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Mali

O Exército francês conclui a sua retirada do Mali após uma presença de 9 anos

Cerca de nove anos depois de terem chegado ao Mali para lutar contra os grupos jihadistas que na altura controlavam o norte do país e pretendiam instaurar um ‘califado’, as tropas francesas concluíram esta segunda-feira a sua retirada num contexto de relações cada vez mais tensas entre Paris e Bamaco, cuja Junta Militar no poder acusa a França de «postura neocolonial».

Um militar francês da força Barkhane em Abril de 2022.
Um militar francês da força Barkhane em Abril de 2022. © Katucya Barolin, armée française, via AP
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«Hoje, às 13 horas (hora de Paris), o último destacamento da Força francesa Barkhane presente em território maliano, transpôs a fronteira entre o Mali e o Níger» anunciou o Estado-Maior das Forças Armadas Francesas sublinhando que o processo decorreu de forma «ordeira e segura».

Por sua vez, ao declarar que a França «permanece empenhada no Sahel, no Golfo da Guiné e na região do lago Chade juntamente com todos os parceiros em prol da estabilidade e da luta contra o terrorismo» a Presidência francesa saudou a acção dos militares franceses durante os nove anos que permaneceram no país.

59 elementos das forças francesas pagaram este compromisso «com o preço da sua vida» recordou ainda o Presidente francês ao sublinhar que eles «impediram a constituição de um califado territorial e lutaram contra os grupos terroristas que afectam as populações locais e ameaçam a Europa».

Lançada em 2013, com o norte do Mali a cair nas mãos dos terroristas, a operação francesa ‘Serval’ tinha por intuito impedir a chegada dos jihadistas a Bamaco. Em Agosto de 2014, a operação doravante denominada ‘Barkhane’ tinha como pressuposto lutar contra os grupos jihadistas disseminados pela zona do Sahel, tendo chegado a mobilizar 5.500 homens em 2020.

Um processo que interina a distância que se instalou entre Paris e as autoridades malianas

Entretanto, depois dos golpes militares no Mali em 2020 e sobretudo em 2021, ano que marcou o início de uma séria deterioração das relações entre Bamaco e Paris, a França começou a encarar a possibilidade de redefinir a sua presença na região.

No passado mês de Fevereiro, o Presidente francês anunciou que as forças do seu país iriam deixar o Mali e, em Julho, disse que iria redistribuir pelo Níger e o Chade a presença francesa doravante reduzida a 2.500 homens até ao final deste ano.

Esta retirada das forças francesas acontece num contexto em que a Junta Militar tem sido acusada pela ONU, os Estados Unidos e pela própria França, de recorrer ao apoio da organização paramilitar russa Wagner, próxima do Kremlin. Até agora, Bamaco sempre desmentiu estas afirmações, reconhecendo apenas beneficiar de formações de peritos militares russos.

Em Maio, o Mali rompeu os acordos de cooperação em matéria de defesa que o ligavam a França. A Junta Militar também desligou-se do G5, o grupo de países da região envolvidos na luta contra o jihadismo e, nas últimas semanas, tem vindo igualmente a aumentar o mal-estar entre as autoridades malianas e a ONU.

Isto traduziu-se nomeadamente pela detenção no passado dia 10 de Julho de 49 soldados marfinenses ligados à Minusma (segundo a Costa de Marfim e a própria ONU) sob a acusação de serem "mercenários" e de "tentar atacar a segurança" do Estado. Estas acusações sempre desmentidas por Abidjan foram formalizadas por Bamaco, segundo anunciou hoje oficialmente a justiça maliana.

Perito da ONU afirma que o Mali vive «num clima instável»

De referir ainda que o fim da retirada das tropas francesas do Mali, coincide com a divulgação hoje das primeiras conclusões de um perito da ONU sobre a sua recente visita de 10 dias ao Mali. Segundo Alioune Tine, o Mali está a viver «num clima instável», com um forte aumento das violações dos Direitos Humanos.

Em comunicado publicado esta segunda-feira, o perito mandatado pelo Conselho da ONU para os Direitos Humanos refere nomeadamente que «este clima levou vários actores à autocensura, por recearem represálias por parte das autoridades de transição malianas e/ou dos seus apoiantes».

Ao dar conta de uma crescente crispação das autoridades malianas de transição, Alioune Tine refere ter observado o recrudescimento dos ataques jihadistas no norte e no centro do país, assim como nas imediações da capital.

O perito da ONU deu igualmente conta do aumento «preocupante» das violações dos Direitos Humanos atribuídas às Forças de Defesa e Segurança do Mali. «Fiquei particularmente chocado ao ver com os meus próprios olhos vítimas com marcas visíveis nos seus corpos das torturas atrozes, cruéis e bárbaras que sofreram nas mãos das forças de segurança malianas», disse Alioune Tine que no âmbito dos 10 dias da sua visita ao país esteve reunido com as autoridades malianas, organizações da sociedade civil e associações de vítimas, organizações não-governamentais, diplomatas e responsáveis das agências das Nações Unidas no local.

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