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Guerra em Gaza

Israel sanciona oficiais de alto nível depois de morte de humanitários em Gaza

O exército israelita reconheceu uma "série de erros graves" depois da morte de trabalhadores humanitários estrangeiros visados por ataques aéreos e decidiu sancionar vários oficiais, o que provocou descontentamento na extrema-direita do país. 

Retratos dos sete trabalhadores humanitários mortos num ataque israelita em Gaza, a 1 de Abril de 2024.
Retratos dos sete trabalhadores humanitários mortos num ataque israelita em Gaza, a 1 de Abril de 2024. AFP - -
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O exército israelita afirmou na sexta-feira, 5 de Abril, que visava um "homem armado do Hamas" que estaria a disparar desde o telhado de um dos camiões de ajuda humanitária, quando matou sete trabalhadores humanitários da ONG americana World Central Kitchen (WCK) em Gaza, admitindo ter cometido uma série de "erros graves".

Depois destas declarações, a WCK solicitou a criação de uma comissão de inquérito independente. O Presidente norte-americano Joe Biden discutiu via telefone com o seu homólogo Benjamin Netanyahu e menos de 24 horas depois, o exército israelita publicava o relatório sobre o ataque. A investigação interna conduzida por Tsahal concluía admitindo "graves irregularidades" que poderiam ter sido evitadas. 

Os soldados responsáveis pelo ataque pensavam que os três veículos da organização humanitária World Central Kitchen transportavam membros do Hamas, o que não se averiguou, tratando-se de um erro de análise operacional, como indica o relatório. 

Foram demitidos dois oficiais do posto de coronel e comandante e adoptadas medidas para permitir a identificação nocturna dos automóveis pertencentes às organizações humanitárias. Vários outros oficiais terão também sido responsabilizados pela morte dos sete humanitários, uma australiana, um norte-americano, um polaco e três britânicos assim como um colaborador palestiniano.

No entanto, estas sanções foram mal recebidas pela ala mais à direita do governo israelita. Para o ministro supremacista da Segurança Nacional Itamar Ben Gvir, o exército israelita deve apoiar os seus soldados mesmo em caso de erro de identificação.

Israel promete entrada de mais ajuda humanitária no enclave, declarações consideradas "insuficientes" pelos líderes da ONU e UE

Cinco dias depois deste drama, Israel anunciou que iria permitir um aumento da entrada da ajuda humanitária na Faixa de Gaza, cedendo também às pressões norte-americanas, Joe Biden tendo evocado a possibilidade de condicionar o apoio a Tel Aviv a medidas "concretas" para fazer face à catástrofe humanitária em Gaza.

Israel prometeu então deixar entrar mais ajuda humanitária no território palestiniano, reabrindo temporáriamente o ponto de passagem de Erez, a norte do enclave, e o de Kerem Shalom, a sul.

No entanto, nenhum calendário de reabertura foi comunicado por Israel, e as modalidades da operação permanecem igualmente desconhecidas. 

"Espero que estas intenções sejam reais e rapidamente estabelecidas porque a situação em Gaza é absolutamente desesperada", reagiu o secretário-geral da ONU, António Guterres, que considera ainda insuficiente o anúncio por Israel de uma reabertura "temporária" de um ponto de passagem para o norte da Faixa de Gaza para o encaminhamento da ajuda humanitária. Opinião partilhada pelo Presidente do Conselho Europeu, Charles Michel: "Crianças e bebés estão a passar fome. São necessários esforços urgentes para acabar imediatamente com a fome como arma de guerra em Gaza", escreveu o governante na rede social X.

Desde o início de Janeiro, Tel Aviv não forneceu nenhuma autorização à agência da ONU de apoio aos refugiados palestinianos (UNRWA), principal actor humanitário no enclave palestiniano, para aceder à metade norte do território.

Divisões na sociedade israelita

Depois de seis meses de guerra em Gaza, as manifestações recomeçam em Tel Aviv e Jerusálem, exigindo o fim da guerra, o regresso dos reféns do Hamas, e mesmo, eleições antecipadas pondo fim ao poder de um governo de extrema-direita nacionalista e ultrareligioso que, ao ver da população, não os conseguiu proteger. 

Para um dos manifestantes, Ram Froman, do Forum Laico, um movimento que advoga pela laicidade em Israel, tudo está ligado: a guerra em Gaza, a colonização dos territórios palestinianos e o racismo. Segundo este advogado de profissão, os sionistas religiosos no poder estão a arrastar Israel para graves desvios autoritários: "Alguns estão convencidos de estar a travar uma guerra santa. Muitos oficiais e soldados pensam que estão a combater seguindo as vontades de Deus. Querem destruir Gaza. Pensam que devem colonizar Gaza. Eu pergunto-me se seguem a ordens dos seus comandantes, ou dos seus rabinos". 

De relembrar que a 5 de Abril, pela primeira vez, o Conselho dos Direitos do Homem da ONU exigiu o fim de toda e qualquer venda de armas a Israel, numa resolução onde consta o controverso termo de "genocídio". Não-vinculativa, esta resolução não deixa no entanto de ser a primeira tomada de posição deste género.  

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