Negociações em Istambul para desbloquear impasse no acordo dos cereais ucranianos
Retomaram as negociações, na Turquia, sobre o escoamento dos cereais ucranianos com a Rússia a assinalar que não está disposta a prolongar o acordo, que expira dentro de uma semana, se as suas exigências não foram cumpridas.
Publicado a:
Ouvir - 01:29
O acordo para o escoamento dos cereais ucranianos - assinado em Julho do ano passado pela Rússia, pela Ucrânia, pelas Nações Unidas e pela Turquia, está agora em perigo, depois da Rússia ter confirmado que não o vai prolongar para além de 18 de Maio, data da sua expiração.
Entretanto, nos últimos três dias, os oficiais russos presentes no centro de controlo dos navios, estabelecido em Istambul, e que inspecciona todos os cargueiros que entram ou saem do Mar Negro no âmbito deste acordo, pararam de inspeccionar cargueiros vazios que regressavam à Ucrânia para recarregar com cereais, causando uma enorme fila de espera, com mais de 60 barcos, à entrada do Bósforo. Segundo Moscovo, esses navios não regressariam a Istambul antes de 18 de Maio.
As exportações de cereais ucranianos representam cerca de 10% do mercado mundial do trigo, 15% do milho, e 50% do óleo de girassol, e o bloqueio naval russo aos portos ucranianos no Mar Negro após o início da guerra na Ucrânia fez disparar no ano passado os preços dos cereais por todo o mundo, ameaçando uma grave crise alimentar em muitos países.
Com a mediação da ONU e da Turquia, um acordo foi conseguido para escoar os cereais ucranianos através de um corredor seguro - um marco importante, não só porque este é ainda o único acordo assinado pelas partes beligerantes, como também porque as 30 milhões de toneladas já escoados para os mercados internacionais permitiram estabilizar os preços e afastar o espectro da fome - metade das necessidades do Programa Alimentar Mundial das Nações Unidas proveem de cereais ucranianos, por exemplo.
Ao abrigo do acordo, a Rússia podia também continua a exportar produtos alimentares e fertilizantes, mas Moscovo tem dito nos últimos meses que as sanções internacionais impedem a Rússia de concretizar estes objectivos, porque as seguradoras internacionais não estão dispostas a fazer os seguros para navios russos, ou porque os bancos russos não podem participar nas transacções internacionais. Moscovo exige, pois, o levantamento das sanções para permitir essas exportações.
Moscovo queixa-se também que a maior parte dos cereais ucranianos escoados não chegou aos países mais necessitados - de facto, uma larga fatia acabou em quatro países apenas, China, Espanha, Turquia e Itália.
O acordo tinha uma duração inicial de 4 meses, e foi depois prolongado duas vezes, até 18 de Maio, mas em Março os russos já tinham assinalado que aceitavam um prolongamento de dois meses apenas, após o qual cancelariam o mesmo, caso as suas pretensões não fossem resolvidas.
As negociações que começaram hoje em Istambul, e que continuam amanhã, procuram agora quebrar o impasse.
Ouça a Reportagem do nosso correspondente, José Pedro Tavares.
Reportagem Turquia 10/05/2023
NewsletterReceba a newsletter diária RFI: noticiários, reportagens, entrevistas, análises, perfis, emissões, programas.
Me registro