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Ciência

"A vida não termina com um diagnóstico": Luzimira João, da Liga Angolana contra o Cancro da Mama

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O movimento mundial conhecido por “Outubro cor de rosa”, nasceu nos Estados Unidos, nos anos 1990, com o intuito de mobilizar a sociedade para a luta contra o cancro da mama. O cancro da mama é o tipo de cancro mais comum entre as mulheres, que representam 99% dos casos diagnosticados. Mas o cancro da mama afecta também os homens! 

A exposição "Arte ao Peito", criada pela Liga Angolana Contra o Cancro (LACC) decorre até 13 de Novrembro de 2023 no Memorial Agostinho neto em Luanda. Luzimira João é Presidente da LACC.
A exposição "Arte ao Peito", criada pela Liga Angolana Contra o Cancro (LACC) decorre até 13 de Novrembro de 2023 no Memorial Agostinho neto em Luanda. Luzimira João é Presidente da LACC. © LACC
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Em 2020 foram diagnosticados 2,3 milhões de casos e 685 000 pessoas morreram do cancro da mama, segundo os últimos dados da Organização Mundial da Saúde. 

Como prevenir o cancro da mama? O movimento Outubro Rosa pretende, antes de mais, sensibilizar para a importância da prevenção e do diagnóstico precoce, assim como apoiar a investigação nesta área. 

Luzimira João é Presidente da Liga Angolana Contra o Cancro (LACC), foi ela própria diagnosticada aos 29 anos, e insiste na importância da deteção da doença, até porque porque a particularidade do tumor maligno (ou cancro) é que  alastra para outros órgãos. 

"Até 95% de possibilidade de cura quando o cancro da mama é diagnosticado precocemente"

Quanto mais precoce o diagnóstico, maior a possibilidade de cura. "Há até 95% de possibilidade de cura quando o cancro da mama é diagnosticado precocemente", explica Luzimira João. Evita-se assim a propagação do tumor a outros órgãos do corpo e o desenvolvimento de outros tipos de cancro

É por essa razão que Luzimira João considera o diagnóstico como a condição para se poder viver "com qualidade de vida" durante muitos anos.

Cancro da mama é o mais comum nas mulheres, a nível mundial 

Em Angola, como no resto do mundo, o cancro da mama é o tipo de cancro mais diagnosticado, segundo os dados do Centro Nacional de Oncologia.

O primeiro passo a tomar para lutar contra o cancro da mama passa por adoptar um estilo de vida saúdavel, recomenda Luzimira João.

Adoptar um estilo de vida saudável, alimentar-se da melhor forma possível, evitar o sedentarismo e o consumo excessivo de alcool são nossos aliados no combate ao cancro.

A luta de Luzimira João e as complicações do sector oncológico angolano

O tratamento depende não só do tipo de cancro da mama, como do nível de desenvolvimento em que se encontrava quando foi diagnosticado. No caso de Luzimira, o diagnóstico foi precoce e o tratamento começou com uma cirurgia: 

Fiz uma biópsia primeiro, para validaçõa do resultado. Depois fiz uma cirurgia conservadora mas depois de uma avaliação patológica, foi necessário proceder à remoção total da mama e a oito ciclos de quimioterapia. Tinha indicação para fazer uma radioterapia mas era um tratamento indisponível, na altura, em Angola. 

Para poder ser tratada, Luzimira João viajou então até Portugal, mas devido a questões burocráticas que demoraram muito tempo, quando chegou a Portugal, perdeu o critério de tratamento médico: "Até hoje, infelizmente, não fiz a radioterapia porque perdi a indicação deste tratamento porque existe um tempo limite entre um tratamento e outro". 

A história de Luzimira enquanto paciente oncológico revela uma série de complicações no sistema de saúde angolano.  

Infelizmente, ainda não temos todos os recursos para fazer face ao tratamento. Eu tive a sorte de ser diagnosticada precocemente. Mas entre o diagnóstico e o tratamento, tive vários obstáculos, como a indisponibilidade da radioterapia em Angola. Outros exames, como o de imuno-histoquímica, também não estavam disponíveis na altura e não os pude fazer. 

"Os recursos de que dispõe a oncologia neste momento não fazem face à demanda que se impõe", alerta. As dificuldades começam desde a falta de médicos especialistas, segundo a Presidente da Liga Angolana contra o Cancro da Mama, até à falta de recursos

O outro problema prende-se com a existência de apenas um hospital público que faz diagnósticos de cancro da mama em Angola, sediado em Luanda. 

Isso significa que há pessoas nas demais províncias do país que muitas vezes morrem sem terem acesso ao diagnóstico. Às vezes nem conseguem chegar até Luanda para ter acesso ao diagnóstico e, muitas vezes, quando chegam, já vêm com a doença muito avançada. 

"A vida não termina com um diagnóstico" 

Enquanto Presidente da Liga Angolana contra o Cancro, a primeira reivindicação de Luzimira João vai "directamente para o Governo de Angola"

Chamo a atenção para o que pode ser feito em prol da oncologia em Angola. [Precisamos de] uma legislação de protecção aos pacientes oncológicos, o que não vigora no nosso país, não consta na nossa Constituição. 

Enquanto pessoa e paciente oncológica, deixa a seguinte mensagem, para mulheres e homens, que representam 1% dos casos diagnosticados:  

Para todas as pessoas, não só para as mulheres, porque este é mais um tabú que se levanta, há 1% dos casos diagnosticados que atinge os homens. Para todos nós, o que quero deixar como mensagem é que se cuidem,  que adoptem um estilo de vida saudável. Prestem atenção aos sinais de alerta que o corpo envia. E para quem está acometido com a doença: a vida não termina com um diagnóstico. é um processo muto sofrido e difícil, mas é possível vencermos e vivermos com alguma qualidade de vida durante muito tempo.

A Liga Angolana Contra o Cancro participou na marcha de sensibilização contra o cancro da mama, realizada na Avenida Marginal em Luanda a 22 de Outubro. A Liga organiza também uma exposição chamada "Arte ao Peito" patente até dia 31 de Outubro no Shopping Avennida, em Luanda. 

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