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Irão

Adensam-se os protestos no Irão, dias depois da morte de Mahsa Amini

O Irão marca o sexto dia de manifestações na sequência da morte de Mahsa Amini, jovem mulher de 22 anos, num quartel policial onde estava detida por "uso de vestuário inapropriado". Segundo a agência de informação iraniana FARS, 17 pessoas já morreram desde o início dos protestos. Já a ONG Iran Human Rights faz outro balanço, falando em 31 mortos. 

As pessoas acendem um fogo durante um protesto pela morte de Mahsa Amini, uma mulher que morreu depois de ser presa pela "polícia de moralidade" da República Islâmica, em Teerã, Irã, 21 de setembro de 2022.
As pessoas acendem um fogo durante um protesto pela morte de Mahsa Amini, uma mulher que morreu depois de ser presa pela "polícia de moralidade" da República Islâmica, em Teerã, Irã, 21 de setembro de 2022. via REUTERS - WANA NEWS AGENCY
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Os Guardiões da Revolução expressaram hoje a sua solidariedade para com a família da jovem que morreu em detenção na semana passada, mas teceram advertências contra quem "procura tirar proveito da situação para desetabilizar o Irão."

Este corpo militar de elite do Irão exigiu em particular que a justiça lance acções contra "quem espalhar notícias falsas e rumores", numa altura em que as autoridades iranianas estão a enfrentar um alastramento dos movimentos de protesto por vários pontos do país.

Quarteis policiais e veículos das forças da ordem foram incendiados no início do dia em várias cidades, nomeadamente Teerão, a capital. As ligações à internet e as diferentes redes sociais estão perturbadas desde ontem.

Perante esta nova onda de protestos sem precedentes desde 2019, época em que a população desceu às ruas para protestar contra o aumento do custo de vida, manifestações em que tinham morrido cerca de 1.500 pessoas, o país enfrenta um novo período de incertezas.

Ao analisar a génese deste novo movimento de revolta, Dejanirah Couto, historiadora e especialista do Médio Oriente ligada à Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais de Paris, começa por destacar o facto de a morte de Mahsa Amini ter ocorrido numa província de maioria curda, uma zona com pretensões separatistas.

«A jovem que foi morta ou que morreu, não se sabe bem, é de origem curda e a zona de onde ela vem, que é uma zona tampão, é uma província limítrofe que tem algumas veleidades independentistas separatistas. A questão Curda no seu conjunto aparece pela primeira vez nesta conjuntura, mas dentro de um quadro iraniano. Porque até aqui tem sido num quadro turco, mas não, num quadro iraniano” sublinha a estudiosa.

Neste contexto, na óptica de Dejhanirah Couto, é difícil prever qual poderá ser o impacto da questão curda sobre a actual crise no Irão. Se as pretensões independentistas curdas entrassem no debate, passaríamos de uma situação "interna ao Irão" para algo mais regional e "para além das fronteiras do Irão", segundo a historiadora.

Noutro aspecto, ao descrever o Irão como "uma sociedade rural e profundamente conservadora”, ressalvando contudo algumas excepções, Dejanirah Couto, não deixa de apontar os limites que poderá ter este movimento de protesto em que as mulheres têm tido um papel preponderante.

«Há que enquadrar o movimento das mulheres nesta ideia de uma sociedade conservadora que é uma sociedade extraordinariamente regida pela parte masculina e portanto esses movimentos feministas, ou de jovens mulheres, têm algum poder nestes círculos restritos, mas eu não creio que tenham meios de tocar o conjunto todo da sociedade iraniana bastante masculina e bastante conservadora”, considera a estudiosa.

Além deste aspecto, «a sociedade está completamente fechada pelas forças policiais. Não se pode esquecer o papel das milícias do regime, que são extremamente importantes. Portanto, é aquilo que se pode dizer um regime que está verdadeiramente fechado a cadeado” refere ainda a universitária para quem é impossível mudar o regime "até que o regime se mude a si próprio".

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