Sudão: primeiro-ministro voltou a deixar o cargo
O Sudão voltou a ficar sem primeiro-ministro com nova demissão do cargo de Adballah Hamdok. O poder em Cartum volta a ficar concentrado nas mãos dos militares. Desde o golpe de Estado de 25 de Outubro de 2021 57 manifestantes teriam morrido segundo um sindicato de médicos pró democracia.
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Segundo a Organização das Nações Unidas houve também registo de violações de manifestantes, muitos jornalistas foram espancados e até detidos, com cortes da rede telefónica e da internet por parte do poder em Cartum.
O poder civil parece cada vez mais ausente com nova demissão do primeiro-ministro.
Abdallah Hamdock, primeiro-ministro, apresentou a sua demissão, ele que tinha voltado ao cargo no final de Novembro após um mês sob residência vigiada.
Analistas do Sudão alegam que Hamdock tinha ficado paralisado e sem a mínima capacidade de intervenção pelo que a sua saída seria inevitável.
Este é o parecer de Daniela Nascimento, especialista do Sudão na Universidade de Coimbra, em Portugal.
Daniela Nascimento, especialista do Sudão, 3/1/2022
"A meu ver criou-se novamente alguma expectativa em torno daquilo que seria a capacidade de Hamdock conseguir um compromisso mais alargado entre os militares e os movimentos civis. Algo que, efectivamente, não se concretizou. Portanto o Hamdock nunca foi, a meu ver, necessariamente a âncora do movimento civil, de todos os movimentos que, de alguma maneira, se organizaram em massa.
Também rompendo com aquela imagem de que não haveria vontade de transformação e de mudança rumo à paz no Sudão. Portanto eu acho que a saída do Hamdock neste momento era inevitável. Dada a sua incapacidade de demonstrar, não apenas esse compromisso entre militares e civis, mas, sobretudo aquilo que era, que é a vontade, o projecto político dos movimentos civis.
E, portanto, muito rapidamente se percebeu, até relativamente ao acordo mais recente entre militares e civis, que os militares nunca iriam deixar o poder, nem nunca iriam permitir a verdadeira transição pacífica no Sudão."
Este abandono poderia ser um regresso à ditadura e a um regime militar.
Desde a queda do antigo presidente Omar al Bashir em 2019 que os militares conservam o poder, não obstante ser suposto ele ser partilhado com os civis.
O general Abdel Fattah al Burhane avançou com um decreto que garante a impunidade, segundo a agência AFP, das forças de segurança ao lhes dar poderes contemplados numa "lei de emergência" herdada da era do presidente al Bashir.
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