Tunísia: Arranque das eleições legislativas antecipadas
Na Tunísia, decorre este sábado a primeira volta das eleições legislativas. Mais de nove milhões de eleitores são chamados às urnas. Os tunisinos votam para eleger um novo Parlamento com 161 deputados.
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Após anos de Constituição em Constituição e de presidente em presidente, realizam-se hoje, as primeiras eleições legislativas na Tunísia desde que o presidente Kaïs Saïed assumiu plenos poderes, num golpe de força a 25 de Julho de 2021.
A nova assembleia de 161 deputados (em vez de 217 nas eleições anteriores) substituíra a que Saïed havia destituído na sua chegada ao poder em 2021, após meses de bloqueios politicos desde a ditadura de Zine El-Abidine Ben Ali em 2011 durante a primeira revolta da Primavera Árabe.
Mas segundo a população e os partidos da oposição, estas eleições são consideradas uma "farsa". Os tunisinos dizem estar neste momento preocupados devido aos problemas económicos que o país atravessa. Uma situação que se traduz num dia a dia cada vez mais precário.
Há três anos, em 2019, durante as eleições presidenciais, a maioria dos jovens tinha votado em Kaïs Saïed. Mas, desta vez, estão divididos.
Na Tunísia, a taxa de desemprego dos jovens entre os 15 e 24 anos permanece estagnada a 38% e a migraçao irregular para a Europa aumenta constatemente. Este ano, chegaram a Itália mais de 16 000 migrantes tunisinos, um valor que contrasta com 14 342 o ano passado.
Os analistas receiam que possa existir uma participação muito baixa nestas eleições, apesar dos jovens terem sido incitados a votar.
Segundo um estudo da associação Lam Echaml, que contribui para a promoção da cidadania, 44% dos jovens eleitores dizem ir votar este sábado, ao contrário dos 38% que ainda permanecem indecisos.
A segunda volta esta prevista em Fevereiro ou Março de 2023, data ainda não definida.
Para Raul Braga Pires, politólogo arabista, estamos perante a legitimação da nova constituição. Para o nosso entrevistado, o que vai definir a credibilidade deste escrutínio é a taxa de participação, defendendo que o Presidente deverá sair "minorizado" destas eleições por não conseguir a adesão popular que pretenderia.
Obviamente, que o que esta a acontecer é uma legitimação da reforma constitucional da nova Constituição. Portanto, a Tunísia esta a dizer que está de volta à constitucionalidade. Neste sentido, deixou de haver dúvidas na comunidade internacional sobre o carácter e as intenções de Kaïs Saïed com esta reforma. O que vai avaliar a credibilidade destas eleições é a taxa de participação e é crível que a taxa de abstenção ande na casa dos 70%, que foi também a mesma taxa de abstenção do referendo à constituição de 25 de Julho. Eu creio que, perante um cenário destes, Kaïs Saïed sai não reforçado, mas minorizado porque não conseguiu esta adesão popular, tanto ao referendo à nova constituição, como a estas eleições. Há um grande apelo ao boicoto da parte da oposição e, portanto, como já houve para o referendo. A intenção é boa, mas muito provavelmente não vai ter um resultado. Ou seja, vai manter a clivagem entre o Presidente e a população.
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