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Vida em França

5 semanas de mobilização anti-passe sanitário em pleno verão em França

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Em França, continua a contestação à extensão do passe sanitário, apesar de ter sido validada inclusivamente pelo conselho constitucional e ter entrado em vigor desde o passado dia 9 de Agosto. 

Manifestação anti-passe sanitário no passado dia 17 de Julho de 2021 junto ao museu do Louvre, em Paris.
Manifestação anti-passe sanitário no passado dia 17 de Julho de 2021 junto ao museu do Louvre, em Paris. © REUTERS - Pascal Rossignol
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Nas últimas semanas, tem sido obrigatório ter em mãos esse passe, o certificado de vacinação completo ou então um teste negativo à covid-19 com menos 72 horas, para viajar para o exterior, ir a museus, teatros e cinemas. Mas agora, desde há um pouco mais de uma semana, o passe sanitário é necessário igualmente para ir ao café, ao restaurante, ao ginásio e aos grandes armazéns e centros comerciais. Ou seja, aperta-se o cerco em torno de quem não se tenha vacinado.

O governo francês refere procurar com esta medida incitar quem não se vacinou a fazê-lo, de modo a ter o máximo da população imunizada. Até agora, um pouco mais de 46 milhões de pessoas receberam uma primeira dose de vacina, ou seja, cerca de 69% da população francesa, sendo que uns 36 milhões de habitantes têm o quadro vacinal completo, ou seja um pouco mais de 53% da população.

Perante esta situação em que o governo tem estado a aplicar uma autêntica terapia de choque para incitar os mais hesitantes a vacinar-se, muitos têm sido aqueles que emitem questionamentos tanto sobre a eficácia das vacinas, como sobre a pertinência do alargamento do uso do passe sanitário.

Pela quinta vez consecutiva, no passado fim-de-semana, apesar de se estar em pleno período de férias de verão aqui em França, mais de 214 mil pessoas desceram à rua por todo o país para vincar a sua oposição ao passe sanitário.

Esta mobilização abrange franjas da população muito diversificadas, pessoas simplesmente indecisas e sem cor partidária, activistas ligados aos coletes amarelos, militantes políticos, alguns deles ligados à extrema-direita, como é o caso de Florian Philippot, ou adeptos das teorias da conspiração, alguns deles com slogans anti-semitas e negacionistas.

Como se reúnem estas faixas tão diferentes da população francesa? Para Luísa Semedo, filósofa luso-cabo verdiana, "há pessoas que não se sentem muito à vontade com essa junção, porque é demasiado árdua, vai da extrema-direita à extrema-esquerda. Então começam a tentar organizar manifestações diferentes, ter slogans diferentes. A extrema-esquerda, por exemplo, está a tentar demarcar-se de alguma forma da extrema-direita, apesar de haver ali um objectivo comum."

Ao referir-se especificamente ao facto de o líder de esquerda Jean-Luc Mélenchon, candidato declarado às presidenciais do ano que vem em França, não se ter abertamente envolvido nestas manifestações, apesar de militantes do seu partido terem tecido alertas sobre o carácter a seu ver liberticida do dispositivo imposto pelo governo, a filósofa considera que "seria extremamente prejudicial para Jean-Luc Mélenchon estar a manifestar com Philippot. Quem tem mais a perder nisto é Jean-Luc Mélenchon. Por isso é que ele e outros tentam não se juntar a isso apesar de, nas suas intervenções, apoiar de alguma forma estas manifestações".

Ao analisar a forma como as autoridades têm lidado com este movimento social, Luísa Semedo recorda que quando se deu a onda de contestação dos "coletes amarelos" em 2018, havia "uma maneira de gerir muito autoritária, houve imensa violência policial e a própria polícia hoje diz que mudou de maneira de fazer, até porque é preciso ter em atenção a questão de haver muitas famílias, muitas crianças nas manifestações". Daí que na óptica da filósofa, as autoridades têm tido mais cuidado "para não haver imagens que sejam muito chocantes" na comunicação social.

Sobre o impacto que este fenómeno poderia ter na campanha para as presidenciais francesas, Luísa Semedo julga que este fenómeno poderá ter alguma influência. "Emmanuel Macron tem isso na cabeça, está a gerir isto já a pensar nas presidenciais, para que a contestação não se alargue muito", comenta a professora universitária.

De referir que desde já novas manifestações estão previstas em vários pontos do país no próximo sábado.

Entretanto, de acordo com os últimos dados disponibilizados no final do dia nesta quarta-feira 18 de Agosto, a França contabilizou mais de 28 mil casos suplementares de infecção e 112 óbitos provocados pela covid-19 no espaço de apenas 24 horas. Ao todo, a pandemia infectou mais de 6 milhões de pessoas e causou mais de 111 mil mortos no seio da população francesa.

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