Robert Mugabe morre aos 95 anos
O ex-Presidente do Zimbabué, Robert Mugabe, morreu, esta sexta-feira, aos 95 anos. Governou o Zimbabué com mão-de-ferro durante 37 anos e foi afastado do poder em 2017, pressionado pelos militares.
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O ex-chefe de Estado do Zimbabué, Robert Mugabe, morreu, esta sexta-feira, com 95 anos, menos de dois anos depois de ter sido destituído após 37 anos no poder.
Robert Mugabe morreu em Singapura, onde estava internado desde Abril. A sua morte foi anunciada pelo actual Presidente Emmerson Mnangagwa na sua conta oficial do Twitter.
"Com uma profunda tristeza, anuncio a morte do pai fundador do Zimbabué e ex-presidente, o comandante Robert Mugabe. O comandante Mugabe era um ícone da libertação, um pan-africano que dedicou sua vida à emancipação [...] de seu povo. A sua contribuição para a história da nossa nação e do nosso continente jamais será esquecida. Que sua alma descanse em paz", completou o Presidente.
Mnangagwa, que foi veterano de guerra e vice-Presidente, foi afastado do poder por Mugabe e esteve na origem da manobra militar que levou à sua destituição, a 21 de Novembro. A 30 de julho de 2018, Mnangagwa ganhou as eleições, apesar de o seu opositor Nelson Chamisa ter rejeitado o resultado eleitoral.
Robert Mugabe: 37 anos no poder com mão de ferro
Robert Mugabe foi o primeiro chefe do Executivo eleito depois da independência do Reino Unido, em 1980, um cargo que ele aboliu, em 1987, ao tornar-se Presidente.
Nascido em 21 de fevereiro de 1924, o emblemático líder iniciou a sua luta política aos 36 anos, militando em vários grupos na luta de independência da então Rodésia do Reino Unido. Foi preso em 1964 e passou uma década na prisão, tendo sido forçado a viver no exílio.
Depois, foi um dos signatários dos "acordos da Casa de Lancaster", que enterraram a antiga Rodésia e deram origem à nova República do Zimbabué em 1980, quando Mugabe foi eleito primeiro-ministro.
Iniciou uma política de reconciliação, elogiada pelas capitais estrangeiras e chegou a oferecer importantes posições ministeriais aos colonos brancos, tendo permitido que o líder Ian Smith permanecesse no país.
Porém, em 1982, enviou o exército para a província dissidente de Matabeleland, iniciando uma repressão que causou, até o final de 1987, mais de 20.000 mortos.
Na década de 2000, Mugabe começa a política de expropriações de milhares de fazendas de ocidentais para distribuir a terra entre a população negra do país. A maioria dos 4.500 fazendeiros brancos são forçados a deixar o Zimbabué. A reforma precipita o colapso da economia já fragilizada, com 90% de desemprego.
Assim, durante os 37 anos esteve à frente do Zimbabué, num dos períodos mais longos de um governo no continente africano, passou de herói da independência e amigo do Ocidente a tirano que provocou o colapso económico do país.
O "camarada Bob", considerado como alguém insuperável, foi abandonado progressivamente por pessoas que eram leais ao regime de Mugabe.
Aos 93 anos, Mugabe anunciou a sua intenção de se recandidatar, mas a 14 de Novembro de 2017 o alto comando do Exército assumiu o controlo do país e dias mais tarde Mugabe viu-se obrigado a demitir-se, deixando o país numa profunda crise económica.
Recordado como "pai da independência" do Zimbabué
A morte do antigo Presidente do Zimbabué não deixou de suscitar reacções pelo mundo fora. Ao "expressar as suas condolências àqueles que estão de luto pela morte de Robert Mugabe", a antiga potência colonial, a Grã-Bretanha não deixou de denunciar o sofrimento dos zimbabueanos "durante um reinado autocrático". Palavras que contrastaram com os termos usados pelos restantes países para recordar Robert Mugabe. "Combatente da libertação" para o presidente da África do Sul, "dirigente excepcional para Pequim, um líder que "deu um grande contributo pessoal à independência" segundo Putin, "um digno filho de África" para o Presidente congolês ou ainda um "farol da liberdade" para o chefe de Estado do Quénia.
Robert Mugabe foi globalmente homenageado como herói da independência do seu país, este tendo sido também o aspecto destacado pelo antigo Presidente de Cabo Verde, Pedro Pires, ao recordar a figura do antigo chefe de Estado do Zimbabué.
Antigo presidente de Cabo Verde, Pedro Pires
Emmerson Mnangagwa acaba de declarar Robert Mugabe, "Herói Nacional". o presidente do Zimbabué recordou o antecessor como "ícone da libertação... um pan-africanista que dedicou a vida à emancipação do seu povo".
Eugénio Costa Almeida, investigador angolano do Centro de Estudos Internacionais do ISCTE-IUL, em Lisboa, lembra os países que o Zimbabué ajudou e fala no respeito que existe à volta da figura de Mugabe.
Eugénio Costa Almeida, investigador angolano do Centro de Estudos Internacionais do ISCTE-IUL
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