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Etiópia

ONU obtém acesso ilimitado às zonas controladas pelo governo etíope no Tigré

O governo etíope concedeu às Nações Unidas um acesso humanitário "ilimitado" nas zonas que controla no Tigré, no extremo norte da Etiópia, na sequência de cerca de um mês de conflito armado entre as tropas governamentais e as forças da Frente de Libertação do Povo do Tigré (TPLF), partido que até agora governava a região e estava a desafiar a autoridade central havia meses. A ONU que vinha tecendo alertas sobre uma possível catástrofe humanitária resultante desta guerra diz agora esperar regressar ao terreno "o mais rapidamente possível".

Deslocados oríundos do Tigré num campo de refugiados do vizinho Sudão, no dia 1 de Dezembro de 2020.
Deslocados oríundos do Tigré num campo de refugiados do vizinho Sudão, no dia 1 de Dezembro de 2020. Yasuyoshi CHIBA AFP
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"É um acordo que deve garantir às Nações Unidas e às organizações humanitárias um acesso às áreas do Tigré que estão agora sob controlo do governo, para que possamos finalmente prestar ajuda humanitária às pessoas que foram afectadas pelo conflito e também para aquelas pessoas que já estavam no Tigré a precisar de ajuda humanitária", explicou à RFI Saviano Abreu, porta-voz da missão humanitária da ONU, referindo-se ao acordo que abre o acesso ao pessoal humanitário não só ao Tigré, como também às áreas vizinhas de Amhara e Afar.

Desde o começo das operações militares de Addis Abeba no Tigré, há cerca de um mês, aquela zona ficou totalmente cortada do resto do mundo, tanto em termos de comunicações como a nível de acesso físico. "Infelizmente o black-out ainda continua. O que sabemos é que os nossos colegas estão a chegar numa situação muito difícil de escassez total dos mais diversos produtos para conseguir manter a resposta humanitária", afirmou Saviano Abreu.

De acordo com a ONU, já antes do conflito no Tigré, cerca de de 600.000 pessoas, entre as quais 96.000 refugiados eritreus repartidos por quatro campos naquela região, eram totalmente dependentes da ajuda alimentar. Apesar de indicar que a ONU tentou na medida das suas possibilidades continuar a dar uma resposta humanitária durante o conflito, Saviano Abreu reconheceu que a instituição "não tem alimentos suficientes para conseguir oferecer ajuda a essas pessoas" e que ela "está a preparar-se para se deparar com pelo menos 1.100.000 pessoas com necessidade de ajuda humanitária devido ao conflito do Tigré." Ao referir ainda que a maioria das pessoas "não recebeu ajuda alimentar no mês de Novembro", Saviano Abreu falou em "situação crítica" com a possibilidade de haver "pessoas já em situação de fome e de malnutrição".

Em termos de segurança, as condições também ainda são precárias. O chefe do governo etíope anunciou no Sábado passado que as tropas de Addis Abeba tinham tomado o controlo de Mekele, capital do Tigré, durante aquela que foi tida como "a batalha final" para a reconquista daquele território que estava nas mãos dos secessionistas. Estes últimos, por sua vez, retorquiram esta semana que "a guerra ainda não terminou".

Daí que a ONU está a tentar obter garantias suplementares."Estamos a ver com o governo e com todas as partes envolvidas no conflito como podemos garantir a segurança do nosso pessoal humanitário no terreno e também dos civis que estão no Tigré", sublinhou Saviano Abreu chamando igualmente a atenção para as mais de 45.000 pessoas que fugiram do conflito e no Tigré rumo ao vizinho Sudão. "Fazemos um apelo à comunidade internacional para que aumentem o seu apoio às organizações humanitárias da ONU e das ONGs que estão dos dois lados da fronteira, tanto no Tigré quanto no Sudão para que possamos oferecer a ajuda necessária às pessoas que foram afectadas e ainda estão a ser afectadas por este conflito", concluiu o porta-voz da missão humanitária da ONU.

De referir que no aspecto político, depois de anunciar ter retomado o controlo militar, o governo etíope cujo objectivo é substituir o governo local -até agora controlado pelo TPLF- por "instituições legítimas", acabou de nomear Mulu Nega, um antigo alto funcionário, para chefiar a autoridade provisória do Tigré. Paralelamente, esta quarta-feira, o Primeiro-ministro etíope, Abiy Ahmed, manteve contactos com os partidos políticos e a sociedade civil no âmbito dos preparativos para as eleições nacionais, marcadas para meados de 2021 e consideradas como sendo um passo importante rumo às reformas democráticas que prometeu para o seu país quando foi eleito em 2018.

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