Gabão: "França vai perdendo influência no continente africano"
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O Gabão foi palco esta quarta-feira, 30 de Agosto, de uma tentativa de golpe por parte das forças militares. "O continente africano volta a ser palco de mudanças de poder inconstitucionais. Estes golpes de Estado são o resultado de uma degradação profunda dos regimes instalados", descreve o professor na Universidade Eduardo Mondlane em Moçambique e investigador associado na Sciences-Po em Bordéus, Régio Conrado.
O Gabão foi palco esta quarta-feira, 30 de Agosto, de uma tentativa de um golpe por parte das forças militares. Os militares referem ter anulado as eleições que deram a vitória ao presidente Ali Bongo Ondimba. Num discurso aos embaixadores franceses pelo mundo a primeira-ministra francesa Élisabeth Borne não escondeu a preocupação com o que se passa no Gabão.
"O que está a acontecer é profundamente grave no sentido que o continente africano volta a ser palco de mudanças de poder inconstitucionais, mas é preciso de dizer que estes golpes de Estado são o resultado de uma degradação profunda dos regimes instalados", descreve Régio Conrado, professor na Universidade Eduardo Mondlane em Moçambique e investigador associado na Sciences-Po em Bordéus.
Há 14 anos no poder, depois de suceder o seu pai, Omar Bongo, o actual Presidente Ali Bongo foi proclamado vencedor das eleições presidenciais de 26 de Agosto. "O actual regime de Ali Bongo é um regime que está no poder há quase 60 anos o que agrava, cada vez mais, a situação. As instituições não se conseguiram consolidar no processo de democratização do continente africano, o desenvolvimento ficou aquém das expectativas dos diferentes grupos sociais, a miséria instalou-se de forma estruturante. O Gabão tem quase 2 milhões de habitantes; É um dos países mais importantes na produção de petróleo e não faz sentido que as pessoas vivam nas condições em que vive", aponta o investigador.
"França perde influências no continente africano"
O continente africano foi testemunha de sete golpes de Estado desde Agosto de 2020. O mais recente no Gabão esta terça-feira. "A consagração deste golpe no continente africano, sobretudo na África francófona, deve ser compreendido como a consagração daquilo que são as independências dos países africanos, na concepção dos golpistas. Toda a estrutura discursiva dos militares é que é necessário restaurar a boa governança, restaurar a independência e autonomia desses países. Para a França a situação é gravíssima porque a França vai perdendo uma parte das suas influências no continente africano. O Presidente Macron reconheceu no deu discurso aos embaixadores que é preciso não ser paternalista para com continente africano, mas é preciso defender os interesses da França. A França e o Presidente francês chegam à conclusão que o paternalismo, o neocolonialismo e tentativas de controlo e de substituição dos exércitos nacionais pela presença militar francesa degradou a imagem da França", descreve Régio Conrado.
O investigador acrescenta, ainda, que se "a França não mudar a sua relação com os países africanos haverá, cada vez mais, contestações, revoltas e violência contra aquilo que são os interesses franceses no continente africanos. Neste momento, as relações da França com a Costa do Marfim e o Senegal - onde a França tem bases militares - pode degradar a imagem da França porque vai aprofundar o sentimento anti-francês. O continente africano não é um continente que precisa de forças estrangeiras a ocupar o território, como é o caso da França", aponta.
"Dentro do exército e das forças de segurança do Gabão existe um sentimento muito patriótico, muito nacionalista, anti-colonial e anti-francês que pode definir o tipo de relação entre os dois países. Jean Luc Mélenchon escreveu, recentemente, que mais uma vez o Presidente francês cometeu o erro estratégico de proteger o que não é possível proteger, neste caso a família Bongo. A França fica preocupada com a situação do Níger por causa do urânio e pode perde parte da sua importância estratégica no mundo quando se fala de produção de urânio", concluiu.
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