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"Esperemos que a destruição possa trazer um raio de luz à Líbia"

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Dividida pela guerra civil desde 2011, a Líbia foi assolada esta semana por inundações que causaram milhares de mortos e desaparecidos na cidade de Derna, junto ao Mediterrâneo. Este desastre natural é agravado pela instabilidade política no país, com a ajuda humanitária que chega de outros Estados, sempre com interesses particulares na Líbia como destacou Ivo Sobral, coordenador de mestrado de Relações Internacionais na Universidade de Abu Dhabi, em entrevista à RFI.

A cidade de Derna, a 290 quilómetros de Benghazi, ficou destruída.
A cidade de Derna, a 290 quilómetros de Benghazi, ficou destruída. © Press Office of Libyan Prime Minister / AFP
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Na Líbia, as inundações na cidade de Derna que levaram ao rebentamento das barragens, chovendo durante algumas horas aquilo que deveria chover durante um ano e meio, causaram uma destruição massiva nesta cidade de 100 mil habitantes, onde se estima que cerca de um quarto da população tenha desaparecido. Há já cerca de quatro mil mortos confirmados, mais de 10 mil desaparecidos e 30 mil pessoas ficaram sem casa.

Este cenário assustador acontece num país dividido politicamente, com dois Governos que controlam diferentes partes do território e onde as infraestruturas não têm qualquer qualquer tipo de manutenção desde o início da guerra civil em 2011, com muitos actores internacionais a tentarem agora intervir para prestar ajuda, mas também influenciar a região, como explicou Ivo Sobral, coordenador de mestrado de Relações Internacionais na Universidade de Abu Dhabi, em entrevista à RFI.

"Desde 2011 não existe um Governo que faça a manutenção básica de infraestruturas fundamentais como pontes, estradas, viadutos e, neste caso, de barragens que estavam sem manutenção há 12 anos", explicou o professor universitário.

Com pelo menos dois Governos, um que actua na parte ocidental do país, com sede em Tripoli e dirigido por Mohamed al-Menfi e outro na parte Leste, também apelidado como o Governo de Tobruk, liderado por Khalifa Haftar, desde 2011 há "um desgoverno" na Líbia.

"Há uma divisão, com dois governos oficiais, um desgoverno completo porque existem divisões entre a zona costeira da Líbia e o interior, que é muito complicado, com um domínio tribal específico onde não existe Estado. Na costa, existem dois Governos, mas depois existe a pequena criminalidade, que começa a ser grande, que vive da exportação e facilitação de imigração ilegal para a Europa", indicou.

Para este académico, este desastre pode ajudar a aproximar estas duas partes do país, nem que seja para organizar no terreno a ajuda internacional que está a chegar.

"O que está a sair [do desastre] é uma maior cooperação, mas esperemos que a destruição, o mal, possa trazer um raio de luz à Líbia que precisa de pacificação e unificação ou pelo menos diminuir a hostilidade latente que existia entre as duas partes. Esta ajuda tem de passar pela manutenção de estradas, por uma série de iniciativas logísticas para receber este grande fluxo de ajuda que está a surgir do Médio Oriente e da Europa", declarou.

Também a ajuda que está a chegar ao terreno é um ponto de concorrência internacional, com o Egipto, vizinho da Líbia, interessado em que o desastre não se alastre às suas fronteiras, e Turquia a ajudar para tentar influenciar esta área geográfica que no passado já lhe pertenceu.

"A própria ajuda é também um foco de competição. A Argélia recentemente enviou ajuda humanitária, os países do Golfo também e o próprio Egipto e a Turquia também. A ajuda em si já é um testemunho de todo o tipo de xadrez competitivo geopolítico nesta área", explicou.

Também os Emirados Árabes Unidos têm acorrido a este desastre, movimentando vários recursos, como presenciou Ivo Sobral.

"Este desastre está a ser visto com muita consternação, que obrigou os Emirados Árabes Unidos a olhar para a Líbia e activar uma série de serviços e capacidade aéreas imediatamente enviadas para a Líbia. E recentrou as atenções na Líbia, que estava um pouco esquecida, nesta encruzilhada e há de novo uma série de preocupações dos Emirados em socorrer e estabilizar a zona", concluiu.

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