Literatura de Annie Ernaux é "muito pertinente a nível sociológico"
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Ouvir - 12:15
Há uma semana, Annie Ernaux foi a primeira escritora francesa a ganhar o Prémio Nobel da Literatura. Criou um estilo particular de literatura, como um diário que seguiu todos os episódios da sua vida, em que contextualiza com a sua vida pessoal com o que se passava em França nesses momentos a nível político, social e cultural, "uma literatura pertinente", segundo o escritor português Nuno Gomes Garcia.
Se nas obras de outras autoras, nem sempre a igualdade entre homens e mulheres, a injustiça social e questões como o aborto são abordadas frequentemente, na obra de Annie Ernaux, a condição da mulher, a sua própria condição, foi o fio condutor que a levou a lançar-se na escrita e manter-se como uma das escritoras mais admiradas em França.
Um estilo que marca a os seus contemporâneos, mas também as gerações que se lhe seguiram, segundo o escritor português Nuno Gomes Garcia, instalado em França há vários anos, destacando-se por ser a primeira mulher francesa a alcançar esta distinção.
"Os franceses já ganharam vários prémios Nobel da Literatura, mas é, pela primeira vez, uma mulher francesa. E há pessoas que criticam, parece forçado, mas é o regresso à normalidade. Se as mulheres escrevem, se as mulheres lêem mais do que os homens - algo que está provado -, está na altura de elas ganharem prémios porque têm qualidade", indiocu o autor.
Para este escritor, a literatura de Annie Ernaux está impregnada das suas vivências, mas sobretudo das suas lutas, como a melhoria dos direitos das mulheres.
"É uma literatura muito pertimente do ponto de vista sociológico, especialmente no que diz respeito aos direitos das mulheres e ela própria admite que usa a literarura como forma de intervenção social, política e até ideológica", declarou.
Nos seus livros, Annie Ernaux retratou o quotidiano da sua família de classe popular, a sua descoberta da cultura e das diferenças de classe, o aborto, assim como diferentes relações amorosas, temas nem sempre discutidos publicamente na sociedade.
Nuno Gomes Garcia, instalado há vários anos em França, lançou recentemente em França a versão em francês, com escrita inclusiva, do seu romance "Domesticação", que fala de um mundo utópico, onde as mulheres dominam a sociedade.
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