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"Angola nem devia ter entrado na OPEP", diz economista Yuri Quixina

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Angola anunciou a 21 de Dezembro a sua saída da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP), devido às quotas de produção impostas pela organização. Para o economista angolano Yuri Quixina, Angola, "nem devia ter entrado na OPEP" e a saída da organização será benéfica para a produção petrolífera do país. No entanto, esta decisão "terá, também, as suas consequências".

Angola foi admitida como membro de pleno direito do grupo petrolifero OPEP em 2007, e 16 anos mais tarde, o país decicide retirar-se da organização, devido às divergências de ambição a nível das quantidades de produção petrolífera e para "se concentrar nos seus próprios objectivos".
Angola foi admitida como membro de pleno direito do grupo petrolifero OPEP em 2007, e 16 anos mais tarde, o país decicide retirar-se da organização, devido às divergências de ambição a nível das quantidades de produção petrolífera e para "se concentrar nos seus próprios objectivos". REUTERS/Nick Oxford/File Photo
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O ministro dos Recursos Minerais, Petróleo e Gás angolano, Diamantino Pedro Azevedo, explicou que a decisão, governamental, "não foi tomada de ânimo leve", mas era a única via possível, já que as exigências da OPEP não correspondem aos interesses angolanos. 

A OPEP impôs uma produção de 1 milhão e 110 mil barris por dia, muito abaixo dos 1 milhão e 180 mil barris que Angola quer produzir.

Angola foi admitida como membro de pleno direito do grupo petrolifero OPEP em 2007, e 16 anos mais tarde, o país decicide retirar-se da organização, para "se concentrar nos seus próprios objectivos", como avançou o ministro dos Recursos Naturais à televisão pública TPA. 

"Desde que entrou na OPEP, Angola só assistiu ao declínio da sua produção"

Para o economista angolano Yuri Quixina, Angola, que está na sua fase "embrionária" de extracção petrolífera, já devia ter saído da organização "há muito tempo", para ter maior liberdade. 

Angola nem devia ter entrado na OPEP, por duas razões. A primeira é que estávamos ainda a sair do conflito militar e era a oportunidade de organizarmos a nossa própria indústria. Nem tínhamos empresas angolanas a explorar petróleo, como até agora aliás, não temos grandes empresas nacionais a explorar petróleo, temos a Sonangol mas também não explora com grande capacidade, ao contrário das grandes empresas nacionais nos países árabes. A produção era feita por empresas estrangeiras 

Como não temos ainda um sector petrolífero muito desenvolvido, estamos a produzir muito abaixo das nossas capacidades. Com a entrada na OPEP, Angola só assistiu ao declínio da produção. houve uma queda de investimentos. A maior parte das empresas começaram a desacreditar muito na economia petrolífera em Angola, tendo em conta as limitações e as regras estabelecidas pelo grupo.

O economista realça que Angola nunca passou da taxa de crescimento económico de 10% com a OPEP e, segundo ele, Angola ganhou em experiência. A imagem do país a nível internacional também beneficiou da participação na organização, mas "do ponto de vista do lucro, Angola só perdia dentro da OPEP". 

Respeitar limites de produção num dos sectores que dá os melhores resultados do ponto de vista do lucro,"não faz sentido" num país que se debate com uma crise e altos níveis de desemprego, avança Yuri Quixina.

Segundo o economista, "os ganhos que Angola devia ter tido dentro da OPEP, Angola pode também os ter fora da OPEP", devido à vantagem que recolhem os países não-membros. "Quando a OPEP corta na produção para aumentar os preços, isso beneficia també àqueles que estão fora do cartel".  

"Um dos inimigos é a Arábia Saudita"

Mas nem tudo são vantagens. O economista admite que, com esta decisão, surge a ameaça de um possível boicote por parte da Arábia Saudita, peso pesado do cartel. 

Um dos inimigos é a Arábia Saudita. Ganhámos um inimigo de peso, porque a Arábia Saudita pode boicotar as nossas vendas. Eles podem vender aos clientes de Angola a preços mais baixos ainda. Quando a Rússia não quis cortar na produção, o que é que [os países do Golfo] fizeram ? Aumentaram a produção, para vender petróleo a preços mais baixos aos clientes da Rússia. O preço baixou, e a Rússia teve que entrar na Opep+. 

A Arábia Saudita tem sempre a sua arma, a de inundar o mercado para fazer com que os outros concorrentes entrem no cartel.  

Quanto à questão da transição energética, em aparente contradição com a ambição angolana de aumentar a extracção e produção petrolífera, o economista angolano considera que seria um erro "caminhar já para as energias renováveis". São energias que exigem "muito capital", e considerando a dívida externa do continente africano, seria "um suicídio enorme". 

"A liberdade é uma planta rara e delicada", conclui Yuri Quixina, aludindo às capacidades aumentadas que Angola terá doravante, podendo tomar decisões de forma unilateral. 

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