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Ciência

COP 28: Lídia Brito defende importância da ciência para fazer face às alterações climáticas

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Decorreu, à margem da COP 28, um evento, no pavilhão de Moçambique, sobre Ordenamento do Território e Resiliência Climática. A participar no encontro esteve a moçambicana Lídia Brito, recentemente nomeada diretora-geral adjunta da UNESCO para as ciências naturais exactas. A antiga ministra do Ensino Superior de Moçambique sublinha a importância da ciência para fazer face às alterações climáticas.

Mesa redonda sobre Ordenamento do Território e Resiliência Climática, na qual participou Lídia Brito, diretora-geral adjunta da UNESCO para as ciências naturais exatas.
Mesa redonda sobre Ordenamento do Território e Resiliência Climática, na qual participou Lídia Brito, diretora-geral adjunta da UNESCO para as ciências naturais exatas. © Cristiana Soares
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A directora-geral da UNESCO, Audrey Azoulay, nomeou, no mês de Novembro, Lídia Brito, para o posto de directora-geral adjunta da UNESCO para as ciências naturais exactas. A antiga ministra do Ensino Superior, Ciência e Tecnologia de Moçambique (2000-2005) é especialista em estudos florestais e é reconhecida internacionalmente pelo desenvolvimento de políticas científicas, tecnológicas e de inovação, essencialmente em África.

Durante a COP 28, que decorre até hoje, 12 de Dezembro, no Dubai, Emirados Árabes Unidos, Lídia Brito integrou um painel sobre Ordenamento do Território e Resiliência Climática. O evento teve lugar no pavilhão de Moçambique.        

Em entrevista à RFI a antiga ministra do Ensino Superior, Ciência e Tecnologia de Moçambique sublinha a importância da ciência para fazer face às alterações climáticas, tanto na prevenção como na mitigação e adaptação. 

A ciência tem vários tipos de contributos em relação às mudanças climáticas e à possibilidade de mitigação e adaptação.

A primeira, é a questão da vulnerabilidade e dos riscos. Portanto, nós hoje temos metodologias e tecnologias que nos permitem fazer uma avaliação do risco às mudanças climáticas de uma maneira muito mais profunda, muito mais detalhada e, portanto, ajuda a preparar-nos a ter sistemas de alerta prévio a termos nas comunidades e a construir resiliência nas comunidades, porque sabemos que tipo de riscos é que as várias zonas em enfrentam.

Esta parte do risco está ligada ao monitoramento e à análise de dados.

Depois há a necessidade de buscar soluções mais sustentáveis. A ciência também pode trazer soluções que permitam a mitigação ou que se faça uma melhor adaptação às mudanças climáticas e ao seu impacto.

Por exemplo, o clima está a mudar, temos zonas que estão mais secas, mais quentes, tudo o que a ciência traz em termos de comida, produção, produtos alimentares e como, através da genética, se pode adaptar às mudanças no clima ou a introdução de espécies que podem ter bastante melhor rendimento.

São áreas em que a ciência contribui no quotidiano na vida das pessoas, além da própria contribuição da ciência e, em particular, da ciência básica no desenvolvimento das grandes tecnologias que depois nos ajudam a monitorar e até intervir em casos, quando isso é possível.

A outra área que eu acho que a ciência também traz às comunidades, aos países, ao mundo, é a capacidade de olhar para as coisas holisticamente, e isso é uma grande transformação da ciência.

Hoje já falamos mais de ciência interdisciplinar, multidisciplinar, porque os desafios que temos com as mudanças climáticas são desafios multidimensionais.

A Unesco desenvolve actualmente vários projectos em Moçambique, entre eles uma rede de sistemas de alertas colocado no terreno depois da passagem devastadora do ciclone Idai.

Um projecto conjunto entre Moçambique e o Zimbabué nas bacias dos rios Púnguè , Búzi  e Save, de forma a evitar a repetição da devastação provocada pelo ciclone Idai, que em Março de 2019 arrasou o centro do pais, levando ao transbordo dos rios, inundações, deslizamento de terras, perdas de infra-estruturas e e centenas de mortos. 

Por causa do Idai, começamos a trabalhar com o Zimbabwe para termos os sistemas de alerta prévio nos rios e trabalhando com as comunidades e com as rádios comunitárias de maneira que pudéssemos garantir que o que se passou durante o Idai não se repita de novo.

Apesar de termos sistemas bastante sofisticados, que têm a ver com os satélites, temos também sistemas mais simples que são operados pelas próprias comunidades. 

O que nós estamos a criar é este conceito de observação e de monitoria e acção em função de uma mudança que pode indicar que vai ocorrer algum tipo de desastre que pode pôr em perigo a vida das pessoas.

As consequências da passagem do ciclone Idai assumiram uma dimensão ainda maior devido “ao mau ordenamento do território e a mudanças que já estavam a ocorrer, mas que não estavam integradas nesse planeamento e nesse ordenamento territorial."

Em Julho de 2022, o Parque das Quirimbas foi declarado Reserva da Biosfera, durante a Trigésima Sessão do Conselho Coordenador do Programa “Homem e a Biosfera”, trata-se de um estatuto atribuído a áreas protegidas que cobrem porções de ecossistemas terrestres ou costeiros e que cumprem requisitos, como a conservação e o uso sustentável dos elementos da biosfera, particularmente a diversidade biológica.

Sobre a Biosfera das Quirimbas temos estado a trabalhar com o Governo moçambicano, com as autoridades locais, mas também com as autoridades que gerem a Biosfera das Quirimbras.

Primeiro na aprovação do plano de gestão da própria reserva, trata-se de uma reserva grande, e diversa, que vai desde a costa até ao interior. Houve bastante assistência técnica e apoio a Moçambique para poder ter um plano de 10 anos que fosse, portanto, aceite pelo conselho.

Temos os programas de observação das areias, que é um programa de ciência cidadã que promove a monitoria das costas e as mudanças nas zonas costeiras através dos sistemas escolares que existem na zona e isso permite aos estudantes usarem métodos científicos, instrumentos para monitorar as mudanças na zona onde vivem.

Eu acho que esse é um programa que pode educar também uma nova geração, a pensar de maneira científica. A ter um pensamento mais crítico, mais sistémico, poder perceber a complexidade, poder perceber as incertezas e trabalhar num ambiente de incertezas, mas mesmo assim, ser capaz de actuar usando metodologias científicas.

A moçambicana Lídia Brito, foi nomeada em Novembro passado para o posto de directora-geral adjunta da UNESCO para as ciências naturais exactas. A antiga ministra do Ensino Superior, Ciência e Tecnologia de Moçambique (2000-2005) é especialista em estudos florestais e é reconhecida internacionalmente pelo desenvolvimento de políticas científicas, tecnológicas e de inovação, essencialmente em África.

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