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COP26 "não trava colapso ambiental"

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Terminou este fim-de-semana a cimeira do clima das Nações Unidas, em Glasgow, no Reino Unido, com a aprovação do texto final, 26 horas depois do previsto. O investigador em alterações climáticas e activista do Climáximo, João Camargo, considera que os resultados da COP26 são muito poucos e alerta para o risco das próximas cimeiras se realizarem no Egipto e nos Emirados Árabes Unidos.

Terminou este fim de semana a Cimeira do clima das Nações Unidas, em Glasgow, no Reino Unido.
Terminou este fim de semana a Cimeira do clima das Nações Unidas, em Glasgow, no Reino Unido. REUTERS - YVES HERMAN
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"O buraco fica cada vez maior entre a realidade e as promessas. A nível social há um divórcio total com a sociedade civil, uma rejeição generalizada  das perspectivas de justiça social, climática, que são reivindicadas pelos movimentos sociais, em particular pelos países mais pobres. O anúncio que as duas próximas cimeiras vão ser no Egipto e na Arábia Saudita representa o divórcio definitivo porque vai haver uma total impossibilidade da sociedade civil contestar. O que significa, pelos menos para o Movimento pela Justiça Climática, que esta foi a última COP", defendeu.

Questões essenciais, que permitiriam cumprir os 1,5 graus celsius de Paris, foram empurradas para a cimeira de 2022. João Camargo refere que já se perdeu a esperança de que estas cimeiras encontrem a solução para a crise climática.

“Ninguém tem uma grande fé nos processos da COP para resolver a crise climática. Desde o protocolo de Quioto, o Acordo de Paris, todos eles marcham perante contínuo aumento de emissões. Aliás, durante a COP foram anunciados novos projectos para mais exploração de combustíveis fósseis (...) Tudo é feito para não tocar nos interesses da indústria fóssil, explicou.

O pacto climático de Glasgow prometia trazer algumas novidades sobre a eliminação do carvão na produção eléctrica, mas a intenção ficou pelo caminho por imposição da Índia que resolveu, à última da hora, substituir a expressão "fim progressivo" por "redução progressiva".

O investigador lembra que esta declaração abrangia apenas o carvão, deixando o petróleo e o gás, e que a posição da Índia revela uma disputa entre potências regionais e mundiais sobre quem é que pode continuar a lucrar com estas “indústrias suicidas”.

“A Índia ainda puxa pela continuação da indústria do carvão. Os Estados Unidos puxam pela continuação do petróleo e gás e, entre eles, vão garantindo uma espécie de pacto suicida para todos nós”, defende. 

Os presentes em Glasgow instaram, segundo o documento aprovado, os países desenvolvidos  a duplicarem o financiamento climático para a adaptação às alterações dos países mais pobres. Uma decisão que provocou alguma frustração nos países  em vias de desenvolvimento, que esperavam mais apoio.

“São os países que menos contribuíram para a crise climática. São aqueles que sofrem a maior parte dos impactos, por falta de infra-estruturas, falta de capacidade dos próprios Estados de lidar com a degradação mais imediata dos seus territórios, e são aqueles a quem são vedadas promessas que foram feitas desde Copenhaga. Desde a COP15 foram prometidos mil milhões de euros por ano -nunca foi cumprido- e voltou a reiterar-se agora que não vai ser cumprido para mitigação e adaptação”, reconhece João Camargo.

Para o activista esta cimeira mostrou que os processos institucionais não serão capazes de travar o colapso climático, essa missão terá que ser travada pela sociedade civil. 

“Se fosse há uns anos ainda poderíamos falar de inconsciência. Neste momento há uma decisão consciente e reiterada, por parte da elite deste planeta, de nos deixar colapsar para termos mais uma década ou duas de riqueza obscena. Vivemos num sistema que provou à sociedade a sua insanidade. Hoje, a maior esperança que há, para travar o colapso climático, não pode residir nos processos institucionais. O Movimento pela Justiça Climática vai ter de escalar drasticamente a sua capacidade de acção para poder resolver o que não foi feito em 30 anos de negociação”, concluiu.

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