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Indonésia

Jogador português na Indonésia viu "um cenário com nada a ver com futebol"

Pelo menos 125 pessoas morreram e outras 323 ficaram feridas ontem à noite depois de milhares de adeptos de futebol invadirem o estádio de Malang, no leste da ilha indonésia de Java, ao cabo de um jogo em que a equipa de Persebaya Surabaya derrotou o clube da casa, o Arema FC, por 3 golos a 2, algo inédito desde os últimos vinte anos.

Os tumultos no estádio de Malang provocaram pelo menos 125 mortos, na noite de 1 de Outubro de 2022.
Os tumultos no estádio de Malang provocaram pelo menos 125 mortos, na noite de 1 de Outubro de 2022. AP - Yudha Prabowo
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Estes resultados provocaram a fúria de adeptos que invadiram o estádio provocando um movimento de multidão e confrontos com a polícia que tentou dispersar as pessoas com gás lacrimogéneo.

Num país onde são frequentes incidentes ligados ao futebol, esta tragédia levou ao cancelamento do campeonato nacional da modalidade e gerou condenações em todos os quadrantes do desporto-rei, uma investigação tendo sido aberta para apurar o que sucedeu.

Sérgio Silva jogador português do Arema FC, a equipa que saiu derrotada do jogo de ontem à noite, teve como o resto da sua equipa que se refugiar nos balneários. Ele contou à RFI como vivenciou esses momentos.

"Foi uma situação horrível. Tínhamos um dérbi complicado, sabíamos que era um jogo complicado e de alto risco, mas quando se fala em 'alto risco' no futebol, não havia adeptos visitantes, poderia haver alguns protestos, mas nada de mortos, nem nada que se parecesse. Entretanto, acabou o jogo, nós perdemos. Costumamos dar uma 'volta de agradecimento' ao estádio. Ontem nem íamos fazer isso porque sabíamos que a situação poderia complicar-se. Fomos só perto de uma bancada a pedir desculpa aos adeptos", começa por contar.

"Entretanto, começaram a invadir dois ou três, mas pronto nada de mais. Depois vimos que estava a vir muita gente e -aí sim- fomos a correr para o balneário porque não sabíamos o que poderia acontecer. Barricamo-nos no balneário e pensamos 'pronto, estamos no balneário, acabou tudo, a polícia entra em acção'. Mas passados alguns minutos, começamos a ouvir muito alvoroço nos corredores do estádio, sem saber o que se estava a passar, até com algum receio porque não sabíamos se os adeptos nos queriam fazer mal ou queriam entrar pelo balneário adentro. Mas depois, começamos a perceber que os adeptos estavam era completamente desesperados, desesperados porque estavam em confrontos com a polícia. As pessoas estavam a passar por cima umas das outras e morreram esmagadas e foi muito difícil. Só soube isso depois", relata Sérgio Silva.

"Nós ficamos no balneário cerca de 4 ou 5 horas. Não durou isso tudo, mas só saímos de lá quando as pessoas foram evacuadas. Mas quando saímos do balneário, estava um cenário aterrador de carros da polícia incendiados, tudo queimado, rastos de destruição, corredores cheios de sapatilhas de pessoas, meias... um cenário com nada a ver com futebol", recorda o jogador.

Refira-se que segundo o ministro indonésio da Segurança o estádio de Malang estava lotado para além da sua capacidade, o governante afirmando que 42 mil bilhetes foram vendidos, quando o recinto pode apenas acolher 38 mil pessoas.

Esta não é primeira vez que os relvados são palco de tragédias desta natureza. Em 1989, movimentos de multidão no estádio Hillsborough, na Grã-Bretanha, resultaram na morte 97 pessoas e, em 2012, no estádio Port Said, no Egipto, morreram 74 pessoas. Num passado menos recente, em 1964, o estádio nacional de Lima, no Peru, foi palco de incidentes semelhantes com um balanço de 320 mortos.

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