Berlinale: Cartas da guerra, Lobo Antunes em Angola

O filme português Cartas da Guerra, do realizador Ivo Ferreira, foi bem acolhido no Festival Internacional de Cinema de Berlim. Conta a história verdadeira do médico Antonio Lobo Antunes mobilizado para a guerra colonial em Angola, onde ao sentir-se só, num contexto de horror, escreve cartas à esposa.  

A história do alferes António Lobo Antunes em Angola em plena guerra adaptada ao cinema RFI

No filme em preto e branco, rodado em Angola, revivendo o movimento das tropas, são lidos muitos trechos dessas cartas de amor, guardadas pela esposa, transformadas em livro e seleccionadas para o filme pelas duas filhas do casal.

Além de descrever a vida dos soldados na guerra colonial, essas cartas foram os primeiros escritos daquele que se tornaria um dos grandes escritores portugueses, António Lobo Antunes. Diante da miséria presenciada como médico dos soldados, o alferes Antunes contava ter-se consciensalizado da questão colonial e do absurdo da guerra.

Nessa época, 1971, o pai do realizador Ivo Ferreira vivia exilado em Paris, para onde fugiam muitos jovens, antes de serem enviados para a guerra colonial.

Paradoxalmente, foi a guerra colonial que acabou provocando a queda da mais longa ditadura europeia, criada por Salazar.

O filme excelente filme Cartas da Guerra, de guerra e romantismo, está no concurso internacional do Festival de Cinema de Berlim e concorre aos ursos de ouro ou de prata, a serem comunicados no próximo sábado 20, pela actriz Merril Streep, presidente do júri.

O realizador português Ivo Ferreira deu-nos conta da génese do projecto.

Para ele trata-se verdadeiramente de uma "história de amor formidável", apesar "de as personagens não se tocarem fisicamente, eu acho que elas se tocam".

É uma "declaração de amor, o amor é uma âncora e a única coisa que o faz manter vivo ao longo do percurso."

00:55

Ivo Ferreira

Com Rui Martins do Festival de Cinema de Berlim