “manter o montante de dez milhões de escudos cabo-verdianos [90 mil euros], destinado ao Carnaval 2022”.
Para além do Carnaval, o Governo proibiu as celebrações culturais do Dia de Cinzas e a Corrida da Liberdade que todos os anos acontece a 13 de Janeiro, para assinalar o Dia da Liberdade e Democracia devido ao contexto de pandemia. Actualmente, o país contabiliza 5.351 casos activos de covid-19 num acumulado de 52.007 infecções desde Março de 2020 e 364 óbitos provocados pelo coronavírus.
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