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Gabão

Gabão: Nguema poderá "ficar no poder" indefinidamente, segundo analista Olívio Diogo

No mesmo dia em que o general Brice Oli Nguema tomou posse como Presidente da transição no Gabão, prometendo novas eleições sem avançar data, os dirigentes da Comunidade Económica dos Estados da África Central (CEAAC) reuniam-se na Guiné Equatorial para debater a situação. Em entrevista à RFI, o analista político são-tomense Olívio Diogo, lamentou o facto da situação no Gabão ser "deplorável" já antes do golpe de Estado.

O general Brice Oligui Nguema tomou posse como Presidente da transição a 4 de Setembro de 2024.
O general Brice Oligui Nguema tomou posse como Presidente da transição a 4 de Setembro de 2024. © AFP
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Para Olívio Diogo, analista político são-tomense, não se deve "esperar grande coisa da CEEAC" e a única medida que a organização pode exigir é uma "tentativa de negociação com os actuais líderes militares no poder" no Gabão. Por outro lado, a situação no Gabão antes da tomada de poder dos militares, era, segundo o analista, "deplorável". 

A CEEAC descartou a possibilidade de uma intervenção militar, isto é uma posição que poderá vir a mudar? 

Não vai mudar, porque não faz sentido nenhum a CEEAC partir para uma medida de força no Gabão. A CEEAC sabe perfeitamente que esta medida de força não resolverá o problema. Os membros da CEEAC também sabem, todos eles, que a situação no Gabão era completamente deplorável. 

Não se pode aceitar a subversão da ordem, da mesma forma que não se pode aceitar a outra forma que estava constituída, que era uma ordem que punha em causa a liberdade, a democracia, e o desenvolvimento dos países. Por isso é que acredito que o máximo que pode acontecer é os países-membros da CEAAC tentarem encontrar uma negociação para marcar umas eleições em que os partidos políticos possam concorrer. 

As reacções internacionais têm sido menos severas em relação ao golpe de Estado no Gabão do que no Níger. Alguns dirigentes internacionais explicam esta reticência argumentado com as irregularidades que ocorreram durante as eleições em que Ali Bongo foi declarado como vencedor. Como se deve interpretar esta diferença de reacções? 

Todos nós sabemos, aqui na sub-região, que estes resultados que ocorreram este ano não são diferentes dos resultados que ocorreram há quatro anos atrás. Todos os observadores que estiveram no Gabão há quatro anos atrás já tinham concluído que as eleições tinham sido fraudulentas. Mas fomos assistindo àquilo e perpetuando. Desta vez, foi muito mais flagrante. É perceber que, à parte a tomada do poder pelos militares, todos os outros ingredientes estão a favor da retirada do poder do Ali Bongo. Isto é uma realidade. Toda a comunidade africana e mesmo internacional sabe que esta subversão é uma subversão necessária. Só que sendo nós conviventes da democracia, temos que mostrar pressão sempre que há uma subversão à ordem em qualquer lado. 

A situação no Níger é diferente. Esta, é a subversão da ordem de um Governo que foi eleito de forma quase fraudulenta. Este resultado de 66% que o Ali Bongo obteve, qualquer pessoa que faça uma avaliação a este resultado apercebe-se que não é o resultado decorrente de uma eleição universal livre e transparente. 

Ontem no Gabão, o general Brice Nguema reuniu-se com a sociedade civil para debater o processo de transição e deve hoje tomar posso como Presidente da transição. Acredita que a tomada de poder será apenas temporária e que novas eleições virão a ser organizadas ?  

Espero que o Brice Nguema cumpra os preceitos mas sabemos que aqui em África vários Presidentes assumiram posse como interinos mas acabaram ficando no poder durante muito mais tempo. Creio que isto é o que vai acontecer. 

Como é que a população e a classe política reagem a esta situação, no seu país, São Tomé e Príncipe?

São Tomé e Príncipe está a viver duas posições. Há a posição da classe política, do Presidente e do Primeiro-Ministro, que consiste em condenar o golpe de Estado. Mas a população toda, todos os partidos políticos, todos estão a favor dessa subversão da ordem constitucional no Gabão. Eu repito, toda a população está a favor dessa subversão da ordem. 

Portanto a favor do grupo de militares que tomou o poder? 

Exactamente. Se falar com alguém, vê que todos estão a favor desta posição. Mas, políticamente, os nossos dirigentes têm que ter uma posição democrática e realmente condenaram os militares. Agora, nós pensamos que se deve criar as condições de um Governo de transição para que haja uma nova eleição, para que o Gabão torne à sua normalidade para o bem de todos nós.     

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