Sudão: Darfur Norte em estado de emergência
Decretado esta terça-feira o estado de emergência, após um ataque de homens armados desconhecidos contra um campo de deslocados, em Fata Borno, que provocou pelo menos 9 mortos e 14 feridos, no seio de um grupo que protestava contra as deploráveis condições de vida no acampamento, no norte da conflituosa região sudanesa de Darfur.
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Há quase um mês que manifestações pacíficas ocorrem em várias cidades do Estado de Darfur, reivindicando segurança e exigindo o fim das milícias armadas e dos dirigentes corruptos vindos do antigo regime do Presidente Omar al Bashir, derrubado pelos militares a 11 de Abril de 2019, após 30 anos de poder e acusado pelo TPI de genocídio, crimes de guerra e crimes contra a humanidade cometidos em Darfur.
O porta-voz da Coordenadora de Refugiados e Deslocados, Mohamed Yehia Abu Bakr, afirma que homens armados desconhecidos, em carros e motociclos, dispararam esta segunda-feira (13/07) contra os habitantes de Fata Borno, na província de Kutum, que pediam melhores condições de vida e de segurança no acampamento.
Abu Bakr afirmou que os autores do ataque vestiam uniforme militar, mas não especificou de que ramo do Exército ou da polícia sudanesa e acrescentou que as vítimas podem aumentar porque há feridos graves.
Em Kutum, as forças de segurança teriam desmantelado um "sit-in" com gazes lacrimogéneos e disparos de balas reais e uma esquadra e vários veículos teriam sido destruidos.
Uma equipa da UNAMID - força de interposição da ONU está na região desde segunda-feira.
As autoridades do Estado de Darfur Norte decretaram esta terça-feira (14/07) o estado de emergência até nova ordem, depois do sucedido e após os protestos nas localidades de Fata Borno e Kabkabiya.
Em comunicado, o comité de segurança da zona disse que alguns "infiltrados", procuram desestabilizar a situação no Darfur Norte e anunciou que vários foram presos, sem especificar o número, nem a que grupo ou milícia pertencem.
Mesmo assim, as autoridades reforçaram a segurança em Fata Borno e Kabkabiya e reconheceram que as exigências dos deslocados e deslocados são "legítimas", bem como as dos camponeses, que exigem maior protecção face a ataques e saques de grupos armados.
O major-general Malik Al Tayeb afirma que elementos exteriores tentam explorar o descontentamento dos habitantes, para criar insegurança e desestabilizar a região e relançar a guerra em Darfur, em plenas negociações de paz entre o poder central e os movimentos armados.
Este mês também ocorreram protestos na zona central de Darfur por parte de camponeses, que pedem maior proteção às autoridades, perante o aumento dos ataques armados, saques e violações de mulheres.
A maioria dos habitantes de Darfur pertence ao grupo étnico africano Al Fur e acusa as milícias árabes de os atacar, mais de uma década depois da rebelião armada dos habitantes não árabes desta região contra o regime de Cartum.
Atualmente, o Conselho Soberano, o governo sudanês que lidera a transição para a democracia desde agosto, após o derrube em abril do ditador Omar al Bashir, ultima os detalhes de um acordo de paz com os grupos rebeldes de Darfur.
A ong Aministia Internacional acusa uma milícia armada afiliada às forças de segurança sudanesas e pede às autoridades que investiguem as suas operações de segurança em Darfur e garantam que estas têm como objectivo proteger a população civil, contra ataques deliberados de milícias armadas, que há 17 anos violam os direitos humanos e gozam de immpunidade.
Desde 2003 a violência entre estes grupos armados e as forças de segurança provocou a morte de mais de 300.000 pessoas e mais de doi milhões de deslocados.
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