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Revolução dos Cravos

50 anos do 25 de Abril: As vozes da resistência ao Estado Novo

Para marcar os 50 anos do 25 de Abril, a RFI ouviu vários resistentes à ditadura portuguesa. Em Paris e em Lisboa, conversámos com pessoas que viveram a repressão, a censura, a prisão, a clandestinidade, a luta armada, o exílio, a guerra e a “Revolução dos Cravos”. 

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test © Carina Branco/RFI
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Para marcar os 50 anos da "Revolução dos Cravos", a RFI publica uma série de entrevistas de resistentes à ditadura portuguesa que estão disponíveis na nossa página e em formato podcast.

“Sem memória não há futuro” é uma das frases que se lê no Museu do Aljube - Resistência e Liberdade e que alerta para a necessidade de recordar as vozes dos resistentes que a ditadura portuguesa tentou calar. Entre elas, por exemplo, Helena Pato, autora do livro “A Noite Mais Longa de Todas as Noites”, que luta, ainda hoje, para que “a noite” do fascismo não regresse a Portugal. Helena Pato recordou-nos o que era a tortura do sono, as alucinações, os cuidados conspirativos, a perseguição e a obrigação de deixar Portugal por motivos políticos.

Aos 86 anos, Maria Teresa Horta contou-nos como o seu espancamento na rua por fascistas levou à escrita do livro “Novas Cartas Portuguesasque teve um “efeito de bomba” contra o regime ditatorial e que levou Marcello Caetano a dizer, na televisão, que havia "três mulheres que não são dignas de ser portuguesas, Maria Teresa Horta, Maria Isabel Barreno, Maria Velho da Costa".

Helena Neves também teve dois livros apreendidos pela PIDE e teve de fintar o “lápis azul” em tempos de censura. Estava presa em Caxias a 25 de Abril de 1974, pela terceira vez, e contou-nos as lutas que travou durante a ditadura e as torturas que sofreu nas mãos da PIDE.

Outra mulher revolucionária e que, desde as lutas estudantis de 1962 subiu ao palanque para dizer que as mulheres não são apenas o descanso do guerreiro, elas são o guerreiro também” é Isabel do Carmo. Foi co-fundadora das Brigadas Revolucionárias, uma das organizações de resistência armada à ditadura portuguesa, e contou-nos algumas das acções mais emblemáticas do grupo.

Ouvimos, ainda, Raimundo Narciso, um dos fundadores da ARA, Acção Revolucionária Armada, o braço armado do PCP entre 1970 e 1973, e Maria Machado, a esposa que ajudava a preparar engenhos explosivos na cozinha...

Fomos à procura, também, de antigos membros da LUAR, a Liga de União e de Acção Revolucionária. Em Paris, falámos com Armando Ribeiro, um dos fundadores, que era chamado “comandante” pelos companheiros e “falsificador” pela PIDE. Recordou-nos, por exemplo, como transportou armas 3.000 quilómetros Europa fora sem nunca terem sido detectadas. Em Lisboa, encontrámos Joaquim Alberto Simões, antigo diácono e seminarista que diz que “os ditadores riem-se dos papéis” e que não aceitou que um regime político submetesse o povo à repressão, à miséria, ao analfabetismo e ao castigo permanente. Ainda na capital portuguesa, conversámos com Fernando Pereira Marques que ajudou o líder da LUAR, Hermínio da Palma Inácio, a fugir da prisão da PIDE no Porto. Nesta história “cinematográfica”, os ingredientes foram: meia dúzia de serras, uma agenda almofadada, latas de leite em pó, pão e pantufas.

Outra fuga histórica e igualmente “cinematográfica” foi a de Domingos Abrantes e mais sete camaradas do PCP. Ele contou-nos como fugiu de Caxias num carro blindado de Salazar e como casou em Peniche com Conceição Matos, outra resistente que nos falou das terríveis torturas que sofreu nas mãos da PIDE.

As cadeias eram centros de organização política” durante o Estado Novo e “Peniche foi uma grande escola”, recordou-nos o historiador Fernando Rosas que conheceu as prisões do regime ditatorial português. A repressão aumentou a revolta dos que passavam nas prisões e aí se prepararam “para continuar a luta a seguir”.

Ouvimos, ainda, Francisco Fanhais que assumiu a música como uma forma de resistência à ditadura portuguesa e, em 1971, esteve com José Afonso, José Mário Branco e Carlos Correia no Château d’Hérouville a gravar a música que ainda hoje é o emblema da Revolução dos Cravos: “Grândola Vila Morena”.

Sérgio Godinho também nos falou sobre os tempos da ditadura, do exílio e dos primeiros discos emblemáticos, mas avisou que não se revê na etiqueta de música de intervenção. Ainda assim, as suas canções continuam a ser símbolos de liberdade e de resistência.

Pode também ouvir a entrevista com Vasco Lourenço, um dos mais conhecidos "capitães de Abril", que conspirou para o golpe que acabou com 48 anos de ditadura em Portugal e que nos recordou as origens da conspiração, o 25 de Abril e a importância que este teve para Portugal e para os territórios que lutavam pela independência.

Ainda pode ouvir episódios com "invisíveis" que lutaram contra a guerra colonial e a ditadura a partir de Paris, como Vasco Martins que nos falou, por exemplo, da casa que recebeu desertores na Rue du Moulinet. Ouvimos, ainda, Gonçalo Ramos Rodrigues que cresceu na clandestinidade em Portugal e foi obrigado a exilar-se em Paris, onde continuava a lutar contra o regime.

Por outro lado, o historiador Victor Pereira apresentou-nos o 25 de Abril não apenas como o derrube da ditadura e de um império colonial, mas também como “uma revolução social”. No livro “C'est le peuple qui commande - La Révolution des Oeillets 1974-1976”, o investigador franco-português abana uma certa “visão idealizada” da História e quebra tabus nas narrativas institucionalizadas sobre a Revolução dos Cravos, alertando nomeadamente contra as ameaças da extrema-direita nas vésperas dos 50 anos do 25 de Abril.

Fomos também falar com o realizador José Vieira que escreveu o seu primeiro livro depois de uma vasta obra de documentários sobre a emigração portuguesa para França. Para ele, essa emigração, nos anos 60 e 70, foi “uma sublevação clandestina” contra a ditadura porque “partir é resistir”.

Ainda em França, fomos à Maison de la Danse, a Lyon, no âmbito das comemorações dos 50 anos da “Revolução dos Cravos”. A dupla Jonas & Lander falou connosco sobre a peça Bate-Fado que liberta o fado dos tempos da ditadura. Também estivemos à conversa com dois dos convidados da conferência “50 anos depois: as repercussões mundiais da Revolução dos Cravos”.

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