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Economias

Covid-19: “A pandemia da pobreza” em França

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A crise sanitária acentuou “a pandemia da pobreza” e criou milhões de “novos pobres” em todo o mundo, nomeadamente em França. Oiça aqui um retrato social e económico de França em plena pandemia de Covid-19 com a economista Cristina Semblano.

Voluntários da associação Secours Populaire Français distribuem alimentos e produtos de higiene para estudantes carenciados, em frente à Universidade Paris VIII, em Saint-Denis, perto de Paris. 6 de Maio de 2020.
Voluntários da associação Secours Populaire Français distribuem alimentos e produtos de higiene para estudantes carenciados, em frente à Universidade Paris VIII, em Saint-Denis, perto de Paris. 6 de Maio de 2020. AFP - THOMAS SAMSON
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A França é um dos países mais ricos do mundo mas não conseguiu impedir que mais de um milhão de franceses caíssem na pobreza até ao final deste ano, juntando-se aos já existentes 9,3 milhões. Em Paris, há estudantes universitários a passar fome e pessoas que só comem uma refeição por dia.

Neste programa, debruçamo-nos sobre a situação social e económica da França, com a economista Cristina Semblano.

09:51

A "pandemia da pobreza" - Entrevista à economista Cristina Semblano

É um dos sintomas muito importantes. Podemos falar até na pandemia da pobreza”, começa por considerar Cristina Semblano, ressalvando que “a pobreza não foi provocada pelo coronavírus nem pelas medidas sanitárias decorrentes do coronavírus”, mas que foi simplesmente “amplificada” porque “já existia uma extensa pobreza e desigualdades na repartição do rendimento antes desta pandemia”.

Porém, a situação foi agravada e fala-se cada vez mais nos “novos pobres” vítimas colaterais da pandemia da Covid-19. Pela primeira vez em 20 anos, a pobreza extrema vai aumentar este ano. De acordo com um relatório do Banco Mundial publicado em Outubro, entre 88 milhões e 115 milhões de pessoas vão passar a fazer parte deste patamar em que se vive com menos de 1,90 dólares por dia (1,62 euros). Em função do nível da recessão, o número total de pessoas a viver na miséria em 2021 poderá ser de 150 milhões.

É evidente que esta pandemia e a forma como ela foi gerida vai provocar novos pobres”, resume a economista.

Em França, 2,2 milhões de pessoas vivem com menos de 708 euros por mês, algo que para o Observatório francês das Desigualdades é “uma miséria” tendo em conta que se trata de “um dos países mais ricos do mundo”. Em 2018, a França tinha 9,3 milhões de pessoas a viver abaixo do limiar da pobreza e as associações de caridade avisam que o número pode subir em um milhão até ao final do 2020. O PIB deve cair 10% este ano e, em termos de emprego, em Setembro o número de desempregados aumentou 360 mil e até ao fim do ano o aumento deve situar-se entre 800 mil a 900 mil.

“Há novos pobres que são pessoas que a pandemia arrastou para a pobreza. São pessoas que afirmam só comer uma refeição por dia. Os pedidos de ajuda alimentar explodiram, a distribuição de ajuda alimentar também tem aumentado muito”, acrescentou.

Nas cidades, a pobreza é mais visível e “atinge particularmente os jovens”, como jovens trabalhadores e estudantes que tinham trabalhos precários ou não declarados que desapareceram com as restrições causadas pela pandemia. “Aqui na Cidade Universitária de Paris que está a um quilómetro de minha casa, há estudantes com fome que recorrem às ajudas alimentares do Socorro Popular e outras associações.

Para Cristina Semblano, em vez do plano de retoma económica de cem mil milhões de euros se basear nas “ajudas públicas às empresas” em França, este deveria antes direccionar-se para ajudar as famílias e para os mais vulneráveis.

Esta pandemia veio mostrar todas as deficiências estruturais destes países governados pelo neoliberalismo. Apesar disso, a linha continua a ser a mesma e se continuar a mesma é evidente que o número de pobres, o número de pessoas precárias, a incerteza da situação das pessoas vai ser cada vez maior", alerta a economista que ensina na Universidade Paris 3 Panthéon Sorbonne.

 

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