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Ciência

Em Cabo Verde, a associação Biflores caça nevoeiros para lutar contra a seca

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A associação cabo-verdiana Biflores vai "caçar nevoeiros" para lutar contra a seca e a falta de água na ilha Brava. O objectivo é, nomeadamente, reforçar a segurança alimentar, captando a água da atmosfera para utilizá-la na agricultura.

A associação Biflores recolheu, num dia de muito vento e nevoeiro, entre 300 a 400 litros de água graças a estes 'captadores de água'.
A associação Biflores recolheu, num dia de muito vento e nevoeiro, entre 300 a 400 litros de água graças a estes 'captadores de água'. © Dheeraj Jayant, director da associação Biflis
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A Biflores, uma associação cabo verdiana de conservação da biodiversidade, está a levar a cabo um projecto inovador para lutar contra a seca e a falta de água. O objectivo é duplo, como nos explica o director da associação, Dheeraj Jayant, reforçar os ecossistemas e melhorar segurança alimentar na ilha Brava de Cabo Verde. 

A ideia é lutar contra a seca e aumentar a segurança alimentar, porque na Brava a economia é principalmente rural, as pessoas praticam agricultura, criação de gado e pesca. Mas, infelizmente, devido à seca que sofremos há 20 anos, é muito difícil praticar essas actividades. 

Procuramos então possibilidades de complementar a quantidade de água através da captação dos nevoeiros, nas zonas altas da Brava. É uma forma de preservar o ambiente mas também de dar continuidade à agricultura e à criação de gado. 

Os períodos de seca, cada vez mais intensos, são também uma causa do abandono da agricultura, que por sua vez, leva à emigração das populações. 

Captadores de água simples e eficazes 

Através do projecto da Biflores, a água é canalizada para a agricultura e para a criação de gado, através de estructuras que captam a água sem grandes necessidades tecnológicas. Esses 'captadores de água', Dheeraj Jayant descreve as estructuras utilizadas como "um sistema muito simples, com dois postes de madeira e uma rede de condensação". 

Quando bate na rede, o nevoeiro condensa, transformando-se em água que será, depois, canalizada num tanque.

Mas, para caçar nevoeiros, é preciso que haja nevoeiros e todos os locais não são adaptados à prática.

São precisas duas condições: vento e nevoeiro, portanto em zonas altas. As zonas altas da Brava têm essas condições quase o ano inteiro. Já fizemos uma parceria com o ministério da agricultura e do ambiente num projecto em que conseguimos captar entre 300 a 400 litros de água num dia com boas condições, ou seja muito nevoeiro e vento. 

Captador de água dos nevoeiros "clássico".
Captador de água dos nevoeiros "clássico". © Dheeraj Jayant, director da associação Biflores

O objectivo, a longo prazo, é reproduzir este projecto noutras ilhas do arquipélago. Actualmente, três membros da associação Biflores, incluindo Dheeraj Jayant, encontram-se na ilha das Canárias, para onde viajaram no âmbito de um projecto financiado pela União Europeia, o Life Nieblas (Nieblas que, em espanhol, quer dizer nevoeiro), para aperfeiçoar esta técnica de captação de água da atmosfera.

O projecto Life Nieblas começou em 2021 e optimizou a tecnologia já existente. É um projecto financiado pela comissão europeia e o Governo Autónomo das Canárias para estudar o potencial de captar água dos nevoeiros para a reflorestação. Estamos a participar no intercâmbio, com uma vertente teórica e uma vertente prática em que vamos para o terreno, todos os dias.

Por enquanto, a associação Biflores está a organizar um projecto-piloto, numa área de 20 hectares, na Brava. A equipa vai analisar a capacidade dos captadores de água, para saber se é possível reproduzir a prática numa escala maior. 

Temos intenção de partilhar essas informações com a Direcção Nacional do Ambiente e parques naturais. As ilhas como Santo Antão ou São Nicolau têm todo o potencial para captar água, fazer a reflorestação, preservação das espécies e aumentação da resiliência contra a seca. 

Apesar de ser naturalmente optimista, Dheeraj Jayant não deixa de ser realista, e portanto, assinala que os desafios que se apresentam são vários. 

São desafios importantes, desafios logísticos como a disponibilidade do material e equipamento no mercado local. Talvez teremos que comprar o material na Europa e organizar o transporte, o que pode sair caro. Por outro lado, Brava é uma ilha muito isolada mesmo dentro do rquipélago cabo-verdiano e é difícil de acesso. 

Outro ponto é que não temos dados históricos sobre o clima na ilha Brava, então é mais difícil saber onde haverá mais nevoeiro e vento. 

A associação Biflores trabalha em vários outros projectos, desde reflorestação, a projectos de agroecologia com agricultores locais, e, na área marinha, com comunidades de pescadores e outras organizações para a designação de áreas marinhas protegidas. 

Captador de água do projecto Liufe Nieblas, nas Canárias.
Captador de água do projecto Liufe Nieblas, nas Canárias. © Dheeraj Jayant, director da associação Biflores
Captador de água "individual", na Ilha Brava.
Captador de água "individual", na Ilha Brava. © Dheeraj Jayant, director da associação Biflores

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