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Vida em França

França: sindicatos convocam novo protesto contra reforma das pensões

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Em França, a contestação social contra a reforma das pensões parece estar longe de terminar. Emmanuel Macron já promulgou a lei que preconiza a passagem da idade da reforma dos 62 para os 64 anos, no passado dia 15 de Abril, mas tanto os sindicatos, como os partidos da oposição querem que o Presidente recue e retire a contestada reforma, que deve entrar em vigor já em Setembro.

Manifestação contra a reforma do sistema de pensões, em Paris.
Manifestação contra a reforma do sistema de pensões, em Paris. © Damian Vasile / RFI
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Na passada segunda-feira, Dia do Trabalhador, mais de 780 mil pessoas saíram às ruas francesas, naquele que acabou por se transformar num 13° dia de mobilização sindical contra a reforma.

Vítor Pereira, historiador radicado durante largas décadas em França, defende que o feriado do primeiro de Maio levou muita gente às ruas, não só para celebrar esta data, como também para dar continuidade ao movimento reinvindicativo.

"Obviamente que ser o 1° de Maio, dia dos Trabalhadores, que é um dia importante para os sindicatos e para os partidos de esquerda, fez com que este ano nas mobilizações contra a reforma do sistema de pensões existisse muito mais gente do que habitualmente É uma conjugação entre esse dia particular da história e práticas da esquerda e dos sindicatos e essa continuação do movimento, que depois da promulgação da lei, pelo Presidente da República, o movimento ainda está à procura de formas de atuação", começou por referir, em entrevista à RFI.

Para o nosso entrevistado, o 1° de Maio é uma forma simples de mostrar que "grande parte dos trabalhadores continuaram a querer, pelo menos, a suspensão da lei".

O protesto da passada segunda-feira ficou marcado por um aumento da violência, conforme já denunciou o executivo francês. Um polícia foi inclusivamente queimado, de forma propositada, com um cocktail molotof e um prédio acabou por ser incendiado por membros mais radicais, os chamados Black Blocks

De acordo com Vítor Pereira, no início do movimento contra a reforma do sistema de pensões, "os sindicatos conseguiram controlar as manifestações e não houve grandes momentos de violência", algo que tem vindo a alterar-se nos últimos meses.

O movimento reinvindicativo tornou-se mais expressivo, depois de, a meio de março, o executivo ter decidido passar a reforma, através de um decreto, sem votação parlamentar, com recurso ao artigo 49.3 da Constituição Francesa. Emmanuel Macron temia não ter maioria suficiente para aprovar esta reforma, que foi uma das principais promessas deste seu segundo mandato.

"Depois da utilização do artigo 49.3, houve uma certa radicalização do movimento, com manifestações selvagens e houve mais actos de violência pelos ditos Black Blocks, que, obviamente, são uma minoria no conjunto dos manifestantes, mas cujos efeitos podem ser perigosos perante a polícia ou bens. Não se sabe muito bem como parar esse movimento, que é autónomo dos sindicatos e dos movimentos sociais", salientou.

Elisabeth Borne deve endereçar convite aos sindicatos nos próximos dias

A primeira-ministra francesa, Elisabeth Borne, deverá convidar, no decurso "dos próximos dias" os sindicatos a voltarem a sentar-se à mesa das negociações, após uma primeira reunião infrutífera, que teve lugar a 05 de Abril.

Laurent Berger, líder da principal central sindical do país, a reformista CFDT, já se mostrou disponível para ir ao encontro, uma posição que diverge de Sophie Binet, da CGT, que diz que só se irá reunir com a chefe do executivo se o governo retirar a reforma do sistema de pensões.

Vítor Pereira considera que o fim desta união sindical, após se ter assistido a uma frente unida inédita, é uma hipótese plausível.

"Esse foi o objetivo do governo, desde o início, que era tentar dividir os sindicatos e esperar que a CFDT que tem essa tradição de ser reformista, isto é, de aceitar, conciliar acções com o governo, possa separar-se do resto da intersindical", defendeu.

Sindicatos convocam novo dia de manifestação nacional para 06 de Junho

Os sindicatos convocaram, entretanto, uma nova jornada de mobilização, a nível nacional, para o próximo dia 06 de Junho, dois dias antes da discussão de uma proposta de lei na Assembleia Nacional [Câmara Baixa do Parlamento], por iniciativa dos deputados centristas e regionalistas Liot. O objetivo é revogar a medida que preconiza a passagem da idade da reforma dos 62 para os 64 anos.

Vítor Pereira não acredita que esta proposta de lei seja bem sucedida. "[ As hipóteses] são bastante remotas porque, como se viu, a moção de censura [apresentada também pelos deputados do grupo Liot] não passou. Faltaram poucos votos [9] e, portanto, muito provavelmente esta proposta de lei não terá maioria, mas mostra como é que a situação política francesa pode ficar bloqueada nos próximos tempos”, explicou, evidenciando o facto de Emmanuel Macron não ter maioria absoluta no Parlamento, algo que é raro na Quinta República Francesa.

O nosso entrevistado relembrou ainda que o partido que está a ganhar com toda esta crise social e política é a extrema-direita, algo que também tem sido comprovado pelas sondagens.

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