Primeira-ministra da Nova Zelândia demite-se porque "é humana"
A primeira-ministra da Nova Zelândia, Jacinda Ardern, apresentou a demissão, esta quinta-feira, justificando que deu “tudo o que podia e tanto tempo” quanto podia mas que “é humana” e que não tem “mais energia suficiente para quatro anos suplementares”. A chefe de Governo indicou que a sua demissão seria efectiva a 7 de Fevereiro e que depois o Partido Trabalhista votaria para designar o seu sucessor em três dias. As próximas eleições são a 14 de Outubro.
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“Sou humana. Os políticos são humanos. Damos tudo o podemos e o tempo que podemos e, depois, chega um momento. Para mim, chegou o momento. E quero muito voltar a passar tempo com a minha família", afirmou a primeira-ministra da Nova Zelândia, Jacinda Ardern, esta quinta-feira.
Jacinda Ardern anunciou que deixa o cargo a 7 de Fevereiro e que o Partido Trabalhista deve escolher, nos três dias seguintes, o seu sucessor. O vice-primeiro-ministro Grant Robertson já disse que não é candidato.
As próximas eleições são a 14 de Outubro e, até lá, Jacinda Ardern vai exercer o seu mandato de deputada. As sondagens mais recentes dão vantagem a uma coligação de centro-direita em detrimento do Partido Trabalhista, mas a primeira-ministra garantiu que essa não é razão para a sua saída. “Não saio porque acho que não podemos ganhar as próximas eleições, mas porque acredito que podemos e que o faremos”, afirmou, a nove meses das eleições legislativas. Após cinco anos e meio na chefia do Governo, Jacinta Ardern sublinhou que parte devido à grande responsabilidade que implica o cargo.
"Estes foram os mais plenos cinco anos e meio da minha vida. Parto porque um cargo tão importante implica responsabilidade. A responsabilidade de saber quando se é a pessoa certa para liderar, mas também para se saber quando não se é. Eu sei o que é preciso para este trabalho e sei que não tenho mais energia para o fazer plenamente. É tão simples quanto isso", resumiu.
Primeira-ministra da Nova Zelândia anuncia a sua demissão
"Jacindamania": De primeira-ministra mais jovem da Nova Zelândia a símbolo mundial
Em 2017, Jacinta Ardern chegou à chefia de um governo de coligação e, na eleição seguinte, três anos depois, levou o Partido Trabalhista de centro-esquerda a uma vitória esmagadora. Durante o seu mandato, foi confrontada com a pandemia de Covid-19, com uma dramática erupção vulcânica e com o pior atentado no país, em 2019, quando um supremacista branco matou 51 muçulmanos numa mesquita de Christchurch.
Jacinta Ardern impôs-se como uma das dirigentes incontornáveis do mundo. Foi a mais jovem primeira-ministra da Nova Zelândia e um símbolo de modernidade. O primeiro-ministro australiano, Anthony Albanese declarou, hoje, que ela é uma “ardente defensora da Nova Zelândia, uma fonte de inspiração” que “mostrou ao mundo como governar com inteligência e força”.
Jacinta Arden foi capa das revistas Vogue e Time e é extremamente apreciada no estrangeiro. Na Nova Zelândia também teve um longo e recorde período de graça e a imprensa do país chegou a falar em” Jacindamania”. A sua taxa de popularidade começou a diminuir, assim como a do seu partido, paralelamente à deterioração da situação económica do país, usada pela oposição de direita para recarregar baterias e ganhar força.
Há quem considere que a “Jacindamania” começou nas Nações Unidas, em 2018, quando ela apareceu na Assembleia Geral com o seu bebé, mostrando que se pode ser mãe e governar um país. Em 2018, ela foi a segunda primeira-ministra no mundo a ter um bebé durante o seu mandato, depois da paquistanesa Benazir Bhutto em 1990. A popularidade mundial foi aumentando e alguns media indicam que ela foi vista, a nível mundial, como a figura “anti-Trump”. A contribuir para a popularidade crescente esteve, também, a sua gestão rigorosa da pandemia de Covid-19, apontada pelo canal ABC como “uma masterclass de gestão de crise”. O jornal Guardian diz, mesmo, que ela se tornou na “primeira-ministra mais importante do pós-guerra” que conseguiu manter “um rosto sorridente” perante todas as crises.
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